A 120 KM/H…
“Quero ver o time a 120 km/h”- Foi essa a instrução do técnico do Flamengo ao início do jogo, e que justiça seja feita, foi obedecida integralmente, pois daí para diante pudemos testemunhar uma das maiores correrias vistas em uma quadra de jogo, e o mais emblemático, seguida pela equipe do Paulistano, como se tivessem combinado a ação previamente. E mais emblemático ainda foi a constatação de que o jogo preliminar, entre Bauru e Brasília tenha se pautado da mesma forma. Em síntese, as quatro finalistas da LDO propuseram na prática mais uma competição de corrida em velocidade, do que um jogo pensado e desenvolvido com técnica apurada nos fundamentos, e na qualidade dos sistemas propostos. Aliás, o sistema proposto, o único que conhecem e praticam, onde pivôs continuam jogando no perímetro externo, bloqueando, armando (foto) ou arremessando à cesta, de três pontos; armadores se situando fora do foco das ações em sua corridas por trás das defesas; uma infinidade de passes contornando as defesas, originando penetrações forçadas pelo esgotamento dos 24seg , com arremessos desequilibrados, e muitas vezes fora do aro da cesta.
Ao lembrar o grande Wlamir Marques, que sempre afirma ser a extrema velocidade inibidora do raciocínio, do pensar o jogo, e que os jovens deveriam correr menos e pensar mais, podemos aquilatar o quanto de desperdício de talentos está ocorrendo com essa frenética forma de jogar.
Perdas e perdas de bola acarretadas por dribles desconexos, fintas equivocadas, passes fora do tempo, arremessos despropositados, posicionamentos defensivos errados dentro do perímetro e inexistentes fora dele, num incentivo explícito aos arremessos de três; movimentação nula sem a bola é agravada pelo desenfreado ritmo imposto por um modelo anacrônico, formatado e padronizado do sistema único de jogo.
Equipes com dois, e até três jogadores com mais de 2,05m não sabendo jogar com os mesmos, mantendo-os, a exemplo da divisão adulta, como buscadores das bolas perdidas dos longos arremessos de seus companheiros, desconhecendo os giros de 180 graus ao conquistarem os rebotes, forçados e orientados a bloqueios muito distantes do perímetro interno, sua destinação de direito, enfim, atuando como coadjuvantes eternos em suas equipes. Mas quando recebem um passe ao lado do garrafão, e iniciam os dribles de costas para a cesta, todo o restante da equipe, como que paralisada pela tentativa de seu pivô, não se move da inércia catatônica de que fica possuída, caracterizando seu desconhecimento do que venha a ser jogar sem a bola, principalmente quando a mesma se situa bem dentro da zona restritiva.
No entanto, bons valores justificam a regra geral com suas habilidades de exceção, principalmente aqueles que já atuam na categoria adulta, como o Gui, o Gegê, o Fred, o André, o Ronald, e outros com poucas oportunidades na mesma, mas que pouco se desenvolverão se não forem profundamente exigidos no preparo e pratica constante dos fundamentos, e que tenham a oportunidade de se situarem técnica e taticamente em sistemas outros de jogo, além do coercitivo e inibidor sistema único, onde os grandes beneficiários desde sempre, os técnicos, hesitarão muito em abandonar suas privilegiadas posições de estrategistas, que os situam pratica e pretensamente, como os donos do jogo, como bem comprovam suas pranchetas, pródigas e prolixas na elaboração de jogadas infalíveis, mas sempre e completamente omissas quanto ao posicionamento defensivo, mesmo primário, de seus oponentes face ao que projetam e planejam.
Nosso basquete de base se encontra absolutamente órfão de criatividade, de espontaneidade, de domínio dos fundamentos, de conhecimentos técnico táticos outros que não o onipresente sistema único, e que agora, como grande conquista, se encontra sob o jugo da velocidade inconseqüente, impensada e estéril, aquela situada a 120 km/h.
Frear para pensar com mais lógica e raciocínio, seria uma boa solução, um bom começo para acelerar o processo de amadurecimento técnico e tático desses jovens. Eles já fazem por merecer um melhor preparo, visando um futuro mais promissor.
Amém.
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