DEFÊSA-UMA ARTE…
Enfim um jogo, não completo, mas a partir do final do segundo quarto a emissora do bispo, por alguma deferência, transmite o jogo com os Estados Unidos até o seu final.
O que vemos então? Uma equipe americana alinhavada, desconexa, demonstrando ter sido reunida no aeroporto, e claramente jogando nos moldes da NBA, onde o coletivismo passa a léguas de distância, salvo algumas poucas exceções, como o Dallas campeão.
A equipe brasileira, encontrando uma incomum frouxidão defensiva americana, jogando com seus pivôs, deslancha num marcador confortável, ainda mais quando defrontada com uma ofensiva pífia do outro lado.
Tudo ia muito bem, apesar das nossas tradicionais e visíveis limitações nos fundamentos do jogo, até o momento em que a distância de 17 pontos fez acender a luz vermelha no banco americano. E o que fez o técnico daquele momento em diante? Isso mesmo, acertaram, impeliu a equipe a defender como sempre souberam fazer, fustigando nossa armação no plano horizontal (desculpem, um esclarecimento- defender no plano horizontal quer dizer que todo jogador de posse da bola na armação de jogadas deve ser pressionado ao máximo, não para se apossar da bola, e sim o induzindo à penetração horizontal no limite do equilíbrio instável), levando-a de encontro ao âmago da defesa, onde o plano vertical (característico das altas coberturas por parte dos pivôs ali postados) abortavam as tentativas de cestas, principalmente se intentadas pelos armadores, originando retomadas de bola, e conseqüentes contra ataques velozes. E mais, reconhecendo a sua fragilidade técnico tática, abriu os jogadores ao enfrentamento com a defesa num 1 x 1 classico, de onde se originou a reversão do placar num 13 x 0 previsível e acachapante. Só isso, forte defesa baseada em sólidos conhecimentos dos fundamentos da mesma, e ataque incidindo sobre uma equipe sem aqueles mesmos conhecimentos na arte de defender.
Mas o mais emblemático na transmissão foi ouvir comentários desse quilate: “Se eles estão batendo na defesa, temos de bater também, e se tentarem a cesta fácil que vá para os lances livres com o braço marcado de vermelho”. E a pérola definitiva – “Temos de jogar no limite que separa a falta da regra do jogo”. Se bem compreendi, sugeria a utilização da “porrada”, como método de defesa. Me desculpe o laureado comentarista, que nunca foi um bom defensor, mas ainda prefiro que nossos jovens aprendam a defender desde cedo, o que ainda é um fator que teimamos em desprezar, trocando-o por um processo orgiástico e autofágico de arremessos de três, prodigo em seu crescimento, exatamente pela ausência defensiva. E ai estão os resultados.
O Magnano conseguiu no Pré uma façanha digna de ser mencionada, a implantação de uma defesa solidária, mas não o implemento de princípios de defesa pessoal, que é decorrente de longos anos de prática e treinos exaustivos, atingindo pela ocupação massiva o centro da defesa, mas sendo ainda vencida nos confrontos puros de1x1, e nas anteposições aos longos arremessos.
Essa é a meta que temos de atingir a longo prazo, o ensino correto da arte de defender, onde a proibição das defesas zonais e a extensão do tempo de posse de bola nas divisões de base referendariam e fixariam os princípios clássicos da defesa individual, a mesma que uma capenga seleção americana nos impôs ontem, pelo simples fato de terem aprendido como executá-la, desde sua formação de base.
Quando isto for razoavelmente atingido, nossas habilidades ofensivas serão realçadas, pois todo avanço defensivo gera um ofensivo, e vice-versa, numa evolução técnica, e por que não, tática, levando a frente e a grandes conquistas o grande jogo entre nós.
Amém.
Foto-Divulgação FIBA.