O NÓ TÁTICO…
Fico pensando como ser possível que numa decisão de playoff, uma equipe vença três quartos do jogo, e num terceiro quarto leve um 30 x 9 devastador, no que foi definido pelo comentarista do Sportv, como um “nó tático” da equipe de Bauru sobre a de Sorocaba, nominando uma justificativa à enxurrada de arremessos de três neste quarto, como algo decorrente de jogadas armadas com a finalidade de que as bolinhas definissem praticamente o jogo. Mas não mencionou que, na verdade, a equipe sorocabana apostou no “pagar para ver”, no afã de blindar o perímetro interno, abdicando totalmente da marcação do externo, permitindo, ou mesmo autorizando o massacre, pois nossas equipes, e por que não, nossos técnicos em sua maioria, não concebem defender internamente sem a utilização de dobras, numa atitude suicida e irresponsável. O nó tático se restringiu a somente isso, uma quantidade de arremessos de três não contestados em nenhum momento, num 12/28 absurdo por parte de Bauru.
Mas no quarto final, quando a equipe de Sorocaba resolveu marcar um pouco mais lá fora, e se aproximar a oito pontos no marcador, é que vimos o tal do nó ser brecado pelo indignado técnico de Bauru, e trocado por um seguro jogo interno, e, inacreditável, passando o nó, ou seja, o desenfreado festim de bolas de três, a ser utilizado por Sorocaba, perdendo por conta desse equivoco, a oportunidade de recuperar de dois em dois pontos, uma partida que poderia ter tido outro desfecho, não fosse a ciclópica crença de que um nó, digo, uma hemorragia de bolinhas vence a maioria dos jogos realizados neste país.
Jogos como este, solidificam cada vez mais na mente de nossos jovens, a imagem dominante dos longos arremessos, sua pseudo superioridade técnica, personificando o “nó tático” defendido enfaticamente pelo estreante (?) comentarista, quando na dura realidade, expõe a nossa falência defensiva, omitida desde as categorias de base, obscurecidas pelos mesmos nós táticos pertencentes à nossa realidade de eternos “pagantes para ver”.
No outro jogo, entre Uberlândia e Tijuca, algo correlato e de triste e monocórdia repetição ocorreu, um 11/22 de arremessos de três por parte dos mineiros, sobrepujando os 3/21 dos cariocas, numa prova irrefutável de que o tal “nó tático” de muito já estabeleceu sua identidade definitiva, a de que o reinado das bolinhas aí está para ficar, com as bênçãos do comentarista-técnico, ou técnico-comentarista (dualidade que nunca consegui bem estabelecer), assim como da grande parte da comunidade basquetebolistica de nosso país, para a qual, desatar nós nada representa se comparado ao lamentável reinado…
Enquanto isso, assinamos definitivamente um termo de incapacidade na formação de armadores, afinal estaremos salvos em Londres pela naturalização do Larry, porta escancarada para outras naturalizações para 2016, afinal de contas, adquirir talentos prontos é bem mais fácil e rentável do que simplesmente formá-los…
Mais uma vez fico pensando se não seria mais vantajoso tentar naturalizar o Magnano, claro, se o interessasse, e que aqui bem para nós, duvido que topasse, pois seus “nós táticos” rezam numa outra cartilha, a do trabalho e incontido amor pelas coisas e povo de seu país, onde formação de base é coisa muito, muito séria, ou não?
Finalmente, devemos sempre ter em mente que imediatismos jamais levam ao progresso, somente acalentam um certo tipo de “desportista” para o qual não importam os meios, e sim os fins, na doentia busca da vitoria a qualquer preço, num preito à vaidade irresponsável e imatura.
Amém.
Foto-Reprodução da TV. Clique na mesma para ampliá-la.
Que pertinente comentário professor, aliás devo parabenizar pela forma como foi lembrado este fato (naturalização do armador) também no blog Bala na Cesta. Torna-se crítico e expositivo.
Vejo como crime capital a forma como a base no Brasil é mal planejada, já fadada ao método “Caça-talento” ao invés de formador. Ninguém imagina quanto bônus pode ser colhido se formar atletas e cidadãos ao mesmo tempo. Mas parece que o imperativo administrativo pauta-se pelo imediatismo e marketing pró-político.
Nisto, mais e mais gerações vão perdendo oportunidade de participação esportiva e de desenvolvimento humano.
O que o senhor pensa do caso Scott Machado, filho de brasileiros, lider em assistências na NCAA e jovem. Não seria um caso de trazer este rapaz para imprimir nele o gosto pela representação de suas origens e ao mesmo tempo fortalecer a seleção (juntamente com Raulzinho, Rafael Luz e outros jovens valores)?
Fortes Abraços Professor.
