SUTÍS MUDANÇAS…

“Tripla armação funciona e Tijuca/Rio de Janeiro derrota a Liga Sorocabana” (Blog Basketeria em 1/12/2011), assim como tem merecido destaque nos blogs as duplas armações que aos poucos vão se impondo em algumas equipes participantes do NBB.

Mas nada comparável ao decréscimo nos arremessos de três pontos, exatamente pela inclusão da dupla armação, responsável por uma distribuição mais equitativa nos passes interiores de alta qualidade e, por conseguinte alimentando os pivôs em suas investidas de frente para a cesta, com velocidade e maior precisão.

Outra tendência em conseqüência da dupla armação é o retorno do DPJ (foto) nas finalizações, pois o sistemático apoio entre os armadores propicia espaços para esses arremessos de media distância, com um grau de precisão bem mais elevado do que os de três pontos, além de situar os pivôs dentro do perímetro, incrementando substancialmente as reais possibilidades nos rebotes ofensivos, mantendo todos os atacantes no foco das ações.

No jogo entre o Tijuca e a Liga Sorocabana, os pivôs Casé (foto) e Coloneze contabilizaram juntos 34 pontos dos 78 conseguidos por sua equipe, que atuando com três armadores (André, Arnaldo e Gegê) os municiaram permanentemente, apesar de falharem 16 arremessos de três dos 21 tentados. Se a metade dos mesmos fosse orientada aos de dois pontos, a diferença no placar final teria sido mais ampla. A equipe do Flamengo em seu jogo com Bauru, invicta até esse jogo, arremessou um inédito 1/7 nos três pontos (14%), contrastando com os 35/52 de dois pontos (67%) alcançados ao final da partida, numa inconteste prova que de dois em dois pontos pode uma equipe de qualidade atingir contagens acima dos oitenta pontos, em vez da desvairada sangria dos arremessos de três.

Orientei-me nas analises acima pelo comentário de outros blogs e pela estatística oficial da LNB, numa unusual ação (da qual me desculpo), incomum e pontual, para expor uma tendência que vem se fazendo presente, na medida em que um maior conhecimento e domínio da dupla armação e decorrente utilização dos pivôs aos poucos se estabelecem em algumas das equipes do NBB, numa evolução técnico tática significativa para o grande jogo no país.

Somente consegui assistir ao segundo tempo do jogo Paulistano e Limeira, do qual me eximo de maiores comentários pela franciscana pobreza do que foi apresentado, num jogo absolutamente falho e inexpressivo.

Porém, outro aspecto sobre o que de inédito vem ocorrendo, é o fato de que a utilização de dois ou mais armadores, e dois ou mais pivôs no âmago do perímetro, em continuidade ao sistema único, determina somente uma adaptação, uma substituição de alas por armadores, com sua conseqüente melhoria técnica nos dribles, passes e fintas, e não uma mudança nos sistemas de jogo, que deveriam estar orientados a essa nova postura, como forma de otimizá-los, em continuidade às suas melhores formações através treinamento especifico, desde as divisões de base, numa retomada segura e progressiva ao encontro de sistemas diferenciados da mesmice endêmica que ai está, sacramentada e cristalizada de duas décadas para cá.

Temos a obrigação de pesquisar, estudar, planejar e aplicar novas metodologias de treino, com as conseqüentes didáticas de como exequibilizá-las e divulgá-las através da informação, pulverizando-a aos mais recônditos lugares desse continental país ao encontro dos jovens técnicos, como os mais experientes também,  no esforço maior de soerguimento do grande jogo entre nós, pois merecemos alcançar tão ansiado objetivo, através o trabalho e esforço de todos que o amam, em confronto direto àqueles que o subjugam pela mediocridade e retrógada  mesmice.

Amém.

