JOGANDO A TOALHA…

Foi uma semana pródiga em jogos, bem ou mal jogados, na maioria das vezes bem menos analisados do que deveriam sê-los, frente ao que têm sido apresentado desde muito tempo.

Alguns de nossos analistas, perdidos entre as realidades de uma feérica e milionária NBA, e uma ainda trôpega e inconstante LNB, teimam em comparações sobre algo completamente antagônico, não só pelo aspecto técnico, como, e principalmente, pelo imenso abismo que as separam, o econômico financeiro, que nem uma mediação européia atenua tal distanciamento.

A realidade técnica da LNB é o legitimo retrato do grande jogo no país, perdido entre uma copia ingênua das grandes ligas internacionais, e o descompasso limitativo advindo das mesmas, onde riqueza em investimentos contrasta brutalmente com nossas carências em todos os sentidos, principalmente na formação de base que a alimenta, e em seu conseqüente produto direto, a ausência de uma identidade técnico tática de sua propriedade, e não emulada, e mal, da liga maior, no que designam de “conceito de basquete internacional”.

Nossa maior deficiência, a ineficaz formação de base, dá continuidade a um sistema técnico tático engessado e divulgado maciçamente pelas formatações e padronizações impostas por um grupo de técnicos afinados e alinhados com o sistema único que adotaram e impuseram a mais de duas décadas, calcado na forma de atuar das equipes da NBA, e cujos resultados teimam em nos desfavorecer continuadamente, mesmo sabedores da evolução técnico tática por que passa a grande liga.

E os resultados ai estão escancarados, mas pouco analisados, e com um mínimo de conhecimento realmente técnico, e não guiados por palpites e achismos na maioria das vezes ingênuos, desconexos, e até primários.

Um exemplo bem claro, foi a ausência de uma colocação objetiva sobre a equipe brasiliense na Liga das Américas em seu quadrangular final, quando em seu único jogo vencedor os candangos impuseram uma convergência absoluta (12/28 nos arremessos de 2 pontos, e 9/28 nos de 3, quase o mesmo resultado alcançado pelos mexicanos, 12/50 e 7/24 respectivamente) que os tornaram vencedores por apenas um ponto, quando, se atuassem mais dentro do perímetro, acionando seus pivôs, teriam vencido por uma margem mais tranquila. Mas a avalanche de bolinhas de três, compactuada pelas duas equipes, até mesmo na frouxidão defensiva fora do perímetro, definiu o jogo como numa loteria, onde venceria aquela que fizesse a última cesta. Lamentável.

Claro, que nos outros dois jogos contra as equipes argentinas, tal privilégio das arrivistas bolinhas foi restrito ao máximo, obrigando os candangos a um difícil e bem marcado jogo interior, definindo ai a superioridade defensiva dos hermanos, assim como sua maior eficiência ao atacar a frágil e desconectada defesa brasiliense (ironicamente com uma generosa quantidade de bolinhas…), numa irrefutável prova do quanto a “melhor equipe brasileira” é carente de um plantel, e não seis jogadores que atacam com sofreguidão e defendem com frouxidão, rimas à parte…

Outro exemplo, a drástica (e atá elogiável) diminuição dos arremessos de três na rodada de ontem no NBB4, como que de uma forma combinada, as seis equipes resolvessem defender o perimetro externo com mais vigor, e acertar suas contas under basket, na tradição esquecida dos grandes jogos entre as grandes equipes de um passado não tão distante assim, quando uma equipe mestra nas bolinhas, o Flamengo, vence pela segunda vez o Uberlândia (70 x 63), arremessando somente 6/15 bolas de três pontos (Uberlândia 7/20), e 20/46 (13/36) de dois respectivamente, assim como São José  ( 24/35 de dois e 6/21 de três) vencendo, também pela segunda vez seguida no playoff a Franca ( 29/49 e 2/5) por 96 x 85, provando que de dois em dois podem duas equipes atingir contagens acima dos oitenta pontos.

