PAPEANDO COM O ALCIR…
Chego em casa voando, e já são 13:20, ligo a TV e…nada, vou para o laptop e…nada, me resigno em não poder comentar mais um jogo da seleção sub-19 em um importante mundial, pois não emito qualquer opinião técnico tática por estatísticas, em nada minimamente comparadas ao testemunho ocular de um jogo tão repleto de minúcias como o basquete, onde achismos e suposições cedem espaço à realidade inquestionável, quando…o skype toca, e o Alcir me envia um link salvador, e pude, enfim, assistir um jogo da tão decantada seleção sub-19 jogando contra a Letônia, a dona da casa.
No entanto, nada mais dinâmico do que relatar o nosso pequeno debate sobre o jogo, em tempo real, quando discutimos os aspectos relevantes do mesmo:
[13:34:05] Alcir: está assistindo o jogo do Brasil contra Letônia?
[13:34:36] Alcir: este é o endereço na internet: http://www.ltv7.lv/video_streams/adobe-flash-player-350kbps/
[13:35:07] Paulo Murilo: Cheguei agora do banco e vou tentar ver o jogo. Está na tv ou internet?
[13:35:24] Alcir: Isto, o endereço esta acima
[13:35:27] Paulo Murilo: ok, vou ligar. Depois comentamos.
[13:35:39] Alcir: o time esta jogando direitinho
[13:44:49] Paulo Murilo: Deu para ver que as duas equipes se utilizam do mesmo sistema ofensivo, fator esse que beneficia a equipe que tiver os melhores jogadores em cada posição de 1 a 5, e nisso o Brasil me parece bem melhor. Preocupa-me somente quando enfrentarmos equipes com melhores fundamentos, onde a similitude de sistemas pouca diferença fará.
[13:45:41] Alcir: eu achei o time bem treinado e sem precipitar
[13:46:30] Paulo Murilo: Mas essa foi a formula mágica que as comissões técnicas da CBB encontrou e adotou para o nosso basquete, e é ai que discordo deles todos, pois lá em cima, a diferença de estilos é que darão as cartas. O Dallas acabou de provar a tese do Coach K no Mundial.
[13:47:28] Paulo Murilo: Somos macacos de imitação, no que denomino de colonização endêmica, pois fica mais fácil copiar do que estudar e criar algo de inusitado.
[13:47:38] Paulo Murilo: Vamos ver no que vai dar…
[13:48:04] Alcir: acho que vamos ganhar
[13:49:02] Paulo Murilo: O que me preocupa não é ganhar agora, e sim lá na frente, na divisão principal, que é a que modela as gerações que se iniciam.
[13:51:44] Paulo Murilo: Essa é uma equipe de base, e está na linha do que viemos fazendo nos últimos 20 anos, só que com jogadores melhores. Se está bem treinada e sem se precipitar, concordo somente no aspecto do não abuso nos arremessos de três, cuja campanha a respeito venho mantendo nos últimos 6 anos de blog. Acho que agora começam a entender que de 2 em 2 também podemos vencer jogos.
[13:53:07] Paulo Murilo: Agora, para não darem o braço a torcer, esnobam a dupla armação, que poderá ser o ponto de desequilíbrio quando adversários que a utilizam nos enfrentarem nas fases finais. Vamos ver se tenho ou não razão…
[13:53:09] Alcir: Eu achei treinadinha e com possibilidades de brigar pelo titulo pelo que o pessoal que está lá fala
[13:55:09] Paulo Murilo: Alcir, base é para abastecer as futuras equipes seniors, e para tanto têm que apresentar algo que as diferenciem da mesmice. Esse é o ponto que realmente interessa, pois quem vai disputar olimpíadas é a equipe principal, e não subs.
[13:56:37] Alcir: começou
[13:56:43] Paulo Murilo: E essa equipe joga igualzinho ao que viemos jogando desde sempre, com menos chutes de três. E ainda falha demais na defesa. Essa é a minha preocupação, pois estamos repetindo à exaustão um modelo que todos os demais estão abandonando.
[13:56:56] Paulo Murilo: Vamos ao jogo que recomeçou
[13:56:58] Alcir: vou assistir ao jogo
[14:43:23] Paulo Murilo: Bom Alcir, a equipe venceu bem, mas me pareceu que os donos da casa se pautaram demais nos arremessos de três. Foi contestá-los um pouco que as bolas começaram a não cair, dai para frente a contagem se dilatou, finalizando preferencialmente de dois pontos, como deve ser.
[14:44:24] Paulo Murilo: Vou almoçar agora que estou morto de fome. Mais tarde, se você quiser, conversamos mais. Aliás, esse bate papo daria uma boa matéria para o blog, mas você quase não me deixa falar, ehehehehehe.
[14:44:35] Paulo Murilo: Uma abraço Alcir. Até mais.
Acessando as estatísticas após o jogo, constata-se alguns aspectos que pouco se encaixam com as suposições e avaliações dos que analisam jogos pelas mesmas, a começar pelo fato de que nesse jogo a equipe brasileira arremessou mais bolas de três ( 7/25 – 28%) do que a decantada artilharia da Letônia com seus 5/21 – 23.8% arremessos. Nos de dois pontos nos sobressaímos com 25/42 – 59.5%, contra 20/41 – 48.8% dos letonianos, e também nos LL ( 17/20 – 85%, contra 18/28 – 61.3% da Letônia).
