CONTROVERSOS CONCEITOS…

Primeiro quarto – 24 x 2 – De um lado uma seleção brasileira atuando duramente na defesa, e contra atacando ferozmente. Do outro, um amontoado canadense desconexo e claramente ausente da competição, como que não a encarando para valer, conotando uma falsa impressão de domínio absoluto por parte de uma seleção com ainda alguns, e sérios problemas a serem resolvidos, como por exemplo, a teimosa continuidade dos arremessos de três, quando as ações dentro do perímetro se impunham, e se fizeram sentir nos quartos subseqüentes.

Segundo quarto – 19 x 16 – Ante a possibilidade de uma contagem avassaladora e vergonhosa na competição, mesmo tratando-a amistosamente  ( propositalmente?), a seleção canadense se estabelece para um confronto mais equilibrado, forçando com a tardia resolução o abrandamento de um placar inesperado.

Terceiro quarto – 17 x 20 – Eis que, ante uma defesa mais atuante e resoluta, revertendo o placar nesse momento do jogo, nossa seleção revela aqueles pontos nevrálgicos que nos tem atormentado nas últimas competições, inclusive sob o comando argentino, e cuja freqüência se torna preocupante, tais como: a instabilidade defensiva de alguns e importantes jogadores, incapazes de manterem o foco defensivo, aposta maior do técnico, por mais de um quarto de jogo, daí a intensa rotação dos mesmos, muito mais pelos fatores de concentração mental, do que de ordem física, cujas conseqüências podem se tornar trágicas quando no confronto para valer daqui a alguns e poucos dias em Mar del  Plata. A quase total ausência nos rebotes ofensivos, principalmente quando arremessos de fora do perímetro são intensamente tentados, numa demonstração da pouca mobilidade e velocidade de nossos pivôs (vejam as fotos…), fator que se não corrigido (e duvido que o seja, pelas características táticas da equipe, que não encontram respostas condizentes de pivôs muito apartados da cesta), ocasionará perdas cruciais nas fundamentais retomadas de bola, ainda mais numa equipe que preza “as bolinhas” acima de tudo, e neste caso em particular, a troca de 3 por 2 deveria ser a opção exigida, pois arremessos de curta e media distâncias por serem mais precisos otimizariam as tão sacrificadas oportunidades ofensivas, na maioria das vezes desperdiçadas nas aventurosas tentativas de três. Pode-se vencer, e bem, partidas de 2 em 2 pontos, por que não?

Quarto final – 28 x 32 – complementando um segundo tempo favorável aos canadenses, mais seriamente empenhados, desnudou-se de vez uma realidade indiscutível, a de que temos ainda muito o que aprender e assimilar dos conceitos do competente técnico argentino, principalmente quanto a um coletivismo desconhecido de alguns e importantes jogadores, já que produtos de uma imperfeita formação de base, onde o “me garanto” transcende o “nos garantimos”, produto maior do conceito básico de equipe, na qual, o pleno conhecimento e domínio dos fundamentos nivelam e igualam a todos em torno do mesmo, e sem os quais, nenhum sistema de jogo poderá ser estabelecido com confiabilidade, consistência e rigor.

Temos sérias e preocupantes lacunas que dificilmente poderão ser corrigidas no atual momento, não sei se por exigências contratuais, empresariais, ou mesmo de Q.I., mas fatos são, nossas deficiências na armação, onde numa competição de tal importância o fator experiência deveria ter sido obrigatoriamente observado, já que temos no país armadores possuidores de tais atributos, e que foram postergados em troca de uma renovação fictícia e comprometedora, assim como quanto aos pivôs, que frente ao dinamismo proposto aos mesmos pelo técnico argentino, incoerentemente foram selecionados aqueles que conotam uma antítese a tal conceito, já que pesados e lentos, deixando de lado outros mais rápidos e ágeis, o que os tornariam mais presentes no âmago do perímetro interno, mas sem a grife de atuarem fora do país, com as exceções do Huertas e do Spliter, justificando a mesma.

Mesmo assim, acredito que possamos evoluir um pouco, mas talvez, não no sentido de nos sentirmos seguros e tranqüilos quanto a uma classificação olímpica, mas certamente no pleno conhecimento de que, e de uma vez por todas, devemos nos concentrar num autêntico e estratégico trabalho de base, mas não esse que aí está, coercitivo e egocentrado num sistema único, garantidor de uma pseudo elite que tem como propósito, também único, o de manter o rentável nicho em que se encontram encastelados desde sempre.

Mas acredito e tenho a mais absoluta fé de que dias melhores hão de vir, para o soerguimento do grande jogo, enfim.

Amém.

PS-Clicar nas fotos para ampliá-las

Fotos-Reproduções da TV.