A mesma coisa podemos afirmar no jogo entre Pinheiros (22/41 e 4/16) perdendo para Joinville (23/41 e 5/21), também pela segunda vez por 74 x 68, mas com algo de inusitado e constrangedor, quando nos dois últimos tempos pedidos pelo técnico do Pinheiros o mesmo praticamente jogou a toalha, primeiro ao ver o jogador argentino de sua equipe se apossar da prancheta para elaborar uma forma de atacar, ante o mutismo do mesmo e sua enorme comissão técnica, e no tempo final, o assistente traçar uma ação rebuscada na prancheta, que na pratica, ambas, não deram em absolutamente nada, para a perplexidade de todos que assistiram e testemunharam o avesso do que venha a ser o comando de uma equipe de alta e complexa competição. Não a toa, corre o sério risco de levar um 3 x 0 de uma equipe muitas vezes menos  valorizada, tanto técnica, como economicamente, provando que em “taba que tem mais pagé do que índio”pouco ou nada pode funcionar, pelo menos em terras tupiniquins…

Enfim, como disse ao inicio, foi uma semana pródiga em jogos, bem ou mal jogados, mas em alguns e pontuais casos, pior dirigidos e liderados, e algumas fotos ilustram com propriedade essas histórias:

1 – Um técnico frente ao alheamento de seus jogadores…

2 – Aos 9.8 seg do final, assumindo (delegada?) a tática…

3 – …que é elaborada no solo…

4 – …perdendo para uma outra clara e transparentemente exposta na imponderável prancheta…

5 – A ira bilíngue (?)…

6 – …e o bode expiatório, again…

Amém.

FOTOS – Reprodução da TV. Clique nas mesmas para ampliá-las.

 



6 comentários

  1. Rodolpho 03.05.2012

    Professor,

    Quando vi o Figueroa tomando a prancheta pra si e desenhando o jogo pro resto do time não pude pensar em outra coisa a não ser o que o senhor comentaria a respeito. Foi o que eu esperava.

    O “técnico” Mortari vem se mostrando cada vez mais acomodado. Não bastasse seu maior defeito – o nepotismo – o treinador do tradicional clube paulistano não tem o menor comando de “sua” equipe. Tendo reduzida a 11 atletas, por conta do nepotismo supra citado, também há a ausência de qual padrão que não seja o anarquismo.

    Também fico estupefato quando vejo um Hélio Rubens completamente perdido, sem saber como reagir ao completo domínio tático que lhe foi imposto por uma raríssima surpresa, o técnico Régis Marrelli. Talvez esse domínio, juntamente com a noção de que está completamente desatualizado e ultrapassado, tenha causado a ira bilíngue do veterano treinador, que não tinha como se revoltar contra si mesmo e o que nada fez enquanto no posto de elite de sua categoria para que algo fosse feito em relação a reciclagem da classe. O que senti naquele momento!? Bem feito. Pra fazer justiça e colocá-lo bem a frente do seu rival do Pinheiros, Hélio não pode ser acusado de omissão, nepotismo e rabiscos mal feitos em pranchetas. Ele simplesmente tá ultrapassado.

    E então, medalha olímpica? Não. Ao invés de usarmos os 3 maiores talentos ao mesmo tempo (Nenê, Varejão e Splitter), teremos o Marquinhos/Guilherme/Marcelinho, na função medíocre da posição 3 do sistema único, imperando num jogo passivo, preguiçoso e ultrapassado feito seus comandantes. Espero que o treinador hermano não esteja contagiado pela mesmice. E que esteja assistindo algo melhor do que o show de horrores do NBB…

    Um forte abraço.

    PS: Que tal comentar o show de horrores, num artigo mais exclusivo, sobre os 2 times com as piores campanhas do NBB? Afinal, 1 ou 2 vitórias no NBB, só com muiiito esforço.

  2. Douglas 03.05.2012

    Olá, professor.

    O tal bode espiatório ali é o Sowell? Não vi a partida pela TV, vi ao vivo, no ginásio onde a acalorada torcida de São José dos Campos fazia tanto barulho que foi impossível ouvir/ver a tal ira bilingue comentada pelo senhor. Não é possível que o Hélio Rubens fez isso com o jogador que assumiu a parte ofensiva, fazendo 23 pontos (73% dos 2 pontos), 5 assistências e jogou quase 33 minutos, sendo o jogador mais eficiente do time segundo as estatísticas da LNB. Se for para arranjar culpados (além do Hélio Rubens), poderíamos acusar 2: Helinho e Fernando Penna. Não organizaram a equipe, que atacava através de individualismo (tanto que o Sowell resolveu chamar o jogo, já que é rápido e habilidoso, via uma certa superioridade em cima de seus vacilantes defensores).

