DAMIRES E OS FUNDAMENTOS…

Terminado o primeiro quarto do jogo, simplesmente não consegui retornar para o segundo, o terceiro, mas o fiz no quarto, ainda incrédulo com o baixo nível nos fundamentos do jogo, por ambas as equipes. Se brasileiras e canadenses formam as duas melhores equipes deste pré olímpico, independendo de qual se classifique, muito pouco alcançarão em Londres, pois conseguem cometer erros básicos numa sucessão assustadora, senão constrangedora.

Claro, acontecem exceções, muito poucas, mas acontecem, e a Damires é uma delas, e muito mais por conta de sua espontânea vitalidade, força e coordenação motora, do que o real conhecimento e domínio dos fundamentos básicos, que aos 18 anos já deveriam estar bem aprendidos e sedimentados, para que ao nível de uma seleção nacional, se impusesse consistentemente, e não em oscilantes lampejos.

Assim como ela, a Clarissa e a Babi, possuem um grande talento, que será definitivamente perdido se uma forte indução aos fundamentos não for priorizada, muito além , muito mesmo, antes de introduzi-las em coreografias impostas e pranchetadas, sem que as mesmas possuam o competente domínio técnico individual para exequibilizá-las.

Em um artigo aqui publicado em 1/8/2011, UM TALENTO MVP, apontei um erro de empunhadura da Damires, que tornava seus arremessos inseguros e não direcionados com firmeza, comparando sua técnica com a da jogadora americana Hartley, no momento decisivo da soltura da bola. No jogo de ontem, vislumbrei uma boa evolução nessa técnica (vide fotos), na qual a palma da mão cedeu o contato na bola às pontas dos dedos, tornando factível o alinhamento do polegar e mínimo ao nível horizontal do aro da cesta, dando aos três dedos centrais a correta função de acelerar e impulsionar a bola à mesma. Seu bom aproveitamento nos curtos arremessos, e mesmo nos longos durante o jogo, atestou essa bem vinda evolução, contrastando com algumas sérias falhas a ser corrigidas o mais rápido que for possível.

Damires pegou 11 rebotes, mas em todos eles chegou ao solo com o rosto direcionado da mesma forma de quando os captou no ar, que quando defensivos, com a vista voltada para a linha final. Se no momento do domínio da bola girasse seu corpo em 180 graus, teria o mais amplo domínio visual da quadra possível, podendo rapidamente localizar companheiras livres, desencadeando contra ataques mais velozes, ou mesmo saindo driblando para o ataque. Nos ofensivos, tal rotação a dotaria do posicionamento de tripla ameaça, podendo driblar, passar ou arremessar com mais precisão, já que evitaria o bloqueio verticalizado das defensoras.

Mas é no ato de driblar, origem dos cortes, mudanças de direção, e decorrentes passes em velocidade, que comete o mais elementar dos erros, o olhar para a bola (vide foto do jogo com o Paraguai), quando perde o contato visual de suas companheiras e o posicionamento defensivo das adversárias, tornando a ação eminentemente pessoal, que é o erro mais freqüente da maioria das alas e pivôs da seleção, sem contar a ausência da ambidestralidade.

Em hipótese alguma um(a) jogador(a) deverá olhar para a bola, em nenhuma situação de jogo, e sim percebê-la se utilizando da visão periférica, e a angular quando exerce o drible. São visões que se complementam na dinâmica do jogo, que juntamente ao domínio do equilíbrio corporal, compõem as bases estruturais do mesmo, do grande jogo.

Como vemos, talento, estatura, força física, inteligência e criatividade temos em boa conta, nos faltando fundamentação técnica, sem a qual nenhum sistema de jogo funcionará a contento, se é que funcionará, a não ser nas ilusórias e fantasiosas mentes de muitos de nossos técnicos e suas gloriosas pranchetas, só que elas não driblam, passam, fintam, defendem, saltam, reboteiam e arremessam com um boa dose de qualidade e competência. Ficam lá, no colo ou no chão, emitindo traços e rabiscos desconexos, como a exigir movimentos e ações através uma sofisticada coreografia, cuja concepção ignora propositalmente que a maioria daqueles atentos circundantes não possui fundamentação técnica para atendê-la. Essa é a triste realidade. Tem correção?

Sim, mas não nas mãos de estrategistas.

Amém.

Fotos O Globo e Divulgação FIBA. Clique nas mesmas para ampliá-las.



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