2011…PARA ONDE CAMINHAMOS?
Foi um fim de ano com muito trabalho, e como todo professor que se preza, uma tonelada de papéis, relatórios, recortes de jornais e revistas, emails impressos, tiveram o destino anual do descarte, necessário pela enorme quantidade, mesmo tendo a maioria deles guardados em memórias e HD’s. Terminei a faxina ontem a tarde, no momento em que liguei a TV para o jogo do Pinheiros contra Limeira pela final paulista, e antes não o tivesse feito, pois assisti à cores e em som estéreo a uma das cenas mais degradantes que testemunhei nesses longos anos em que milito e vivencio o grande jogo.
Lá pelo segundo quarto de um jogo horripilante, onde a artilharia dos três pontos tirou do sério até o pacato comentarista da ESPN, o técnico da casa pede um tempo, e ao se preparar para as instruções é violentamente interrompido pelo jogador americano, que toda a imprensa sonha ver atuar pela seleção brasileira, que aos berros em seu claudicante português espinafra a todos, exigindo raça, atitude, até o momento em que o técnico se intromete e leva pela testa um “deixa eu falar” tonitruante e constrangedor, que o deixa desarmado, até que, também aos berros e não menos inúmeros e reprováveis palavrões televisivos, faz o insurgente jogador se calar até o final do quarto, quando ao ser entrevistado tece comentários de cunho e responsabilidade exclusiva do técnico, e não sua.
Recomeça o jogo com o malcriado jogador no banco ( fosse comigo já teria trocado de roupa à muito…) e a equipe indo mal na quadra, mesmo continuando a apostar na chuvarada de arremessos de três, assim como seu adversário, totalizando 63 tentativas contra 67 de dois pontos de ambas, numa tendência que vem se instalando em nosso basquete de quase se igualarem em números os arremessos de três e os de dois, numa prova inconteste de que o individualismo exacerbado ameaça de morte o coletivismo, que ainda define a estrutura técnico tática de uma equipe, sem contarmos com o altíssimo número de bolas perdidas por falhas nos fundamentos, que nesse jogo chegou a 25. E para sermos mais claros, das 29 bolas de três arremessadas pelo Pinheiros, somente 5 foram convertidas, contra 14 das 36 arremessadas por Limeira, ou seja um tremendo “chega e chuta”, definição do próprio comentarista da ESPN.
Um pouco mais adiante, um novo tempo pedido pelo técnico da casa, que num tom suplicante pede mais luta, união, ajuda, e de pronto faz voltar o americano, que por três sucessivas vezes arremessa de longe, sem sucesso, e numa dessas tentativas nem o aro alcançou. Daí par o insucesso final foi só uma questão de tempo.
Lamentável episódio, um tanto mais comprometido com a defesa do americano feita pelo pacato comentarista, tentando justificar uma tremenda falha disciplinar como tendo sido uma “balançada na equipe” e nada mais. Fico pensando se sob o comando de um Togo Renan, o grande jogador que foi teria feito o mesmo em plena quadra de jogo. Creio que não, e o próprio Kanela jamais o permitiria.
Numa análise derradeira, que sistemas de jogo podem ser desenvolvidos quando duas equipes finalistas do propalado e incensado campeonato paulista arremessam 63 bolas de três pontos, ou sejam, 189 possíveis? E como falar em defesas perante tanta permisividade?
Desliguei a TV e dei uma passada pelos blogs, e o que vejo? Técnico de seleção ser indicação de um diretor de marketing, vindo do vôlei, e que se acha capacitado na área técnica de uma modalidade que não a sua? Inacreditável!
Curso de capacitação de técnicos no nível I com a duração presencial de 4 dias promovido por uma ENTB coordenada por um preparador físico? Um absurdo!
Um excelente técnico argentino “descobrindo” para nós que a formação de base é o cerne do grande jogo, e que temos de deixar o estilo NBA de jogar para trás? E o que temos feito e alertado nos últimos 20 anos de descalabro e 6 de Basquete Brasil?
Que por mais uma vez a LNB distribui uma planilha para a formação das seleções que se enfrentarão no Jogo das Estrelas, seguindo as posições de 1 a 5, que é exatamente o modelo criticado pelo Magnano em suas entrevistas, comprovando a padronização e formatação do nosso basquete àquele modelo? Me divirto imaginando a dificuldade de colocação dos jogadores com as minhas indicações baseadas na formação de 2 armadores e 3 alas pivôs, numa solitária posição de negação à mesmice endêmica que nos domina e constrange.