    Individualmente, sobre o Fernando Penna, não se tem muito o que comentar. Entrou mudo e saiu calado, apesar de ter jogado 15 minutos. Não pontuou, não assistiu a ninguém, não postou sua equipe em quadra, enfim, estava apagado. Já sobre Helinho, cito apenas uma roubada de bola que Fúlvio executou em cima dele, ao levar a bola ao campo de ataque, aproximadamente no centro da quadra, onde Helinho expôs a bola ao marcador de uma forma que desde crianças já somos corrigidos a não fazermos (fundamentos?) e sequer esboçou reação, ficou parado onde perdeu a bola vendo Fúlvio converter 2 pontos em uma bandeja. Apenas esse momento já reflete a instabilidade que o armador demonstrava. Na tentativa de também individualizar, sendo levado pela onda dos demais companheiros, fez 16 pontos, mas nenhuma assistência (pelo pouco que conheço de basquete, armadores deveriam assistir seus companheiros, correto? Ou pelo menos ler o jogo, postar a equipe e propiciar a seus companheiros condições de pontuar).

    Enfim, essa foi a análise que pude fazer ao vivo, no calor (ou melhor: frio, que fazia em São José dos Campos naquela noite) da partida.

    Abraços, professor.

  3. Basquete Brasil 03.05.2012

    Bem Rodolpho, seu comentário dispensa maiores acréscimos, pois reflete o que infelizmente ocorreu naqueles jogos. Também espero que o técnico da seleção, não se deixe levar pelo oba-oba que já vai se instalando no país, por conta de uma seleção que sequer ainda foi convocada, e que certamente não vai ser a mesma do “sonho”de muita gente. A turma da NBA está com problemas de “mão”, pois o Leandro, o Spliter e o Varejão, coincidentemente, apresentam lesões nas mãos, e o Nenê ainda vai ter a dele, é so aguardar…
    Quanto à sua sugestão final, indefiro, pois aqui nesse humilde blog somente escrevo sobre basquete, o grande jogo, e não se brinca com ele.Um abraço, Paulo Murilo.

  4. Basquete Brasil 03.05.2012

    Sim Douglas, a foto é do Sowell, mas do primeiro jogo da série, dai o termo again, pois, assim como naquele jogo a espinafração se repetiu em rede nacional e a cores, principalmente na cobrança defensiva.O experiente técnico se excedeu. Concordo com a sua análise do jogo, demostrando a fragilidade da outrora grande equipe, e que precisará de uma profunda reformulação para as futuras competições.Um abraço, paulo Murilo.

  5. Rodolpho 04.05.2012

    Professor, Splitter ainda joga os playoffs e, como não deve atuar por muitos minutos, também deve chegar inteiro e em forma, possivelmente com moral de campeão.

    Nenê parece sem contusão e tem tempo pra se preparar.

    Já Varejão está contundido no pé, não na mão. Mas parece grave, muito grave. Não acredito nele bem nas olimpíadas. O mesmo com Leandrinho, claramente jogando no sacrifício atualmente.

    Enfim, voltando ao assunto da base…

    O senhor acredita mais no modelo americano, de base ligada às faculdades, ou prefere o modelo atual, dos clubes formando os novos atletas?

  6. Basquete Brasil 04.05.2012

    Prezado Rodolpho, em tempo, além da contusão no pé o Varejão contundiu a mão, logo após retornar experimentalmente aos treinos.E parece que é séria. O Spliter realmente machucou a mão, mas parece que está de volta. O Leandro tem uma contusão cronica no pulso, mas só para a seleção, pois para o Flamengo e os Pacers ele vai encarando. O Nenê, bem, é um caso bastante complexo, tão complexo que nem ele parece entender.
    No que acredito em termos de formação? Escola, base de qualquer país que se considere sério.E o nosso, se não assumir logo essa evidência, perde, por mais uma vez, o bonde da história, e dessa vez, sem volta.
    Um abraço, Paulo Murilo.

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