A EQUIVOCADA BASE…
- Clayton 11.10.2011
Caro Professor Paulo Murilo,
Dias atrás levei as alunas de minha escola para uma competição escolar, são meninas com faixa etária de 12 anos.
Não pude participar do congresso técnico, um professor representante da escola foi, no entanto, não foi acatada a sugestão de a competição ser no formato de Basquete 3, conforme a sua sugestão tempos atrás.
Porém, ficou decidido que não poderia ter marcação pressão na saída de bola, dessa forma, somente marcação depois do meio da quadra.
No jogo, o professor da equipe adversária, meu amigo por sinal, ficou revoltado porque meu time não estava fazendo marcação por zona, e acabou inclusive sendo expulso do jogo pelas insistentes reclamações.
Ao termino do jogo, conversamos, e disse a ele que a única orientação que eu tinha recebido era sobre a não marcação sob pressão, e minhas alunas nem saberiam jogar em zona.
Não me recordo se li aqui no blog, mas me parece que nas categorias de base é melhor aprender a marcação individual, pois quando nas categorias maiores, o atleta terá dificuldades de realizar com eficiência a marcação, o Professor compartilha dessa opinião?
As meninas jogaram sem posições pré-definidas, jogaram livres pela quadra, apenas enfatizei a importância de todas voltarem para realizar a marcação. Para minha surpresa, no segundo ano que participamos ganhamos de uma escola com tradição no basquete, tudo a base de pequenos jogos, basquete 3, sem focar na realização de exercícios sem muita conexão com a realidade do jogo. Me parece que está dando resultados…
Abraços!
Recebi esse comentário ao artigo O Futuro… de 8/10/11, e que bem demonstra o estágio em que se encontra a formação de base em nosso país, e vindo de uma cidade de tradição no basquete como Sorocaba.
O Prof. Clayton, que participa bastante com as discussões aqui no blog, nos coloca de frente a um dos maiores fatores de nossa fragilidade nos fundamentos, a mais completa ausência de uma orientação fortemente baseada em conceitos de ensino e aprendizagem voltados ao crescimento físico, nervoso e mental gradual dos jovens que se iniciam na pratica desportiva, agraciados com regras adaptadas às suas condições de maturidade que seguem ritmos pessoais diferenciados, mesmo dentro de suas faixas etárias, no que se constitui na verdadeira missão de uma ENTB compromissada com essa tão critica necessidade ainda bem ausente.
Por muitas vezes aqui publiquei artigos que defendiam adaptações às regras do jogo, a fim de compatibilizá-las com as limitações inerentes a cada faixa etária dos jovens alunos, respeitando-as e desenvolvendo-as dentro das naturais exigências de cada uma delas, numa progressão coerente e acima de tudo, responsável.
Dentre as necessárias adaptações destaco:
– Adequar a altura das cestas e tamanho e peso da bola para os mirins e infantis, no sentido de tornar o ato técnico de arremesso e controle de bola dissociado do fator força sobrepujando a técnica de execução.
– A proibição das defesas zonais até a categoria infanto juvenil, se bem pretendermos desenvolver as técnicas defensivas como um fundamento prioritário ao desenvolvimento do jogo no país.
– A extensão do tempo de posse de bola para 40seg para mirins e infantis, e 35seg para infantos, no intuito de reforçarmos os fundamentos defensivos, inclusive sob o aspecto físico mental, base para as demais formas e conceitos defensivos mais sofisticados, além do evidente reforço nas concepções ofensivas pela maior permanência da posse de bola, quando a leitura progressiva de jogo encontrará um sólido campo de experimentações e natural evolução.
– Nas divisões iniciais, a obrigatoriedade de participação no jogo de pelo menos um dos quartos, e nunca mais de dois quartos sucessivamente, magistral regra do minibasquete, que promove e reforça o principio de equipe desde o inicio do processo de ensino e aprendizagem do grande jogo.
Enfim, muito ainda poderia ser dito e discutido em torno de um tema tão básico e apaixonante como esse, no que seria o combustível inesgotável de uma verdadeira associação de técnicos voltada para o desenvolvimento efetivo do grande jogo, onde a participação de todos contribuiria para tal fim, tendo como começo a vontade férrea de atingi-lo. Enquanto afastados e dissociados dessa magna função, nossos técnicos podem ser considerados, também, responsáveis pelo atual e fragmentado estágio na formação de base, sem a qual não iremos a lugar nenhum no conceito interno, sequer no internacional.
Eis o grande desafio que se apresenta, e que julgo absolutamente inadiável.
Amém.
FOTOS-Enviadas pelo Prof. Washington Jovem de Vitória,ES, num bom trabalho de formação de base.
