INQUESTIONÁVEIS DIFERENÇAS…
Foram duas grandes semi finais no pré olímpico europeu, mas ambas com uma característica em comum, o fortíssimo jogo interior, onde montenegrinos, espanhóis, russos e franceses apostaram todas as suas fichas no mesmo, insistindo com seus pivôs extremamente ágeis e velozes, comprimindo as defesas, e consequentemente liberando o perímetro externo para os arremessos de média e longa distâncias, equilibrados e precisos.
Obviamente, criaram-se situações em que as defesas foram obrigadas ao combate externo, originando uma terceira via, a dos cortes e penetrações em alta velocidade, e o mais emblemático, é que tais situações técnico táticas foram as mesmas para as quatro equipes, variando somente nos momentos em que foram exequibilizadas.
Identicamente, espanhóis e franceses tiveram em seus terceiros quartos os momentos em que uma conjunção de jogo interno, penetrações externas e arremessos de três foi a responsável por suas incontestáveis vitórias, levando-os a final, já classificados para Londres.
Se formos mais explícitos, todos jogaram em dupla (e até tripla) armação, dois pivôs dentro do garrafão e um ala que em muitas oportunidades agia como um terceiro pivô, numa formação tática que desconhecemos(?) e não ousamos(?) utilizar por aqui, onde as exceções não contam…mesmo.
Era engraçado ouvir um dos comentaristas televisivos um tanto evasivo, já que entusiasta dos arremessos de três, que segundo ele é o modus vivendi do basquete moderno, ante a realidade do jogo interno de 2 em 2, apresentado pelas equipes semi-finalistas, tão em desacordo com suas inabaláveis concepções de jogo, omitindo o que naqueles momentos ficava claro à análise de quem entende o grande jogo, o fato de que para todas aquelas excelentes seleções, e por extensão, ao basquete que praticam em seus países, serem os arremessos de três complementares, e não a base de seu jogo.
Mas para além de qualquer outra consideração, um fato marcava e delimitava a atuação das excelentes equipes, seu insuperável sentido de equipe, onde cada peça exercia sua função visando um todo, fossem estrelas ou não, nas quais um Parker, um Navarro, um Kirilenko, um McCalabbe, trabalhava e lutava em torno de um bem comum, com a humildade dos grandes campeões.
Também nos classificamos no Pré Olímpico de Mar del Plata, e encontraremos franceses e espanhóis em Londres, mas será que estaremos em igualdade de condições técnico táticas com os mesmos e outras equipes não menos competentes?
Se não contarmos com uma trinca de bons armadores, podendo usar uma dupla armação, e não somente o Huertas, não jogarmos com pelo menos dois pivôs com boa movimentação ofensiva e ação antecipativa na defesa, como a marcação à frente dos pivôs e altamente treinados no bloqueio de rebotes, e uma boa dupla de alas, que atuem em penetração ou mesmo como um pivô móvel, e principalmente, se nos conscientizarmos de que os arremessos de três fazem parte do jogo, e não se constituem no jogo, teremos razoáveis chances em Londres, que só não serão de primeiro plano, pelo fato inquestionável da sempre presente deficiência que nos pune naqueles mais importantes e definidores momentos de um jogo decisivo, nossa ainda não contornada e corrigida deficiência nos fundamentos do jogo, que sonho seja a nossa meta prioritária para 2016.
Amanhã, às 15hs poderemos assistir a grande final entre espanhóis e franceses, num jogo que deveria ser gravado por todos os nossos técnicos, para sempre se lembrarem de como jogar com os pivôs, de como dividir responsabilidades entre dois armadores, de como devem atuar os alas, dentro ou fora do perímetro, e não ficarem atrelados ao sistema único de jogo, responsável pela perpetuação de técnicos e jogadores irmanados num corporativismo garantidor de empregos e posições destacadas em nosso engessado basquete.
Precisamos fugir e nos livrar dessas nefastas amarras, adotando conceitos plurais, abertos e instigantes, desde a base, priorizando os fundamentos individuais e coletivos, e principalmente preparando e treinando na pratica nossos futuros técnicos, acompanhando e assessorando-os em seus locais de trabalho, e não provisionando e certificando-os em cursilhos de 4-5 dias através uma ENTB/CBB/Cref, equivocada didática, pedagógica e tecnicamente falando.
Cinco anos nos separam da Olimpíada no Rio de Janeiro, e urge em caráter absolutamente prioritário mudarmos nossa forma de ver, estudar, pesquisar, preparar e desenvolver o grande jogo no país, e para começar que se façam presentes, atuantes e executantes os verdadeiros professores e técnicos existentes e politicamente esquecidos do país, pois fora isso nada mais poderá, como não está podendo, ajudar em nosso soerguimento. Essa é a nossa realidade.
Amém.
Foto-Divulgação FIBA.