MAIS UMA…
Mais uma semana de basquetebol com grandes jogos, muita emoção e ponderáveis equivocos.
Na NCAA, como estava mais do que previsto, somente aquelas equipes que privilegiaram o jogo interno, após um tsunami de arremessos de três jamais visto num torneio daquela magnitude, onde o equilíbrio entre ações dentro e fora do perímetro delineou os reais e mais lógicos finalistas, Lousville, Ohio State, Kentucky e Kansas, determinando novos rumos preconizados pelo Coach K, que infelizmente não conseguiu ir em frente com a sua Duke, mas que pode aquilatar o quanto de respeito às suas idéias, postas a prova no último Mundial, obtiveram respaldo em algumas das grandes equipes participantes, entre as quais as quatro finalistas. Vimos tornar-se realidade o fim da era dos mastodontes, dando lugar a pivôs muito rápidos, ágeis, inclusive nos dribles e nas fintas, e participantes ativos dos sistemas de jogo próximos às cestas, assim como armadores (sempre em duplas) já começarem a romper a barreira dos 2m de altura, e onde alas e pivôs trabalham em conjunto, como se fossem iguais em suas funções, amparados e lastreados em sólidos conhecimentos dos fundamentos do jogo.
Enquanto isso, em plagas argentinas, nossos representantes continuaram a teimar nas bolinhas (o Paulistano contra o Obras Sanitárias arremessou 7/28 de três pontos com 25%, e o Obras 10/15 com 67%), como que afirmando “ser assim que se joga o grande jogo”, e não é… E o Bauru, deixa de treinar, para receber uma aula teórica do técnico do Peñarol, Sérgio Hernandez, pois segundo seu técnico “Uma reunião dessa representa uma dinâmica diferente para a nossa equipe. Um técnico olímpico como o Sérgio (Hernandez) falando para nossos jogadores ajuda muito nessa idéia nossa de agregar mais valores e experiência para todos. Uma dinâmica dessa vale muito mais do que ir para quadra arremessar”. Sei não, deixar de treinar dentro de um torneio de tal importância, para ouvir o técnico adversário, ainda mais com uma equipe seriamente desfalcada, teria sido a melhor medida?
No planalto central, com direito a um público de 14000 espectadores, a equipe do Flamengo sem o Marcelo machucado, perdeu para o Brasília por 93 x 74, num jogo em que mesmo sem o seu especialista de três, arremessou um estonteante 7/27 … de três, em vez de explorar seus bons pivôs, Caio, Kammerichs e Átila, numa clara opção pelo jogo externo com Duda (3/9), Jackson (1/6), Helio (1/6), Fred (1/3) e Hayes (1/3), bombando de fora, e o pior, não defendendo os 10/26 de três dos candangos. Enfim, uma orgia de 53 bolinhas para 17 acertos! Realmente um absurdo, e à margem de um Olimpíada daqui a 3 meses.
Finalmente, assistimos uma verdadeira epopéia patrocinada pelas organizações O Globo no lançamento definitivo do MMA no país que pretende ser olímpico, numa prova inconteste de que a máxima do Anderson Silva que sonha em ser o referencial dos jovens brasileiros vai a cada dia se tornando realidade…
Pobre e infeliz país com lideranças desse quilate. Mais adiante escreverei mais a respeito, pois me sinto enojado agora só em pensar no assunto.
Mas quem sabe, dias melhores virão…
Amém.
Fotos – Divulgação NCAA, LNB. Clique nas mesmas para ampliá-las.
O Flamengo teve um início de campeonato animador, forçando o jogo com Caio Torres e Kammerichs, provavelmente pelo sucesso de ambos no pré-olímpico.
O Gonzalo Garcia deve ter perdido o grupo, pois atualmente o Flamengo está bem inferior ao Pinheiros, São José e Brasília, levemente inferior a Uberlândia e no nível de Franca. É lamentável para um clube com orçamento tão maior do que o resto.
Se não perdeu o grupo, o próprio Gonzalo Garcia deve ser adpeto ao jogo das bolas de três pontos e da defesa sem interesse.
Ou talvez seja a falta de experiência mesmo, afinal era um treinador da segunda divisão argentina ou assistente técnico. Para um Flamengo, com orçamento, potencial e estrutura para ser o maior clube da América Latina, é vergonhoso.
