VÍCIOS ADQUIRIDOS…

Sem dúvida alguma a LDO é um campeonato que vem preencher um enorme vácuo na trajetória da maioria dos jovens que saem das divisões de base em direção a elite do basquetebol nacional.

No entanto, não basta participar do mesmo sem que possuam o preparo básico adquirido nas divisões de formação, principalmente quanto aos fundamentos individuais e coletivos do grande jogo. E sob esse aspecto eclode uma questão – estarão esses jovens realmente preparados para a divisão principal?

Analisemos dois dos melhores armadores dessa competição, o Gegê da equipe do Flamengo, e o Raphael de Brasília, ambos com alguma experiência em equipes do NBB, ambos considerados reais promessas para 2016, mas que, no entanto, a exemplo de grande parte dos armadores das demais equipes participantes da LDO, em absoluto estão preparados tecnicamente para exercer um papel de líderes de equipes dentro do atual estágio em que se encontram no domínio da ferramenta básica para tão importante papel, os fundamentos do jogo.

Vejamos o jogo de ontem, quando ambos se enfrentaram ofensiva e defensivamente, arbitrados por um trio de juízes, sendo um deles arbitro internacional, mas que, omitindo a aplicação das regras, permitiram que ambos as violassem sucessiva e permanentemente durante toda a partida, ao driblarem incorretamente nas mudanças de direção e nos cortes laterais e em reversões, paralisando momentaneamente a bola em suas mãos (e por isso mesmo interrompendo sua trajetória livre de encontro ao solo), caracterizando a infração de condução, se estivessem em parada momentânea, ou andar com a bola, se em deslocamento. Por se tratar de um movimento muito rápido, a captação fotográfica do mesmo é bastante difícil, mas o exemplo acima (segunda foto) demonstra com clareza a violação, pois a bola se encontra espalmada por baixo, caracterizando a interrupção da sua trajetória descendente de encontro ao solo. A visão acurada do vídeo do jogo demonstra inequivocamente, que tal ação foi desenvolvida em todo seu transcorrer, por ambos os jogadores, em grande velocidade, “facilitando”, pela imobilidade transitória da bola, transposições defensivas e penetrações improváveis se executadas dentro do espírito das leis do jogo, e tudo sob o beneplácito da arbitragem. Essa violação, que é reprimida na Europa, bastante tolerada na NBA (afinal o espetáculo deve priorizar a estética…) e eventualmente punida por alguns de nossos juízes, que erroneamente a classificam como condução, quando o jogador está em movimento, no que seria andar com a bola, pois o binômio ritmo-passada é descontinuado, gerando a violação.

Outra falha lamentável nos fundamentos é a da imprecisão e aplicação dos passes, onde um dos preceitos mais dogmáticos existentes no grande jogo é o de hipótese alguma ser permitido que os mesmos sejam realizados paralelamente à linha final, pois se interceptados tornam impossível sua defesa, principalmente se originados pelo (s) armador (es) da equipe. A primeira foto demonstra com clareza uma das muitas tentativas executadas desse tipo de passe nos jogos da LDO.

Muitas outras falhas nos fundamentos poderiam ser apontadas, para serem discutidas à luz da grande carência formativa de nossas gerações de jovens, muito mais treinados e orientados às táticas e sistemas de jogo, do que ao efetivo domínio dos fundamentos, sem os quais aquelas se tornam inócuas e falimentares.

No entanto, aquelas duas apontadas acima, que são características dos armadores em suas funções de levadores de bola, fintadores estratégicos e alimentadores de seus companheiros, fora e dentro dos perímetros de jogo, são por demais importantes e decisivas para serem minimizadas em sua execução e finalidade, quando está em jogo o futuro do nosso basquetebol, que ainda padece da ignorância de alguns segmentos que o compõe, sobre o verdadeiro conhecimento exigido no preparo de nossos jovens, em direção à plenitude dos fundamentos do grande jogo.

Vícios adquiridos na formação são de difícil, (sem ser impossível) correção, exigindo de todos, professores, técnicos, e por que não, juízes, atenção e cuidados constantes para que não se fixem e se perpetuem para muito além da prática deste grande, grandíssimo jogo.