Finalmente me deparo com escolhas dos melhores de 2010, em todas as áreas e funções do basquetebol, e não vejo uma linha sequer, mesmo que ínfima, sobre a pequena revolução técnico tática estabelecida pela equipe do Saldanha da Gama no NBB2, se antepondo à mesmice acima mencionada, fator fundamental a uma reviravolta em nossa maneira de jogar e atuar, comprovando ser isso possível e exeqüível, bastando para tanto uma boa dose de coragem e ousadia, além é claro, de conhecimento e experiência, elementos que seriam impossíveis de adquirir em cursos de formação e habilitação de 4 dias.
Terminei o dia, neste limiar de um novo ano, mais uma vez descrente de que tenhamos a força necessária para alavancar o soerguimento do grande jogo entre nós, se contarmos somente com os quadros cebebianos, continuísta e corrompido politicamente, onde a função técnica sempre dará passagem ao apadrinhamento e à troca de favores, a não ser aquela tênue réstia de esperança que poderá ser deflagrada pela classe que conhece e domina o jogo, e por isso mesma afastada das grandes decisões, os técnicos brasileiros, que ainda teimam em se esconder no anonimato de suas manifestações pela mídia virtual, alimentando e perpetuando com esse comportamento as felpudas e profissionais raposas que infestam a modalidade que tanto amamos.
Peço aos deuses que nos protejam nesse 2011, fervorosamente.
Amém.
Leio, sempre que posso, seus comentários e os aprecio.
Também assisti ao vergonhoso jogo da final do Paulista.
Acho que é muito difícil pros jogadores estar iniciando um
nacional muito difícil e estar encerrando outro Campeonato.
Porque isto acontece?
Abraço, Eliana
Paulo Murilo,
Gosto muito dos seus comentários e da sua maneira de ver o basquete.
Jogo na posição de armador e sou jovem, inexperiente ainda, tenho apenas quinze anos.
Há um ano treino basquete e até hoje ainda não aprendi bem os fundamentos do nosso querido esporte.
Já li vários dos seus artigos, dentre eles: “O que todo jogador deve saber” e “Anatomia de um arremesso” (perdoe-me se os nomes estiverem incorretos). Infelizmente, não compreendi bem o conteúdo.
Gostaria que o senhor, com toda a sua experiência, me recomendasse exercícios (na prática) para que eu pudesse melhorar o domínio dos fundamentos – passe, arremesso, drible etc. -, fundamentos esses essenciais para um armador.
Desde já agradeço.
Felipe Diego.
Perdoe-me pelo erro de digitação:
Desde já agradeço.
Felipe Diego. – (Lucas Santos)
Meu nome é Lucas Santos.
O fato da sobreposição de campeonatos nada tem a ver com indisciplina, prezada Eliana, pois são profissionais.E como tal têm de preservar os principios básicos do desporto. O jogador foi desrespeitoso e indiciplinado, e o técnico omisso, essa a questão.No mais, herdamos as tristes imagens do lastimável episódio.
Um abraço, e muito obrigado pela honrosa audiência.
Paulo Murilo.
Prezado Lucas, estaremos ainda neste mês, publicando artigos pela Escola Carioca de Basquete, onde você encontrará matérias sobre fundamentos a não mais poder. Tenha um pouco de paciência e aguarde.
Um abraço, Paulo Murilo.
Muito obrigado.
Aguardo ansiosamente pelos artigos.
Um abraço, Lucas Santos.
SR.JONAS, ACABO DE RECEBER O SEU COMENTÁRIO OFENSIVO E DESRESPEITOSO, ALÉM DE PESSIMAMENTE REDIGIDO. SABEDOR DE SE TRATAR DE UM ANÔNIMO, REMETI UMA MENSAGEM AO EMAIL ENVIADO (jonas@hotmail.com),SABENDO QUE SERIA DEVOLVIDO, COMO FOI, A FIM DE NÃO DAR GUARIDA A ESSE TIPO PUSILANIME DE LEITOR. NO MOMENTO QUE O SR. ENVIE UM EMAIL CONFIÁVEL, E SE ASSINE COMO HOMEM E CIDADÃO, VEICULAREI SUA MENSAGEM DE IMEDIATO. ATÉ LÁ, FAÇO PUBLICA, POR MAIS UMA VEZ, A MINHA MAIS ABSOLUTA AVERSÃO A UM CERTO TIPO DE GENTE, QUE ESCONDIDA COVARDEMENTE NO ANONIMATO EMPESTEIA OS BLOGS DO PAÍS COM SEUS POSICIONAMENTOS ABSURDOS E ACIMA DE TUDO, DOENTIOS. E CUIDE-SE VOCÊ.
