DE DOMINGO A DOMINGO…
De domingo a domingo consumindo o produto basquetebol, do Flamengo x Pinheiros ao vivo, numa temperatura sufocante pelo imposto horário das 15:30 hs no Tijuca TC, a um Limeira x Vitoria televisivo ao meio dia de hoje, entremeados por jogos do campeonato paulista, onde Pinheiros se destacou, Franca sucumbiu, e Limeira e Araraquara se degladiaram pelas semi finais.
A destacar algumas considerações:
– A equipe do Pinheiros, que ao vencer convincentemente o Flamengo e Franca, foi imediatamente alçada pela mídia ao status de grande, e quase perfeita equipe, a nível latino-americano, que “com duas sólidas contratações” se transformaria em potencia, mas que hoje mesmo, perdeu para a renovada e jovem equipe do Minas, fazendo a bola dos especialistas baixar um pouco, mas que deveria nem ter sido alçada precocemente.
– O festival avassalador dos arremessos de três desencadeado por todas as equipes, como que querendo provar suas capacitações, mesmo após o acréscimo de 50cm na distância de arremesso, chegando às culminâncias no jogo(?) de hoje entra Limeira e Vitoria, quando a equipe capixaba arremessou 33 bolas de três, somente 6 a menos que suas tentativas de 2 pontos.
– A frenética exibição televisiva das pranchetas e seus rabiscos ininteligíveis. Meu filho André, que jogou basquete e é um competente designer gráfico, me pedia silêncio para tentar entender os grafismos nas pranchetas, confessando sua incapacidade em decifrá-los. Fico sempre imaginando o desespero dos jogadores nas mesmas circunstâncias, e ainda ter de jogar contra defensores que nunca são mencionados, nem por um borrãozinho da hidrocor nas estelares pranchetas, que para meu espanto, teve uma delas hoje destruída, acredito eu, por não ter sido capaz de passar aos jogadores, com a devida clareza, a tática genial de seu mentor, e logo ela, coitadinha, a super star televisiva…
– A comprovação definitiva, mesmo com a inclusão de novos técnicos, na idade e na experiência, de que o sistema único tão cedo cederá seu monopólio a qualquer manifestação técnico tática que se insurgir no cenário tupiniquim, custe o preço que custar, mesmo que o novo técnico da seleção argentina, Sergio Hernandez, venha a público afirmar numa reportagem do Site UOL com o Ruben Magnano, “que os jogadores que vão para a NBA sem passar pelo basquete europeu não têm muita consistência tática”, no que concorda o Magnano –“É uma realidade. Na NBA se joga por função. Concordo totalmente com o que disse o Sergio(…)”. (…) “Isto é muito importante. O fato de ter jogadores da NBA não te garante nada. Eles estão há 10 meses fazendo apenas uma função. Você os incorpora à seleção e pega este garoto, que você viu fazendo mais coisas em outra oportunidade, para incrementar o volume de jogo do time(…)” Imaginem agora, como se sente um técnico campeão olímpico no comando de uma equipe cujo campeonato nacional é totalmente dominado pelo sistema técnico tático da NBA, e seus jogadores são especializados nas posições de 1 a 5? E que as seleções de base municipais, estaduais e nacionais garantem a continuidade dessa perversa realidade?
De domingo a domingo presenciei, assisti e testemunhei o terrível estágio em que nos encontramos, ainda e teimosamente convivendo com as enterradas, os tocos e os arremessos de três como a sublimação do jogo, segundo a mídia dita especializada, a realeza das pranchetas e suas mensagens caóticas e cifradas, e a cada vez, e proposital separação do que venham a ser técnicos formadores e técnicos ( ou treinadores) estrategistas ( e aqui cabe uma leitura de um artigo do Prof. Ronaldo Pacheco sobre o assunto, publicado no blog rodrigo.galego desta semana), aqueles com anos e anos de trabalho e estudo junto aos jovens, e também aos adultos, e estes, promovidos após cessarem suas atividades atléticas, provisionados, e prontamente elevados à condição de técnicos de elite e de seleções, numa inversão de valores que assombra e põe em dúvida a seriedade do grande jogo entre nós.
Agora, basquete NBB somente em janeiro, um bem vindo descanso visual ante tanta poluição de três pontos, colossal despreparo e desconhecimento dos fundamentos básicos do jogo, e das estelares e “indispensáveis” pranchetas televisivas.
Amém.