Ao professor Clayton, meus cumprimentos. Nas minhas turmas de iniciação (até 10 anos), também é proibido marcar zona, nem mesmo 2 contra 1 (na verdade nunca falei sobre isso a eles), marcar só depois da linha de 3 metros do volei. E sempre alguém diferente tem que levar a bola ao ataque.
A zona só incluo para os 11-13 para eles saberem o que é, e para auxiliar no treino de algum conceito de ataque.
A pressão eu utilizo com as equipes que treinam de modo mais forte para que eles estejam preparados numa situação em que a equipe adversária a utilize. Tanto que neste fim de semana, estava perdendo um jogo para uma equipe de mesmo nível, e que jogava de maneira igual. Só utilizei pressão nos últimos cinco minutos e pelo jogo estar bem desfavorável, a fim de despertar a garra das pequenas. E olha que foi difícil elas fazerem pressão, pois estão acostumadas a sempre voltar. A todo momento tinha que lhes lembrar o que deveriam fazer, era até engraçado, pois elas me questionavam: “mas o professor sempre diz pra gente voltar”.
Acho que utilizar destes artifícios nos treinos é interessante de modo a atingir algo específico, mas nunca como regra da equipe iniciante.
Prezado Mauricio, se houvesse nas divisões iniciais a obrigatoriedade da defesa individual, sua equipe e todas as demais não sofreriam as restrições relatadas por você. Claro que tal exigência evoluiria para a permissão das zonais mais adiante, não se configurando um monopolio defensivo, parecido com o que combato e critico no plano ofensivo. Seria uma tentativa valida de implantarmos hábitos e atitudes no posicionamento e na compreensão do que seja defender de fato, pelo conhecimento prático de fazê-lo por todo o tempo, aliado ao entendimento advindo de uma leitura das situações vividas de jogo. Mas será que alcançaremos tal estágio dentro das concepções técnicas existentes? Duvido.
Um abraço, Paulo Murilo.
Pois é Professor, mas penso que o pior é quando um profissional, muitas vezes amigo seu, te engana para se sebressair ou apenas fazer “moral” com o chefe. Isso aconteceu comigo duas vezes. Na primeira fui convidado para um jogo entre centros esportivos e me pediram para levar meninas entre 10 e 12 anos, quando chegamos lá jogamos contra meninas de 14, 15 anos. Conseguimos manter o jogo equilibrado até certa altura, as meninas do outro time eram de uma turma recém formada, mas no final a relação altura-força acabou prevalecendo.
Na segunda vez um Professor amigo meu de uma cidade vizinha me ligou desesperado por que precisava de um time para jogar e não estava encontrando nenhum time com idades entre 10 e 12 anos, que o secretário de esportes da cidade iria assistir o jogo e blá blá blá.Acertamos algumas questões sobre as regras (tipo de marcação, tempo, etc.)e quando chegamos lá para jogar o que aconteceu???? Nada foi cumprido.Ele colocou a sua equipe para marcar pressão quadra toda do começo ao final do jogo. Meus alunos mau conseguiram passar do meio da quadra. Resultado, fomos massacrados.
O interessante é que no final do jogo eles vem te cumprimentar como se nada tivesse acontecido, como se não tivessemos combinado nada…..tudo normal!!
Onde está o respeito, o companheirismo que deve haver enquanto profissionais da mesma classe?
Mas o principal, e o nosso compromisso como PROFESSORES, EDUCADORES,que é o que acredito que devemos ser na fase de formação, onde fica esse compromisso?
Concordo com o Professor Paulo Murilo, acho muito difícil uma mudança nesse cenário, por motivos que todos nós conhecemos.
Trabalho há algum tempo respeitando os princípios que o Professor Paulo expôs e a do Mauricio, quanto à questão da alternância na condução de bola para que todos participem, vivenciem o máximo de experiências variadas possíveis e não haja especialização em posições.Estou gostando muito dos resultados.
Um conceito interessante que estou começando a utilizar e gostaria da opinião do Professor Paulo Murilo é o de marcação “semi-passiva” do Professor Hermínio Barreto, que acredito que o Professor deva saber de quem se trata, já que fez o seu doutorado em Portugal.
Gostei muito da pedagogia utilizada por ele, pena que encontrei pouco material na internet. Vou procurar adquirir algum livro dele.
Um grande abraço!!!
Cleverson.
Prezado Cleverson, estou utilizando seu comentário como tema do artigo de hoje, e espero contar com a sua aprovação. Conheço demais o Prof. Herminio Barreto, grande amigo e companheiro do Gabinete de Basquetebol da FMH/UTL, e que muito me ajudou quando do Doutorado naquela excelente instituição. Creio ter algum material didático do mesmo guardado aqui em casa, e logo que o encontre farei chegar às suas mãos.
Um abraço, Paulo Murilo.
Com certeza Professor!
Já estou ansioso por receber e imensamente agradecido Professor.
Um abraço.
Cleverson.