PAULO MURILO.
Olá, professor,
No segundo jogo, a coisa melhorou bastante, pelo menos para o lado de Limeira. Não só pela larga vantagem aberta na decisão, mas pelo padrão de jogo também. Talvez não seja o ideal ainda, mas ao menos a diferença entre chutes de fora (20, para nove convertidos) e dois pontos foi maior (41, para 20 convertidos). Descontando o 0/4 do garoto Jhonatan, o panorama fica ainda melhor.
Não considero o time revolucionário, mas detecto – claro, seguindo meu conhecimento superficial do jogo – alguns pontos interessantes sobre essa equipe.
1) Em primeiro lugar, é a união do grupo. Muitas vezes considerado um clichê, fica evidente neste confronto que é um fator muito importante no esporte e que há uma diferença gritante entre os dois conjuntos neste caso. Talvez facilitada, no caso limeirense, pela postura de renegados, ou de ‘nós-contra-eles’, afinal de contas o time voltou às atividades recentemente e não possui nenhum jogador badalado em solo brasileiro, aqueles jogadores paparicados de sempre, da panela da base política da gestão eterna da CBB.
2) Isso leva a outro ponto, que o senhor sempre destacou e fica corroborado nesta série decisiva. O basquete brasileiro pode penar com falta de fundamento e QI, mas possui uma gama de talentos considerável. Basta abrirmos um pouco mais os olhos e não nos limitarmos a Grupo Universo e Flamengo (e, antingamente, colocaríamos o Minas aqui também). Há muito mais por aí fora, e Limeira nos deixa claro isso. Desse grupo, temos apenas o Diego como atleta convocado nos últimos anos (2009 com o Moncho).
Dois atletas deles no mínimo mereceriam uma chance, creio. O primeiro seria o Jhonatan, que tem uma capacidade atlética impressionante e tem amadurecido bem. O segundo, e aqui imagino que levaria pedradas de todos os lados, seria o Eric. Lembro dele desde os tempos de COC/Ribeirão Preto, e ele já contrastava bastante com o ‘astro’ Nezinho. Para mim, é um jogador que hoje sabe atuar de modo cadenciado e veloz, sem se atrapalhar muito com a bola. Tem ótimo controle, finaliza com as duas mãos e se dedica na defesa um pouco mais que a nossa média. Mas obviamente ele não tem grife para tanto.
3) A composição do elenco também não é das mais tradicionais. Percebo que eles valorizaram, não sei se intencionalmente, jogadores de mais velocidade e capacidade atlética. O único pesadão é o Mineiro, que joga apenas esporadicamente. Eric, o dominicano, Jhonatan, Diego, Biro, Bambu e Alemão são todos atletas acima da média, com um perfil interessante. Um dos reflexos é a marcação mais eficiente em cima do Marquinhos, que passeou contra Franca (que não tinha um jogador de mobilidade, agilidade ou força para segurá-lo). Isso propiciaria também trocas na defesa com mais facilidade, imagino, e um time mais compacto, que cobre a quadra com facilidade.
Abraço,
Giancarlo.
Prezado Giancarlo, precisas as suas considerações, e somente acrescentaria o fato já consumado da aceitação majoritária da dupla armação pelas equipe nacionais, que foi uma plataforma de luta aqui estabelecida desde sempre.
E concordo mais ainda sobre a existência( quase sempre negada pela midia)de outras boas equipes, bons jogadores, competentes técnicos e abnegados dirigentes, que espalhados por este país-continente se debatem contra o arbitrio e a mais absoluta falta de apoio oficial, até mesmo da gestora da propria modalidade, a CBB.
São tempos dificeis, mas ainda acredito, ou teimo acreditar, num soerguimento redentor, pois não podem continuar a enganação impunemente, seja pelo tempo que for.
Se seu conhecimento superficial do jogo o faz analista de tal qualidade, fico imaginando o dia em que você se graduar de verdade.
Um abraço Giancarlo, e fique certo de que suas analises, criticas e comentários sempre encontrarão espaço aberto aqui nesse humilde blog. Obrigado. Paulo.
olaaaa
eu nao quero saber disso mas e a
lenda do brasilll
lll
Prezada Mariane, confesso não ter entendido a sua colocação. Poderia ser maisa específica?
Um abraço, Paulo Murilo.