PROFESSOR, UMA LEMBRANÇA…
“Senhores presentes nesta reunião, creio que todos foram agraciados com as verbas necessárias para tocarmos o grande projeto Rio 2016, e mais virão, na medida em que os prazos se tornarem exíguos, dispensando essas futilidades denominadas, concorrências. Afinal de contas, é o prestígio do nome Brasil que está em jogo, ou não?
Vejamos em linhas gerais o que conquistamos, técnica e politicamente, e que apesar de vultoso, ainda pode ser bem mais lucrativo. Novos hotéis, estradas, pontes e viadutos, saneamento, transporte, moderno, confortável, rápido, novos estádios e ginásios, piscinas, pistas e alojamentos, verbas para assessorias nacionais e internacionais, alimentação em grande escala, hospitais, novos aeroportos, rodoviárias, ferrovias e portos, publicidade, segurança ostensiva, benfeitorias, serviços de apoio, e as verbas emergenciais.
E tudo em nossas mãos, patriarcal e hierarquicamente distribuído, onde os vínculos do interesse globalizado tem de ser respeitado, onde nem mesmo impostos podem ser cobrados pelo estado brasileiro. É a nossa independência econômica e financeira, arduamente conquistada, e com data marcada será irrecorrível e definitiva.
E agora, como estamos todos de acordo, podemos dar por encerrada essa histórica reunião.”
– Sr. Presidente, por causa da euforia causada por tão esperadas noticias, esquecemos dois pontos da pauta, e gostaria que pudéssemos enunciá-los, seria possível?
“ Pois não, do que se tratam?”
– Projetos e planejamentos para a formação dos atletas, afinal de contas serão eles que disputarão os jogos…
“Prezado confrade, esse é um pormenor que terminado os jogos rapidamente cairá no esquecimento. Um ou outro jornalistazinho ainda teimará em abordagens inócuas, e como disse antes, rapidamente esquecidas. Temos de dar graças a esse salutar habito brasileiro de não valorizar memórias passadas. Por acaso você pensou no montante de verbas que teríamos de abdicar para que fossem empregues em escolas, em clubes, em parques, para que se perdessem em atividades que não geram os lucros de que necessitamos? Por que abrir mão do agora, do nosso, para investir no futuro de outros? Já imaginou tal insensatez?”
– Mas se trata de uma herança a ser deixada para a educação de nossos jovens, das gerações futuras, da plena utilização dos espaços pela população como um todo, pela…
“ Paremos por ai, caro confrade, ou ex confrade a continuar enunciando tantas besteiras. Educar um povo, para que ele, assim “educado e culto”, nos derrube num futuro próximo, é inconcebível! Deixemos como está, e nos locupletemos o mais que pudermos, ou não temos famílias e amigos para sustentar?”
-Mas, desculpe, faltou um último, sei que insignificante item, o que representa a coletividade responsável pela formação destes atletas, futuros cidadãos, os técnicos, os professores…
“QUEM?? Não ouse…”
Homenageio a todos os técnicos e professores desportivos, do ensino formal, técnico, cientifico e artístico desse nosso enorme e infeliz país em seu dia, apesar do criminoso esquecimento de que são vitimas por amarem sua função acima das vicissitudes e dos injustos sacrifícios.
Nosso país ainda reconhecerá, um dia, sua tarefa única, estratégica e patriótica, ajudando-os a estudar mais, a se aprimorarem, remunerando-os com justiça, para ai sim, se tornar digno de um futuro melhor, e quem sabe, mais digno ainda de uma Olimpíada. Um abração a todos.
Amém.