LARRY, O TRANSGRESSOR…

-“Noite de gala do Larry, o mito. Fantástica exibição para deixar o Magnano ligado para Londres. A CBB deveria estar mexendo os páusinhos no Ministério da Justiça para naturalizá-lo…”

A mídia se assanha ante a divina performance do americano “mais brasileiro do pedaço”, mesmo já tendo conhecimento da negativa do MJ sobre o assunto, e não se conforma, ainda mais quando sutil e politicamente o presidente da CBB “deposita” nas mágicas e isentas mãos do argentino (afinal ele é…argentino) a suprema decisão sobre as convocações dos magos da NBA que se negaram ir ao Pré Olímpico de Mar Del Plata. Caramba, já imaginaram os quatro da grande liga, mais o Huertas e a turma européia?  Medalha na certa!!

Como desprezos antigos não cunham medalhas, que se danem princípios, ética, superados nacionalismos, decrépitos patriotismos, pois o que conta (inclusive nos bolsos…) é medalha, e estamos conversados.

Mas, voltemos a Bauru na noite de ontem, quando vimos duas equipes trocarem figurinhas por três longos quartos (inclusive o Larry), com uma hemorragia de arremessos de três, 20 erros de fundamentos (o paraguaio “anda” demais e adora chutar para além do perímetro, onde é encontrado para bloqueios o jogo inteiro…), inexistência defensiva externa, e consentida internamente, como num jogo de compadres, até que, no quarto final o Larry resolveu jogar “à vera”como deveriam ambas as equipes o fazer desde o começo, principalmente no cumprimento do ritual defensivo, quando, ai sim, pudemos constatar qual equipe pode ser considerada superior a outra, pois, como num passe de mágica, com a subida da defesa para fora do perímetro externo, contestando os arremessos de três, e dobrando por cima do fraco armador, Bauru impôs uma diferença de 20 pontos (32×12), dando números finais ao jogo, evidenciando sua supremacia.

Então, o Larry não foi tão mítico assim, pois se poupou para um quarto final, o que duvido aconteceria em sua equipe universitária americana, onde defender é caso de honra, e quase sempre por 35seg de posse de bola dos adversários, provando mais do que nunca que está perfeitamente sintonizado com o basquete tupiniquim no que ele tem de mais simplório, sua pungente limitação técnico tática, onde pivôs são esquecidos, provocando nos mesmos reivindicações aos longos arremessos (se todos chutam, por que eu não?…), armadores focam mais a pontuação do que a assistência, e alas, indefinidos tática e estrategicamente desde a formação, centram seu poder de fogo nos arremessos de três e não na capacitação às fintas e ao drible incisivo ao perímetro interno, como os bons alas devem atuar.

Sem dúvida o Larry é um bom jogador para a realidade do sistema único com sua mesmice endêmica, mas, um excelente artista quando emerge do usual rame-rame que vivencia, ao saltar por cima das amarras, deixando fluir sua criatividade , poderosa presença ofensiva, e defensiva também, para num único quarto definir e decidir um jogo previsível e caduco.

Mas daí colocarmos em sua improvável convocação o nosso destino olímpico, vai uma enorme diferença, pois nos situa no perigoso bordo de sermos incapazes de formar bons armadores, no que até pode parecer real, se teimarmos nesse limitadíssimo sistema único, monitorado, formatado e padronizado, em vez de algo inusitado, flexível, criativo, corajoso e acima de tudo responsável, para que nossos jovens se vejam perante o novo, o absolutamente novo, como na explosão criativa do Larry no quarto final do jogo de ontem, quando ao romper com a mediocridade fez luzir algo que nos é permanentemente negado, a arte de jogar e amar o grande jogo.

Foi uma grande demonstração de fundamentos do jogo, simples assim, fundamentos.

Amém.

Foto-O pivô Agba do Baurú. Sergio Domingues DHP Foto



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