PS- Fico imaginando se a um singelo pedido meu, o velho Noel fizesse, como régio presente de natal ao nosso pobre basquete, com que sumissem as pranchetas estelares… Pelos Deuses, esquece, esquece, não quero testemunhar e me sentir culpado pelo suicídio coletivo que …
Professor, como está ?!
Primeiro, feliz Natal e prospero ano novo pro senhor e pra sua familia !
Segundo, quando você deixa de usar pranchetas, o caos se instaura nos atletas.
Treinei um time adulto nesta temporada, amador, porém com atletas mais velhos e experientes, na faixa etaria dos 30 anos.
Sem pranchete Professor, alguns simplesmente não sabiam o que fazer.
Porém, usavam nomes de jogadas como Chifre ou Passing Game, que para mim, são grandes bobagens .. uma vez que o basquetebol tem que estar no mix técnica-tática-psicologico-físico. Cada um com sua importancia.
O jogador hoje é formado para entender essas porcarias desenhadas. E este, é outro grave problema. Quando se retira dele a presença da prancheta, alguns não fazem ideia do que é falado, não prestam atenção também de forma alguma.
Ou seja, a prancheta atrapalha na medida em que todos se tornam refens da mesma. Uma verdadeira vergonha.
PS: No sub-13 parei de utilizar as pranchetas, quando percebi que conversar com os atletas era muito mais sadio e muito mais inteligente.
Eles prestam mais atenção e interagem melhor.
Um grande abraço, Henrique Lima
Olha Henrique, só para exemplificar algo recente, no caso do Saldanha, dos jogadores do Saldanha.Claro que usei a prancheta, mas a verdadeira, a desafiadora, a sutil prancheta travestida de quadra, de quadra de jogo, e somente nos treinos. Lá, naqueles 420m2 de área competitiva ensinavamos e praticavamos todo um sistema de jogo, com a participação ativa dos jogadores, discutindo possibilidades e novos caminhos, criando opções e aprendendo a ler e antever posicionamentos ofensivos e defensivos. E todos entendiam, por cumplices que eram do trabalho como um todo. No jogo, a prancheta ali estava, escancarada à frente de todos, técnicos e jogadores, perfeitamente equacionada na dureza dos treinamentos. Perdoe-me Henrique, mas jogadores somente se sentem perdidos quando lhes faltam o apoio e a presença de um técnico lúcido,aberto e firme em suas convicções.
Também faço votos para um Feliz Natal para você e familia, e peçamos ao paciente Noel que nos presenteie com esperanças e certezas em dias melhores. Um abraço, Paulo.
Falando em provisionados, pelo menos a Janeth não aceitou a seleção adulta assim, de cara. Vai prosseguir na sub-15 mesmo.
E não aceitou porque, apesar de garantida para o ciclo olímpico de 2016 pela direção da CBB, sente a necessidade de enriquecer seu curriculo nas divisões de base, e nada melhor se as mesmas forem seleções nacionais, que é um estratagema largamente utilizado no país por muitos técnicos iniciantes em clubes, e até escolas, para pularem as longas etapas de estudo e vivência na base em direção à elite. A formação, onde titulos não são fundamentais,e não garantem a qualificação futura de jogadores, se constitue na grande moeda de troca na busca e enriquecimento dos curriculos alavancadores de carreiras muito mais politicas, do que meritórias. Técnicos abaixo dos 40 anos em seleções nacionais é algo impensável nos grandes centros do basquete mundial, inclusive na base.
Essa é a realidade que nos sufoca e esmaga, prezado Douglas. É o reinado absoluto do Q.I.
Um abraço, Paulo Murilo.
Caro Professor
Aproveito mais esta excelente crônica/crítica com que nos brinda para desejar-lhe um CALOROSO NATAL COM SEUS FAMILIARES. E um ANO NOVO COM MAIS NOTÍCIAS BOAS PARA O NOSSO BASQUETE!
Um grande abraço
Boa tarde, para nao parecer do contra, concordo com muitas coisas que fala, gostaria apenas que vc cita-se um BOM técnico de basquete, em qualquer parte do planeta, que nao usa a prancheta tao odiada por vc.
Abraço
Retribuo com imensa satisfação os seus votos, com muita paz, saúde e amor junto aos seus queridos familiares.
Se teremos boas notícias para 2011? De minha parte somente uma, a do inicio da Escola Carioca de Basquetebol, que agora mesmo, em janeiro, iniciará sua luta pela divulgação democrática de informações técnicas e discussões técnico táticas dentro de nossa realidade de país pobre e ainda, infelizmente, inculto.