Como praticamente empataram nos rebotes, 36/35 para nós, os pontos decisivos foram aqueles dentro do perímetro, onde o Raul ressuscitando o DPJ em grande estilo definiu sua alta pontuação sem uma tentativa sequer dos três pontos, esta sim, uma grande evolução técnica.
Com o afunilamento da competição, mais do que nunca a diferenciação técnico tática se fará sentir para a definição da mesma, e é nesse ponto que me preocupa o sistema de jogo da seleção, pois carece de um comportamento tático mais elaborado na direção de seus altos e ágeis centrais, presos que estão aos padrões dos pivôs clássicos e pesadões, assim como pela pouca habilidade nas fintas de seus alas, prioritariamente dirigidos às finalizações de três pontos, o que os afastam dos rebotes ofensivos, destinando as penetrações com finalizações ao armador em quadra, pois é uma equipe que raramente se utiliza da dupla armação. Defensivamente continuamos a falhar nas coberturas e ocupações de espaços nas linhas de passe, ocasionando um altíssimo número de faltas, principalmente de seus homens altos. Nos jogos mais difíceis que os aguardam, teremos dimensionada em todo seu realismo, a qualidade da preparação a que foram submetidos, tanto no preparo e sintonia fina dos fundamentos do jogo, como na percepção e leitura tática de seus oponentes, e por que não, de si mesmos. Ademais fico imaginando o quanto de qualidade e de contagem teriamos alcançado, se tivessemos substituido 15 dos perdidos 19 arremessos de três por
finalizações de dois…
Amém.
PS- Foto de um DPJ do Davi Rosseto, excelente opção para armadores. Clique na mesma para ampliá-la.
Bom dia professor.
Só corrigindo, a % porcentagem de LL esta invertida. 17/20 foi do Brasil.
Abraços
Corretíssimo Luiz, obrigado pelo oportuno reparo. Falhas às vezes ocorrem, fazem parte do trabalho. Obrigado, a correção já foi efetuada.
Paulo Murilo.
Professor Paulo, como está ?
Gostei muito do que vi. Talvez por ver um time brasileiro rodando a bola e procurando alguma ação, tenha me empolgado. É raro ver isso aqui nestas seleçoes, sempre tumultuadas.
Escrevi pra o Draft Brasil em um tom animador, pois gostei mesmo de ver Raul e Davi juntos em quadra, embora por um tempo menor do que deveria ser.Gostei de ver o Cristiano fazendo um bom jogo ofensivo e defensivo. Gostei do Bruno que pontuou de várias posições, não foi fominha, mas tbm nao foi ausente quando poderia definir, fez em boas situações.
Chutamos bastante de tres, porém em algumas oportunidades equilibrados mas realmente não temos um aproveitamento bom, o que pode mesmo ser trocado em mais chutes de dois. Fica meio claro que chutar de tres ptos não é pra qualquer um quando se chuta aberto e ainda assim, não cai. Este é um pto para se corrigir.
Mas Professor, se formos pensar no Brasil, em jogos que temos 70 chutes de tres para os dois times, chutar 37% de tres parece mesmo pouco. Talvez por isso a boa impressão. É um jogo diferente do que estamos vendo no adulto aqui.
Outra coisa 17/20 nos lances livres, fomos muito bem.
Lucas Nogueira ficou apenas 11 minutos em quadra e fez 4 faltas. Isso sim é algo para ser alertado. Raulzinho idem, pois jogou apenas 19 minutos. E em varios jogos ficou pendurado logo cedo.
E hoje, com os dois jogando por mais tempo e nosso time sem problemas de faltas, perdemos para a Australia e nao fizemos nem 50 ptos. Impossivel saber o que o ocorreu sem ter visto o jogo, que aparentemente nao passou.
Uma pena, porque ontem foi muito bom e achei que poderiamos repetir uma atuação em grande nível, que nao ficou focado só em um cara ou um movimento. Todo mundo participou e ajudou. Claro, a Letonia tem suas limitações mas conseguimos nos impor com nosso jogo.
Um abraço Professor.
Olá Henrique, parece que você advinhou, pois acabo de postar um artigo sobre o jogo de hoje, onde não faço comentários técnico táticos pela ausência de imagens, mas desenvolvo um raciocinio por sobre os incriveis erros de perdas de bola, principalmente pelos armadores da equipe, inadimissíveis pela posição que ocupam. Minha conhecida chatice no discurso sobre os fundamentos, creio ter atingido seu ápice, mas considero firmemente que a dita cuja continuará, e evoluirá, até que num dia futuro qualquer consigamos fazer basquetebol como deve ser feito, e não essa enganação com o dinheiro público que estão perpetrando, numa inominável festa de arromba com o nosso amado, porém fragiulizado, basquetebol.
Mas não devemos, em hipótese alguma desistir da luta Henrique, nunca.
Um abraço, Paulo.