Na realidade, prezado Rodolpho, o técnico argentino vem batendo de frente com um basquete onde lideranças determinam como o barco vai ser remado, muito diferente do de sua terra, onde desde a formação de base os futuros jogadores aprendem o valor da hierarquia, do trabalho árduo nos fundamentos, e o valor do trabalho coletivo, num esforço conjunto com seus professores e técnicos. Por aqui, fedelhos já se colocam como estrêlas, que em muitos casos contam com um “paitrocinio” deslavado, assim como são instados a uma “profissionalização” precoce e destrutiva. Com um naipe desse nivel, como um técnico advindo de uma escola progressiva e cumulativa de conhecimentos poderia liderar uma equipe estelar como essa, sem o embasamento socio esportivo necessário? Ótimo salário nem sempre é garantia de sucesso na direção de uma equipe com salarios maiores do que o seu, fator que por si só delimita sua liderança para muitos dos jogadores, mais ainda se se considerarem acima dele em importância frente a resultados. Como todos, técnico e jogadores professam o sistema único, o fator economico dita, em linhas finais, o comportamento do grupo, onde saidas e entradas de tecnicos conotam um problema menor, e o mais relevante, dirigentes que avalizam tal comportamento. Esse é um problema de muitas das nossas equipes, e não uma prerrogativa rubro negra.Conclusão? Trabalho de base, sério, extremamente técnico, ético, e acima de tudo, democraticamente massificado.
Um abraço, Paulo Murilo.
Caros,
É fácil ver o momento em que Gonzalo perdeu o controle do grupo e a capacidade de liderar, basta ver o desempenho médio do Marcelo por jogo. Até as primeiras rodadas do returno, a média de pontos dele era baixa, a quantidade de arremessos de três por jogo mais controlada e o Kammerichs vinha fazendo um grande trabalho de garrafão. De repente, sem muita explicação, estes três quesitos se enverteram…
De qualquer forma, dois pontos: Gonzalo Garcia, mesmo quando fez-se escutar, não mostrou a capacidade de dar um diferencial ao time rubro-negro.
E dois: Jackson é bom jogador, mas é bem menos do que se imaginava que ele seria quando foi contratado. Eu, particularmente, esperava um cara ao menos do mesmo nível do Alex Garcia. Está muito longe disso.
Ontem, o Peñarol deu uma aula de organização tática e defundamentos no Pinheiros. Mesmo sem fazer uma partida espetacular, ganhou com sobras. Ainda assim, Pinheiros e Brasília são o que temos de melhor em terras tupiniquins. Nenhum dos dois casos por diferenciais no jogo coletivo, mas sempre pela capacidade individual de seus jogadores. Meu palpite é que vem Tri candango por aí, sobretudo porque Alex e Giovannoni são, individualmente, já há três anos, o que há de elhor por aqui.
Abs.
Marcel Pereira
Não acho tão justa a análise somente sobre o Marcelinho. Ao contrário, com ele é que o time dosa melhor os arremessos, como aconteceu frente ao Uberlândia, e os armadores tem mais espaço pra trabalhar com os pivôs. Vide o próprio jogo contra o Brasília, em que ele ficou de fora. O Fla se perdeu diante da defesa candaga, não conseguiu o jogo interno, e ficou nas infrutíferas tentativas de três. Isso sempre aconteceu quando o rubro-negro enfrentava uma marcação minimamente razoável no perímetro. O problema é que o Fla já vinha abandonando o jogo interno que tentou no início deste NBB, com ou sem o Marcelinho em quadra. O Jackson realmente ficou aquém do esperado, mas ainda mais abaixo ficou o Gonzalo. Viu-se um esboço, um rascunho de uma filosofia de jogo, mas só no ataque. A defesa continou fraca, a despeito das boas atuações individuais do Kammerichs neste mister. A questão de liderança é algo que todo técnico deve saber trabalhar. Guardadas as devidas proporções, é assim no Heat, no Lakers, ou no Barcelona, no Real Madrid… Não importa a modalidade, grandes equipes tem seus líderes no campo de jogo, e o técnico tem que saber liderar com elas, e não sobrepujá-las… Mas isso é minha humilde opinião, e, apesar de não ser um “achismo”, não tenho a experiência prática e conhecimento técnico como o do Professsor para referendar o que digo. Entendo que a formação de base é uma saída para preparar a cabeça dos jovens, especialmente aqueles que serão mesmo estrelas no futuro, diante do inato talento. Mas nenhum técnico pode querer implantar uma liderança individual onde uma já está solidificada. Creio que a melhor saída é estimular uma liderança compartilhada. Espero não ter dito nenhuma bobagem, mas isso me vale como experiência de vida, também.
