ÚLTIMO DIA EM CABO FRIO…
Creio que nada seja mais gratificante do que treinar uma equipe que luta para sobreviver à uma má fase, às derrotas seqüenciais, à baixa continua e inexorável da perda da auto-estima, do respeito a si mesma.
Não sinto qualquer atrativo pela direção de “nomes” e de fachadas, de cardeais e delfins, mas sim aqueles bons e até ótimos jogadores, depreciados e subutilizados no dia a dia de uma equipe de alta competição.
Maravilha, apresentar um projeto onde constam estrelas e candidatos às seleções nacionais, minorias que em muitos casos (as exceções não contam…) não refletem com alguma precisão o quem é quem da realidade técnica de uma modalidade tão complexa como o basquetebol, mas que locupletam uma pseudo elite bem promovida e magnificamente assessorada por marqueteiros profissionais. Por conta de tal distorção, menos técnica, e muito mais política, muitos reais valores se perdem pelos caminhos do ostracismo e da mais absoluta ausência de uma simples vitrine onde pudessem mostrar e demonstrar o que valem (daí o valor incomensurável da postagem de vídeos de jogos pelas LNB e pela CBB na grande rede…), como indivíduos, como jogadores, assim como, muitos e autênticos técnicos e professores, formados ao longo de reais experiências, estudos e pesquisas práticas, e não provisionados em cursos de 3 a 4 dias sentados às centenas num auditório da vida.
Coerentemente ligado a estas constatações, é que me comprometi treinar a equipe do Cabo Frio, não encontrando, lamentavelmente, um mínimo suporte econômico administrativo para um trabalho a médio prazo, como fora o combinado e estabelecido, tornando praticamente impossível qualquer resultado positivo contra as equipes que ponteiam a competição.
Mesmo assim, nos preparamos da melhor forma que nos foi possível para o jogo contra o Tijuca, definidor para a continuidade competitiva da equipe, visando sua classificação ao playoff semifinal.
Ao contrário das opiniões de técnicos de arquibancada, em sua total maioria compostos de pusilânimes anônimos (jamais aceitos e postados aqui nesse blog…), foi um jogo onde a predominância técnica e tática foi centrada na maior das deficiências da esmagadora maioria das equipes brasileiras, de todos os níveis e faixas etárias, a sempre omitida e depreciada, defesa.
Foi uma titânica batalha de defesas, quando imperou, no quarto final, aquela que possuía a melhor reserva de energias, combustível estratégico para seu sucesso final, a equipe tijucana.
Do lado da equipe de Cabo Frio, um posicionamento na linha da bola, e de marcação dos pivôs à frente por todo o tempo, enfrentando o sistema único de jogo utilizado por um adversário superior em estatura e velocidade.
Por outro, uma equipe pressionando forte e energicamente os dois armadores, na tentativa de evitar que os mesmos contatassem os três pivôs móveis que se deslocavam permanentemente em seu perímetro interno, originando arremessos curtos, mais precisos, e sendo beneficiados por lances livres em quantidade, e ambas, enfrentando uma quadra emborrachada e escorregadia com um aumento drástico da umidade ambiental, que levava os jogadores à estafa pelo esforço extra para se manterem em equilíbrio razoavelmente estável.
E com este cenário de luta permanente e estafante, dois ou três arremessos de longa distância determinaram o resultado da partida, demonstrativa da capacidade que temos, sim senhores, que temos de defender, na medida que treinemos a arte de fazê-lo, preferencial e estrategicamente desde as divisões de base, com técnicas específicas e evolutivas, e não explicitadas em ações de cunho físico, onde a força em muito tenta superar as técnicas defensivas, conotando desgaste e exaustão desnecessárias.
Terminado o jogo, me despedi dos coesos jogadores, contrariado pela situação originada pela não definição contratual, mas pleno de certeza do cumprimento da parte a mim reservada, leal e corretamente.
Quem sabe em um outro momento tornemos a nos encontrar?
Amém.
OBS-Clique na foto para ampliá-la.
Obrigado por sua presença em Cabo Frio, nós jogadores estamos muito felizes e esperançosos de um futuro melhor para essa cidade que tem a cara do basquete, mas que ainda não descobriu aonde pode chegar seu nome com este grande e amado esporte.
Ainda não sei onde estacionarei meu carro, mas tentarei pedir um emprestimo de 10 dolares (voce sabe do que estou falando). Conseguiremos esse entendimento e transformaremos nossas lutas em uma grande e linda realidade, hoje jogam pedras, mas não sabem o verdadeiro combustivel dessa equipe.
Voce viu um grupo totalmente diferente, que transformará essa força em profissionalismo.
Deus nos abençoe.
Minha casa sempre estará aberta, e agradeço o churrasco que foi prometido em sua casa.
Manuil, acredito que vocês conseguirão atingir os objetivos traçados, apesar dos grandes obstáculos a serem enfrentados. Nossa extensa, porém elucidativa conversa após o jogo com o Tijuca, deverá ser analisada por todos na busca de um denominador comum que os unam em torno de uma organização, apta na busca dos patrocinios fundamentais, e dentro da legislação vigente. Torço para que tudo dê certo, e quem sabe ainda nos encontraremos na continuidade de todo o processo. O churrasco está de pé, faltando marcarmos uma data que seja acessível a todos. Mantenha contato. Um abraço, Paulo.
Professor, como lhe disse, é com pesar e tristeza que recebi esta notícia.
Uma pena que Cabo Frio não consegue honrar seus compromissos.Se não consegue isso, é impossível de prosseguir.
Que o senhor tenha mais oportunidades.
Uma pena dirigentes não verem isso e seguirem na mesmice de sempre.
É muita falta de visão e conhecimento.
Abraço !
Caro Mestre;
Lamento a sua saída. Como disse o Manuil, Cabo Frio tem a cara do basquete, e o Rio de Janeiro não pode perder a oportunidade de ter o Sr. e esta equipe, disputando os principais campeonatos.
Recebo como elogio ao trabalho da comissão técnica do Tijuca as suas palavras quando diz:” Foi uma titânica batalha de defesas”.
Muito Obrigado, e espero ter que enfrentá-lo muito mais vezes.
Henrique, esporte profissional é algo de muito concreto, direto, pés solidamente fincados no chão, onde não são permitidos devaneios e sonhos juvenís. Não se brinca de fazer esporte profissional, pois os resultados podem desencadear sérios problemas pessoais àqueles que dependem de seu trabalho nas quadras para viverem com dignidade e segurança. Definitivamente, não é uma atividade para amadores e sonhadores.
Um abraço, Paulo.
Também lamento Miguel, e muito, mas vida que segue. Fico feliz com sua presença aqui no blog, pois jamais esquecerei sua carta postada aqui, quando da publicação do artigo 200, na qual você relatou corajosamente a realidade dos técnicos que batalham o dia a dia do grande jogo. Faltam quatro artigos para o significativo número de oitocentos, publicados initerruptamente nestes seis anos de Basquete Brasil, onde pudemos testemunhar o quanto de independência e destemor sua carta ensejou aos novos técnicos do país, integros, diretos e objetivos, não se escondendo atrás do anonimato, de caras limpas de frente para o debate, tão carente e necessário ao progresso da modalidade. Essa primazia foi sua, e sempre o parabenizarei por tê-la tomado. Um abraço, Paulo.