Fotos – Colin Foster e Divulgação LNB



4 comentários

  1. Victor Dames 03.12.2011

    Nobilíssimo professor, confesso que quando assisti essa rodada dupla “in loco”, lembrei-me logo do senhor, pelo seu ótimo artigo “EVOLUINDO…”, ao presenciar a tripla armação do Tijuca (só peguei o último quarto, quando a equipe atuou praticamente o tempo todo nesse esquema). Enquanto escrevo, vejo que os tijucanos repetem a estratégia com o mesmo quinteto contra Bauru, e o placar vai demonstrando o sucesso de tal medida.

    O Fla também me agradou, o Leandrinho não destoa como armador, como muitos pensavam. Alternando bem seu jogo de velocidade para a cesta, com a troca de passes apoiados por alas que atuam como armadores (Jackson e Marcelinho), ofensivamente os rubros-negros vão muito bem, especialmente porque criam-se espaços para os pivôs finalizarem com muito espaço entre a defesa adversária.

    Também me surpreendi, positivamente, quando cheguei em casa e conferi as estatísticas, vendo apenas 1/7 nos arremessos de três do Fla. E olha que as tentativas ficaram concentradas apenas no principal especialista, o Marcelinho, com 1/5. E me lembro de que no máximo duas bolas dessas foram forçadas, com os outros arremessos bem selecionados. E creio que o time todo só forçou mais umas duas bolas de longe (uma do Leandrinho, no estouro, que não deu aro, e uma do Caio Torres, acertada do meio da quadra, equivocadamente anulada pela arbitragem pelo estouro do cronômetro, quando na verdade ainda havia tempo de jogo).

    Quem sabe teremos uma temporada de alguma evolução técnica, saindo da velha mesmice? Ainda que os avanços sejam pontuais, é salutar que ao menos estajamos vendo alguma estabilidade no NBB a ponto de que os treinadores procurem finalmente caminhos avançados para suas equipes.

    Abraços!

  2. Basquete Brasil 03.12.2011

    Sem dúvida Victor, vamos aos pouquinhos testemunhando bem vindas mudanças no “jeito” de jogarmos basquete, indo de encontro a uma valorização do jogador, e não uma coercitiva algema que o vem prendendo a uma perversa padronização tática, geração a geração, por mais de duas décadas.
    Voltando-nos a sistemas que o priorizem, suas habilidades, sua criatividade e sua liberdade no livre pensar e enxergar o jogo, da base às categorias maiores, treinando-os e preparando-os nos fundamentos básicos, reencontraremos o caminho perdido a muito, pela ignorante, indigente e irresponsável liderança que nos lançou nesse limbo que parecia não ter fim. Triste fico por ter iniciado essa saga no plano teórico aqui pelo blog, e no prático quando no Saldanha, e de não ter sido a mim permitido a continuidade da mesma. No entanto, torço profunda e honestamente para que continuemos a trilhar novos caminhos, na perene busca do soerguimento do grande jogo.
    Obrigado por sua sempre atuante participação aqui nesta humilde trincheira, de coração. Paulo.

  3. Victor Dames 03.12.2011

    De qualquer forma, professor, parece que a semente que o senhor plantou começa a florescer. Pena realmente que o senhor não possa ser o jardineiro desse florescimento. Quem sabe com novos investimentos, novas equipes, retorno de outras… Tijuca e LSB estão pra nos dar esperanças, espero que novos dirigentes venham respirar esses novos ares e olhar para uma nova mentalidade implantada através da antiga sabedoria, como essa que advém do senhor…

    Quanta a participação, é sempre um prazer discutir aqui o que dificilmente se tem em outros blogs, a análise apaixonada, mas racional. Nos demais, prefiro me contentar com notícias, pois são fonte mais intensa do que a grande mídia, por incrível que pareça, infelizmente.

    Abraços!

  4. Basquete Brasil 04.12.2011

    No fim das contas Victor, prevalece o dever cumprido, o não se omitir jamais, e a não perda da capacidade de indignação ante tanta insensibilidade, tanta pobreza criativa. E vida que segue, sempre e decididamente em frente.
    Um abraço, Paulo.

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