ENGANAR E ADORAR SER ENGANADO…
CURSOS DA ENTB COMEÇAM EM JANEIRO
Em 1983 fui o responsável por curso correlato no IEF/UERJ, naquele que foi o último curso de formação de técnicos no Rio de Janeiro dentro de uma instituição formadora de professores em Educação Física.
Foram cursos completos, com disciplinas voltadas a formação de um técnico de basquetebol, onde a Psicologia Desportiva, a Cinesiologia, a Fisiologia e a Organização e Administração complementavam os aspectos teóricos e práticos do grande jogo.
Daí para frente, com a pulverização dos cursos de educação Física na área do humanismo, e conseqüente ida dos mesmos para a área biomédica, toda uma estrutura de formação de técnicos foi transformada em apoio paramédico aos novos comandantes das atividades físicas no país, os médicos, com sua cultura voltada ao corpo e a saúde, hoje um dos grandes negócios do país, movimentando acima de 12 bilhões de reais anualmente, segundo o Atlas da Educação Física e Desportos, do Comte. Lamartine Costa, e tendo o apoio logístico e político do Sistema Confef/Cref, avalista e garantidor do grande negócio em que transformaram o desporto e as atividades físicas no país, claro, fora das escolas, garantindo uma clientela utente de seus serviços quando na idade adulta, o que seria seriamente prejudicado se tais princípios educativos, esportivos e salutares fossem adquiridos através os currículos escolares, que é um direito cidadão amparado e previsto pela constituição do país, mas sócio politicamente vetado aos jovens brasileiros.
Agora, assistiremos o segundo capítulo de uma ENTB voltado ao Nível 1, meses após ter sido dada a partida da mesma através um curso formativo de Nível 3, onde num prazo de 4 dias dizem e afirmam solenemente terem preparado técnicos para a elite do basquete nacional, e ao módico custo de 800 reais, onde atividades de quadra foram inexpressivas, e até palestras sobre direito esportivo foram feitas, num currículo confuso e equivocado.
E o mais sério, se percorrermos o corpo docente para esse nível (pressupondo existirem outros para os demais níveis…), e o colocarmos frente ao numero de horas aulas previstas para o curso, 32 presenciais nos 4 dias iniciais, e 28 à distância, com uma avaliação prática seis meses após o modulo presencial, podemos concluir que se dividirmos essas horas por 12 professores, teremos 5 horas para cada um ( não sei se suportaria tal carga de trabalho…), se todos derem suas aulas. Mas se os dividirmos pelos demais dois cursos que serão realizados em São Paulo e Recife, teremos 15 horas para cada um, numero esse rigorosamente insuficiente para percorrerem, por exemplo, três fundamentos básicos, como passes, dribles e arremessos, para começar.
Mas como tudo pode ser possível nesse país de vivaldinos (?), veremos e comprovaremos brevemente que- “Os treinadores que estiverem de acordo com o sistema CONFEF/CREF e que forem aprovados no curso de Nível I com a média sete ou superior (somatória das três avaliações) receberão o certificado e a carteira definitiva “Nível I”. Os demais receberão o “Certificado de Participação”. ( Diretriz constante do regulamento da ENTB), fato este que oficializará a festa dos provisionados, a grande massa critica do famigerado sistema.
Podemos então agora perceber com clareza, os porquês de muitos dos grandes professores e formadores de jogadores estarem fora da ENTB, pois jamais admitiriam que tal escola funcionasse de forma tão primitiva e rudimentar, ainda mais quando a mesma foi, é, e continuará a ser coordenada em sua formatação e padronização (?) por um preparador físico, e não um professor e técnico de basquetebol, numa inversão de valores comprometedora e constrangedora àqueles que aceitaram e aceitam tal liderança, e mais, sendo todos seus integrantes ligados desde sempre à CBB, numa flagrante marginalização dos demais e competentes professores e técnicos espalhados e trabalhando em todo o país.
E se observarmos bem o logotipo da ENTB, concluiremos ser o mesmo o retrato autêntico e fiel de sua missão baseada na padronização de um sistema falido e mal intencionado, a começar pela prancheta lá eternizada, com seus garranchos ininteligíveis, ali bem demonstrados em vermelho, onde setas apontam para lugar nenhum, numa alegoria de seu equivocado direcionamento.
Mas fico profundamente curioso para testemunhar mais uma conquista brasileira para o mundo, a de, por mais uma vez, formar técnicos do grande jogo em 4 dias presenciais, façanha esta que bem demonstra nossa capacitação única de enganar, e adorar ser enganado, na medida que um certificado aconteça.
Peço aos já cansados e desiludidos deuses que nos ajudem, uma vezinha mais…
Amém.
Bom dia Professor
A CBB não se preocupa com a formação de atletas, se tivesse como prioridade a formação não permitiria que equipes mudassem de cidade a cada temporada, fato esse que inviabiliza a formação de categorias de base. Na minha opinião a ENTB teria que ser independente da CBB, comandada por verdadeiros professores e ramificada para que seus cursos chegassem aos professores de educação física nas escolas. Esses professores preparados adequadamente ensinariam os fundamentos básicos as crianças e adolescentes. Sem professores nada vai mudar no nosso basquete. Todos que gostam de basquete tem a obrigação de fazer algo por ele, eu tenho indicado seu blog a todos os meus conhecidos para que conheçam suas idéias professor, e quem sabe mudem sua forma de pensar e trabalhar os garotos que estão começando. Minha vontade é que no lugar da CBB um dia procurassem pessoas como o Sr. para um curso de formação de Técnico de Basquetebol. Obrigado pelo espaço.
Bom dia, prezado Thiago, e muito obrigado pelo seu apoio e incentivo à luta que travamos diariamente nesse espaço democrático de debates, espaço este sempre aberto a pessoas como você.
Concordo desde sempre com o desvinculamento da ENTB da CBB, fator este somente possivel se a mesma nascesse de dentro de uma associação nacional de técnicos, o local privilegiado a uma escola dessa importância.Mas como poderia acontecer tal criação, se nem associações regionais existem, ou são incentivadas e apoiadas em sua existência? Temos agora a associação dos juizes de basquetebol, a dos jogadores que se reestrutura após uma conturbada iniciação, mas de tecnicos, nem pensar, sob os dominios federativo e confederativo de cunho politico e comercial, além dos de interesses eminentemente econômicos, que os mantêm absolutos no comando e nas decisões, ENTB inclusa.
Se conceituarmos que toda essa realidade é produto direto de anos de omissões e real desinteresse pelo grande jogo, concluiremos que assim como todo povo e nação têm o governo que merecem, o mesmo ocorre com o basquete. Sim, temos o comando que merecemos, fruto de nossa doentia omissão e pusilanime indiferença, ambos regados a caipiras e tremoços pelas azeitonas da vida.
Enquanto isso, continuo meu humilde trabalho, aproveitando ao máximo as pequenas frestas e atalhos que me permitem transitar, cumprindo meu destino de professor e tecnico para sempre ligado e agradecido ao grande, grandíssimo jogo.
Um abraço, e mais uma vez obrigado Thiago.
Paulo Murilo.