Abraços!
Abraços!
E você quer maior colisão de frente do que essa inversão que apontou, prezado Marcel? No umbral de uma nova convocação olímpica, e pouco satisfeitos com seus contidos papéis no pré olímpico, nada mais óbvio do que os cardeais arregaçarem as mangas para o gran finale em Londres, ou não? Agora, se o técnico da Gávea tem cacife para encarar essa realidade, veremos até o final do NBB, noves fora as indefectíveis bolinhas.
Quanto ao Peñarol, concordo com você, pois se arremessaram as mesmas 20 bolas de três que o Pinheiros, nas de duas, ou seja, lá bem dentro do perímetro conseguiram um 18/26 contra 9/29 dos paulistas, e ali mesmo, resolveram a questão.
Um abraço, Paulo Murilo.
Prezado Victor, a liderança de um técnico é e deve ser plenamente exercida no treino, no arcabouço grupal, onde os principios técnicos, táticos e éticos se fundem e amalgamam em torno e em pról do bem comum, e compartilhada quando a bola é lançada ao ar no começo das contendas, pois aceitas e compromissadas após dirimidas suas fronteiras e influências. Como o jogo é resultado do treino em seus principios e ditames técnico táticos, tais lideranças não se contradizem, já que produto e entendimento forjado no dia a dia do árduo e penoso trabalho. Contradições somente existirão se a liderança de direito se chocar com a de fato, dualidade esta delimitadora dos grandes fracassos. Por tudo isso, que o comando se torna algo solitário, intransferivel e profundamente pessoal, onde delegação de poderes ocorrerão, ou não, onde lideranças poderão, ou não, serem exercidas e aceitas, ou, definitivamente não. Nas grandes equipes, lideranças de fora e de dentro das quadras definem, aplainam ou traem seus destinos, pois tênues são os fios que as separam nas vitorias, e principalmente, nas derrotas.
Um abraço Victor, Paulo.
Marcelinho seria um excelente coadjuvante, como no pré-olímpico. Um jogador que entra, não atrai marcação e consegue matar 2 ou 3 bolas de três pontos sem marcação, forçando o adversário a mudar a defesa. Subir a defesa com um garrafão como o que podemos ter nas Olimpíadas (Murilo, Rafael, Anderson, Thiago e Nenê) é suicídio – ainda mais se tivermos de 2 a 3 deles em quadra ao mesmo tempo – e deixar Marcelinho sem marcação também. Mas é só, 10 minutos de quadra tá bom demais para o que ele pode mostrar em nível internacional. Deveria ser o suficiente para satisfazê-lo.
Já no Flamengo a coisa muda. Ele vira um especialista numa jogada executada com muita frequência no Brasil e pelos melhores atletas da NBA: “Bola de 3 pontos a 2 metros da linha, com marcação dupla”.
Essa jogada causa: 1) Contra ataque fácil, pois o pombo sem asa geralmente dá rebote que possibilita o contra ataque rápido. 2) Diminuição da auto estima dos companheiros, principalmente os pivôs, que se tornam meros trombadores e reboteiros. 3) Problemas no grupo, pois técnico algum tem “peito” pra acabar com a farra. 4) Sub-uso do talento de outros jogadores, nesse caso do Caio e Kammerichs. 5) Um “culto” ao estrelismo, sendo esse o pior dano, pois o garotinho de 15 anos e 2,05m de altura que tá vendo vai inventar de copiar seu ídolo e chegará aos 18 anos sem saber fazer um gancho básico.
Deixo claro aqui minha admiração pelo Marcelinho, jogador muito talentoso. A pessoa dele não é o problema. O problema não é a criatura e sim o criador.
Como consequência, vemos um jogador do talento do Marquinhos sendo completamente ofuscado pelo pivô do Peñarol, limitadíssimo, porém bem orientado a fazer o feijão com arroz, e com todas as sua limitações claras, ser o destaque de um torneio que deveria ser o de mais alto nível da América Latina.
Excelente análise Rodolpho, com uma pequena (?)discordância no ítem 3, sobre o fato de técnico algum ter “peito” para acabar com a farra bem descrita por você. Se técnicos forem, de verdade, a “farra” nem começa, mesmo. No mais, perfeito.
Um abraço, Paulo Murilo.