Amém.

Fotos-Reproduções da TV. Clique nas mesmas para ampliá-las.



9 comentários

  1. washington jovem 29.12.2011

    Professor,

    Vale ressaltar que a preocupação da arbitragem, não apenas hoje mais em todo transcorrer da competição foi com o contato entre os jogadores. esquecendo-se assim do mais importante que é observar os movimentos tantos de saída(finta) em direção a cesta, como também no drible como o senhor mesmo comentou. Ao meu entender à arbitragem tá deixando o jogo correr demais fazendo vista grossa para os detalhes(fintas. dribles, mudança de direção, etc….), isso acontece tanto na LDO como também na NBB, a quantidade de violações que a arbitragem não marcar é absurda, mas isso tem que ser mudado precisamos lapidar mais os atletas quanto aos fundamentos básicos(Finta, DPJ, etc…). Ai fica a pergunta será que só nós enxergamos esse erros ?
    Um abraço ao Senhor , e um Feliz Ano Novo.

  2. Victor Dames 29.12.2011

    Caro Professor, sua visão sempre precisa e técnica do grande jogo é dificilmente contestável. Mas me proponho a apenas apontar outro fator (ainda que já indiretamente abordado pelo senhor): o péssimo nível de arbitragem. Será que muitos técnicos, de maneira equivocada, não são influenciados pela interpretação errônea dos árbitros das regras? Não há um direcionamento errado dos jovens na base para violar as regras, já que serão contemplados pela aplicação incorreta das mesmas pelos juízes? É claro que os técnicos que assim agem estão contribuindo para uma má formação de seus jogadores, mas também é preciso apontar a parcela de culpa na má leitura de jogo por aqueles que precisam enxergá-lo sem defeitos, para corretamente aplicar as regras cabíveis.

    Abraços, e feliz 2012. Aqui estaremos para mais aprender e sempre que possível, enriquecer o salutar debate para o engrandecimento do já grande jogo!

  3. ALEXANDRE MIRANDA 30.12.2011

    Boas constatações Professor, realmente havias erros que até um expectador comum poderia notar. Mas e a mentalidade cristalizada?

    A de que aos jovens é preciso tolerar algumas precipitações. E com isso deixa-se passar o fundamental. Que jovens possuem um controle emocional mais instável, concordo, mas em questão de fundamentos não poderia haver tolerância para erros.

    E quanto aos técnicos, impressionante a forma como mediam a elucidação de problemas no jogo. O post anterior ilustra isto muito bem, professor. Na grande final os pedidos de tempo eram na maioria para descrever algo subjetivo, importante afirmo (“…vamo lá moçada, num pode perder…” ou “…cade a garra, tá apagado…”) mas deve-se acoplar algo substancial a requerida mudança de procedimentos e atitudes. Mas não posso ser injusto, a certa hora eu ouvi o técnico de Bauru descrevendo um medida que em certa parte pareceu-me substancial para reverter a adversidade, porém, superficial para jovens (“…controle pela lateral…não perca a bola na defesa, é melhor perder atacando, passando…”)! – Por Deus, espero não fazer estes comentários aos garotos que treino, no calor do jogo, dificilmente eles conseguirão definir o certo do errado.

    Parabéns professor e se até o final de ano não comentar mais os Post do senhor, desejo a você e sua família saúdes, sucessos e paz. Abraços.

  4. Tiago volponi 30.12.2011

    Prof., sou seu fã desde os tempos de Saldanha da Gama. Em minha modesta opinião as passagens de M.Monsalve e agora de Ruben Magnano por aqui stão tendo poucos resultados, a não ser na sel. brasileira. Os times do nbb continuam na sua loucura pelos chutes de 3 e esses meninos do LDO parece que tem esse DNA. Chutes e mais chutes de 3, a maioria sem sucesso, arremessos forçados, passes errados, muita correria, muita transpiração, mas pouca inteligência(mas foi um bom espetáculo). Vamos acreditar que são só meninos, e que aprenderão. Mas o que n entendo é que nossos técnicos profissionais e de base principalmente se recusam a aceitar um jogo cadenciado, inteligente, com chutes de 2 equilibrados e seguros, e com o uso constante de pivôs. UM abraço. A torcida do saldanha e a cidade de Vitória é sua fã.