Vamos todos à luta, o nosso basquete,o grande jogo, merece.
Um abraço, Paulo.
Prezado Alemão (gostaria de chamá-lo pelo nome…), não aceito ser você do contra, afinal concorda com muitas coisas que defendo, o que agradeço. Citar um bom técnico que não usa prancheta, o instrumento que você afirma que odeio? Olha, existem muitos, e acredito que agora mesmo em nosso país, muitos jovens que se iniciam dispensam-na sem remorsos. Mas voltando à resposta? Eu mesmo.
Bom Natal para você e sua familia, e um 2011 pleno de saúde e paz.
Paulo Murilo.
Tudo bem Professor Paulo?
Primeiramente um feliz Natal para o senhor!
Na sua resposta ao Henrique senhor diz que “ensinava” os seus jogadores no Saldanha da Gama, ao meu ver esta ai a grande diferença, “ensinar jogadores” a jogar e não simplesmente “treinar jogadores” para jogar.
Quando falamos em formação, como o Douglas mencionou a Janeth e os provisionados, principalmente na base, já que a formação de um jogador, ao meu entender, dura toda a sua carreira por que estamos sempre aprendendo, a palavra “técnico” (não só a palavra mas também o profissional) não fica meio que fora de contexto Professor? Penso que as atribuições e responsabilidades de um técnico são diferentes das necessidades formativas (cognitivas, afetivas, motrizes e sociais)principalmente nas primeiras fases do processo de formação de jogadores. Quando penso em técnicos me vem a mente equipes profissionais, compromisso com a vitória, auto rendimento. O que se encaixaria melhor nesse contexto não seria a palavra (e o profissional)”professor”? No Saldanha da Gama, ao meu ver, mesmo sendo uma equipe profissional o senhor agia muito mais como “Professor” do que como “Técnico”, justamente pela preocupação em ensinar e não simplemente treinar os jogadores.
Um abraço Professor Paulo.
Tudo bem prezado Cleverson, e obrigado pelos votos, que retribuo com prazer.
Quanto à sua colocação sobre a dualidade professor-técnico, acertou em cheio, e pena que tão bem orientado raciocínio se perca nas encruzilhadas da nossa realidade educacional desportiva.
Por motivos bem conhecidos, por terem fundamentação eminentemente político econômica, criou-se uma barreira entre ser professor, e ser técnico, exatamente para isolar aquele, com longa e sacrificada formação acadêmica,deste, fruto do nosso endêmico vicio do imediatismo, que para se perpetuar, acolhe um único sistema, com seus parâmetros perfeitamente padronizados, numa cumplicidade com dirigentes, jogadores, empresários e grande parte da mídia, todos compromissados com a mesmice garantidora de seus empregos e posições hegemônicas, num circulo vicioso muito dificil de ser contestado através novas idéias, novos rumos.
Por isso tudo, quando uma pequena oportunidade se abre nesse fechadíssimo clube, o ato de ensinar o jogo, suas possibilidades sob uma ótica diferenciada,não pode deixar de ser explorado, basicamente como ensino, e não treino puro e simples.
Mas as reações são fortes e bem direcionadas para não permitirem a continuidade de tão indesejada intromissão.
Num mundo de “técnicos”, ser professor( e técnico também…)é sentença de morte.
Um abraço, Paulo Murilo.
Boa tarde Professor.
Primeiramente Feliz natal e um ótimo 2011.
Só para aliviar o comentário sobre o Pinheiros:
Antes de enfrentar o Minas o time jogou 4 vezes ( 1 contra o Flamengo e três contra o Franca- em uma semi-final de campeonato- tudo em um periodo de 5 dias). Considerando as viajens RJ-SP-Franca-BH, acho que a condição física pesou. Lembro que o Minas descançou durante a semana toda.
Acho que em condições de igualdade, a equipe mineira seria derrotada.
Abraços.
Boa tarde Luiz Eduardo. Obrigado pelos votos, desejando a você também, um ótimo Natal, e um 2011 pleno em realizações.
Bem avaliei as duras condições enfrentadas pela equipe do Pinheiros antes do confronto em Minas. Mas algo não pode ser omitido, a pouca opção de banco da equipe, bastante defasado em comparação com os declarados titulares.Para enfrentar duas competições duras e simultâneas, não bastam 6-7 ótimos jogadores,mas um minimo de 10-11. Esse o ponto frágil da equipe, que por isso não pode ser classificada como perfeita, mesmo.
Um abraço, Paulo Murilo.