Prezado Professor, começo a crer que as “bolinhas” são encaradas pelos jogadores como um ápice de seu jogo, por considerarem arremossos de mais difícil conversão, e como uma loteria – o citado “pago pra ver” – pelos técnicos, o que nos limita a uma visão sempre limitada da diversidade que o basquete oferece. É mesmo triste, especialmente quando comentaristas advindos da classe de comando das equipes são incapazes de ver isso, e não falo apenas do comentarista “convidado” (já que está ficando onipresente nos canais que exibem jogos) observado em seu artigo, pois outros mais experientes que ele insistem nos “pombos sem asa” como fator determinante para ganhar o jogo… Isso em detrimento de arremessos bem selecionados e executados, qualquer que seja o ponto da quadra de onde partam…
Quanto a naturalização do Taylor, acho que muito bem foi dito pelo Balassiano, que sei que o senhor sempre lê: o alienígena até pode ser bem vindo para o planeta brasilis, o problema é a condução do processo de sua entrada para nossas fileiras, ressaltando inclusive a má preparação de jovens armadores tupiniquins… Até quando, além de insistirem nos erros, os exaltarão?
Abraços!
Sim Alexandre, o Balassiano abordou o assunto com muita propriedade, não fosse ele um dos mais talentosos e sérios blogueiros na área do desporto. Sem dúvida alguma estamos muito defasados na formação de base, e as consequências se avolumaram com o passar dos anos, sendo necessária uma profunda mudança técnico administrativa no âmbito das federações e confederação, assim como a implementação de uma séria e objetiva politica desportiva voltada às escolas de todo o país. Sem uma base organizada pouco conseguiremos para 2016, o que seria uma tragédia.
Quanto ao jovem armador Scott Machado, sua opção para o draft deste ano, aponta com clareza seu projeto profissional, atuar na NBA, ou no basquete europeu. Acredito que a LNB não conste de suas prioridades, pois ainda é uma liga pouco rentável. Seleção? Pouco provável dentro das prioridades do Magnano.
Um abraço, Paulo Murilo.
Muito bem colocada por você a questão dos arremessos de três serem o máximo desafio à habilidade dos jogadores, que no entanto se esquecem de que a mesma é restrita a muito poucos, exatamente pela enorme dificuldade em dominá-lo com precisão, prezado Victor. Acredito que a inexistência de um processo defensivo por parte da maioria de nossos jogadores, incentive os longos arremessos, assim como, e pelo mesmo motivo, conte com a permissividade dos técnicos, numa perversa ciranda de erros, já que cometidos nos jogos por ambos os contendores. O doloroso é o apoio dos comentaristas a essa sangria descontrolada, que vicia e deseduca os jovens em seu amadurecimento nas quadras.
Quanto à naturalização do Larry Taylor, creio que as opiniões emitidas até o momento espelham uma realidade nada confortável para o nosso basquetebol, pois confessa publicamente sua incapacidade de formação de uma base técnica e confiável, principalmente na armação, segundo a opinião de muitos. Acredito que possuimos ótimos armadores, que se revelariam se novos conceitos ofensivos fossem implementados, como uma dupla armação de verdade, e não adaptada ao sistema único de jogo.
Um abraço, Paulo.
Professor Paulo Murilo, o senhor tem algum livro publicado sobre esse sistema de dupla armação e 3 pivôs?
Obrigado.
Infelizmente ainda não tive condições finaceiras para bancar uma edição de livro técnico, ainda mais de basquetebol, do qual as editoras não se interessam. Mas tenho publicado alguns artigos sobre o tema. Para acessá-los digite no espaço Buscar Conteúdo os seguintes títulos: Falemos um pouco de táticas e sistemas III. Mais adiante o IV, e se quiser ir mais fundo os artigos I e II. O III e o IV são especificos da dupla armação e trinca de pivôs, inclusive com vídeo no IV. Também veiculei outros videos de jogos do Saldanha, que poderão ser acessados no espaço proposto- Digite “Vamo Lá”, artigo que contém os links de três jogos.
Enfim, prezado Rodolpho, essa foi a melhor maneira que encontrei para divulgar o sistema que o interessou. Boa leitura e bons jogos.
Um abraço, Paulo Murilo.
Somente mais uma coisa professor… E quanto a Escola Nacional de Treinadores, não vejo mais nada a respeito. Será que idéia fracassou ou eles estão remodelando – haja vista a troca de coordenação. Torço pela segunda opção… Será um bem para o esporte.
Fortes Abraços.
Também não vejo, e não teria porque insistir mais em sua existência para mim, pois se estabeleceu equivocadamente, o que sempre lastimei, inclusive através inúmeros artigos aqui publicados. A ENTB como foi criada e estabelecida, torno a repetir, foi um dos maiores equivocos cometidos por esta anacrônica CBB. Se vai, ou está sendo reestruturada, não sei, mas espero, se estiver, que seus responsáveis usem o bom senso, ausente até agora.
Um abraço Alexandre. Paulo Murilo.