  5. ALEXANDRE MIRANDA 30.12.2011

    Perdão Professor, uma errata, se assim o senhor permitir.

    Quando digo que não se deve tolerar erros de fundamentos digo no sentido de arbitragens focadas e treinos sérios. Em relação ao emocional, deve-se trabalhar o olho no olho e orientações substanciais.

    Perdão o erro de redação..

  6. Basquete Brasil 31.12.2011

    Acho que sim Washington, e por isso estamos fora da “elite”. Mas aqui no blog não podem evitar que nos manifestemos, e não somente nós, pois muitos são os que comungam com nossos conceitos e convicções. Quem sabe um dia, perto ou distante, possamos dar continuidade a um trabalho inovador e corajoso, quem sabe…
    Um feliz 2012, com trabalho, saúde, amor e paz. Paulo.

  7. Basquete Brasil 31.12.2011

    Concordo plenamente com você Victor, e agrego mais um fator, a continuidade comportamental que alguns juizes mantêm com determinados técnicos, como ambos se vissem como inimigos a serem combatidos. Recordo que no inicio do jogo em que dirigi o Saldanha em Assis, o árbitro (internacional, diga-se) se aproximou de mim rispidamente me advertindo por algo que “poderia vir a acontecer”, inclusive me tratando por você. Calei-o exigindo o tratamento de senhor, o mesmo que utilizo com todos os juízes, e fiz ver ao mesmo que ali estava para aplicar e não legislar leis do jogo, e que tratasse de cumprir seu papel, que não interfirisse no meu, pois em toda minha vida de técnico jamais criei problemas com arbitragem nenhuma.Neste mesmo jogo interpelei firmemente meu banco que havia cometido uma falta técnica injustificável, confirmado ao senhor árbitro o que afirmei a principio, de que do meu trabalho cuido eu, não admitindo imposições exógenas de forma alguma.
    Também desejo a você e sua família um 2012 com muita saúde e paz.
    Paulo.

  8. Basquete Brasil 31.12.2011

    Olhe Alexandre, creio que temos debatido e comentado bastante sobre esse assunto, mas não podemos esquecer que jogadores de uma divisão sub 21 já deveriam se encontrar num estágio de controle mental bem acima do que temos constatado na prática, demonstrando o quanto de inseguros se encontram no dominio da estrutura básica do jogo, seus fundamentos. Sem o dominio do ferramental que controla as tecnicas inerentes ao jogo, todo um processo adverso psicologicamente aflora à superficie comportamental dos mesmos, num momento em que sua maturidade já deveria ter sido razoavelmente alcançada, pois de muito já deixaram a puberdade para trás. Falhamos bastante ainda no treinamento, no controle e na avaliação do trabalho de formação básica no país, e esse é o poderoso óbice que limita nossa evolução técnico tática.Muito estudo e trabalho ainda temos pela frente, nos quais somente os verdadeiros profissionais deveriam ser qualificados para executá-los.
    Desejo a você um Feliz Ano Novo, com muita saúde e paz. Paulo.

  9. Basquete Brasil 31.12.2011

    Prezado Tiago, essa forma de jogar mais cadenciada, responsável e menos aventureira, é caracteristica de uma forma de preparo minucioso e fundamentado no livre arbitrio e pensar o jogo, que a grande maioria dos técnicos evita pelo simples fato de estarem compromissados ao sistema único, facilitador, pois padronizado e sem complicações. Mudanças exigem muito esforço, estudo, pesquisa e dedicação, que são aspectos não muito desejaveis num mundo em constante ebulição e não muito afeito a soluções que exijam trabalho extra, pois seguir a corrente é bem mais confortavel. Mas pouco a pouco iremos constatar que mudanças poderão ocorrer.
    Obrigado pela boa lembrança que guardo de Vitoria, do Saldanha e sua apaixonada torcida que jamais esquecerei. Um abraço e Feliz 2012.
    Paulo Murilo.

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