2 comentários

  1. Giancarlo 25.08.2011

    Olá, professor,

    Sempre é bom um pouco de paciência e precaução nestes momentos, não? Depois daquele primeiro quarto avassalador, parecia, pelo tom dos comentários ao vivo e pelas subseqüentes notas e comentários na comunidade on-line, que a Seleção havia encontrado a Luz (e aqui não há nenhum trocadilho com o sobrenome dessa valorosa família basqueteira). Que não havia nada a se corrigir, que a vaga olímpica já tem dono… E quantas vezes já não vimos esse filme antes?

    O próprio ala canadense entrevistado ao final do jogo, Carl English, admitiu que o Brasil pegou sua equipe desprevenida, pela intensidade apresentada em um torneio amistoso. Se não me engano, ele até usou a expressão “de guarda baixa”. Como o senhor destacou bem pelas parciais, a partir do primeiro quarto a partida foi outra, com quatro pontos de vantagem para eles. Talvez possamos levar em conta que nosso time tirou um pouco o pé, “deu aquela relaxada”. Talvez. E talvez isso seja “natural”. Mas será que é o recomendável e é o que o Magnano esperava? Aí não temos respostas.

    Também entendo que a postura agressiva da Seleção no primeiro quarto funcionou muito bem contra um time que tem um claro defeito — demonstrado durante toda a última década — em sua armação. Sem Steve Nash, o Canadá não apresenta um jogador capaz de municiar seus ótimos atletas no ataque — eles possuem um garoto que acaba de entrar no basquete universitário americano, chamado Myck Kabongo, que pode ser eventualmente uma solução, mas para daqui a uns dois, três anos, e ele já até pediu dispensa de convocação neste ano, então vai saber….

    Quando o mesmo Enlgish foi ‘recuado’ para a armação, ajudando Jermaine Anderson e Andy Rautins, eles estabilizaram sua transição, diminuíram os erros e equilibraram a partida. Ajudou aí também a preocupação em voltar com mais homens rapidamente para a defesa, para brecar nosso contra-ataque. Enfim, ajustes mínimos, não?

    Fico aqui pensando: está todo o nosso jogo no Pré-Olímpico baseado nessa tática de abafa? Considero que ontem foi ótima, pelas circunstâncias desse confronto específico. Mas imagino que isso não vá render nada contra a Argentina, por exemplo. Já que o bom senso — pensando na atual configuração dos dois países — nos empurra a esquecer qualquer chance diante dos hermanos, o problema a meu ver é saber se essa mesma estratégia vai surtir tanto efeito diante de Porto Rico, com Barea e Arroyo conduzindo a bola. Estamos falando claramente de jogadores superiores em fundamento, experiência e coragem em relação aos canadenses e até mesmo aos dominicanos, nossos adversários de hoje.

    Além disso, não custa destacar também que os canadenses converteram 7 de 13 tiros de três pontos, num aproveitamento excepcional de 54%, indo de encontro a sua constatação da cobertura falha nesse setor. Algo que pode custar muito caro contra os porto-riquenhos também.

    Mas aí vem essa história do talvez. De repente o time tirou o pé mesmo…

    Um abraço,
    Giancarlo.

  2. Basquete Brasil 25.08.2011

    Olha Giancarlo, “tirar o pé”, quando jogadores ambiciosos como os nossos, mesmo garantidos entre os doze, disputam posições que os valorizarão econômicamente mais à frente, creio não ser razoavelmente possivel, nem mesmo por parte do Magnano, que não abdicou em nenhum momento do jogo, do incentivo vocal ao lado da quadra.O que aconteceu de real, foi a retomada defensiva da equipe canadense, e como você mesmo descreveu, a melhoria de sua armação de jogadas quando exercida a pleno poder, e não em meia trava como no quarto inicial. Se alguém tirou o pé nesse jogo, foi a equipe canadense no inicio da contenda, para depois se arrepender do feito, porém, tarde demais.Quanto ao sistema de “abafa”, não persistirá ante uma armação competente e dupla, e quem viver verá, ainda mais quando nossos jogadores confundem pressão física com posicionamento corporal, que é a chave dos bons e eficientes marcadores.Nossas grandes chances são aquelas que o Magnano luta para serem aceitas e compreendidas por nossos craques, o jogo solidário, coletivo e complementado por uma escolha de arremessos mais seguros, de preferencia dentro do perimetro, somado ao comprometimento tático, numa ação contrária à dura realidade de suas precarias e falhas formações desde a base. Esse é o grande desafio do argentino, duríssimo, e que torço para que consiga.
    Vejo com satisfação que você também exercita sua curiosidade acerca daqueles detalhes técnico táticos que a maioria de nossos entendidos deixam passar, mais preocupados que estão com nomes, grifes e padrões prèt a porter que tolheram até hoje nosso desenvolvimento no grande jogo.
    Um abraço Giancarlo. Paulo.

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