O REINADO DAS “BOLINHAS” V…
Não me contive e resolvi assistir o jogo ao vivo no Tijuca, mas podendo também assistir o jogo de Brasília pela TV. Combinei ir para o apartamento da minha filha, que fica praticamente ao lado do ginásio tijucano, e seguir para o segundo jogo, mesmo sabendo que a entrada seria difícil por ser um ginásio pequeno para uma imensa torcida. Temendo não conseguir entrar, não assisti as prorrogações em Brasília, tirando de mim a possibilidade de fazer um comentário isento e o mais preciso possível.
No entanto, algo me chamou a atenção no jogo do planalto central, talvez motivado pela ausência do Shamell, mas que mudou completamente a forma de jogar do Pinheiros, uma dupla, participativa e altamente eficiente armação, sabendo jogar com seus pivôs, principalmente o Fiorotto, forma impossível de ser desenvolvida com a presença centralizadora e pontuadora do lesionado e ausente jogador. Figueroa e o Paulo encheram os olhos de quem os viu jogar, numa inter ajuda permanente e instigante, demonstrando sim, que dois armadores de ofício podem, e deveriam sempre jogar juntos, ampliando as opções do jogo interno, ajudando-se mutuamente ante defesas pressionadas, e acima de tudo, garantindo qualidade nos passes, nos dribles, nas fintas, na defesa e pontuando complementarmente, e não prioritariamente, como sempre agiu o ausente Shamell, um pseudo ala com qualidades que o poderiam firmar como um armador de superior qualidade na liga.
Por conta desse posicionamento, e enfrentando uma equipe muito forte em sua volúpia pontuadora, mas falhando na defesa interna, os paulistas levaram o jogo em perfeito equilíbrio até, acredito, ao final eletrizante e atípico para seus padrões até agora, ao qual não pude testemunhar, pois tive de me deslocar rapidamente para não perder o jogo que definiria a outra vaga na final do NBB4.
Por sorte consegui um lugar atrás de uma das cestas, para ao lado do meu filho assistir uma batalha e tanto. E de saída uma surpreendente similitude com o modo de atuar do Pinheiros em Brasília, uma autêntica dupla armação liderada pelo Helio e um mais surpreendente ainda Marcelo, numa função onde não possui muita qualificação, mas onde atuou com bastante enfoque no jogo interior, servindo os pivôs com passes precisos e de qualidade, e pontuando de media distância com eficiência.
Mas aos poucos, o pivô Caio começou a pagar caro por sua lesão no tornozelo, assim como se ressentia de uma forma física adequada a uma competição tão exigente, e praticamente parou em campo. Foi o suficiente para a equipe paulista encostar no placar, desgastando sobremaneira o excelente Kammerichs, brigando sozinho na taboa carioca.
Mas foram nos quartos finais que algo a muito esperado concorreu para a superioridade dos rubros negros, a eficiente participação do ágil e veloz pivô Hayes, que em dupla com o Kammerichs e mais adiante com o Teichmann dominaram os rebotes, concluíram com sucesso, e com precisos passes de dentro para fora permitiram arremessos de seus companheiros mais equilibrados e precisos. A equipe do Pinheiros somente pode contar com um sobrecarregado Murilo na briga dos rebotes, já que o outro bom jogador nesse fundamento, o Chico, abria muito para arremessos de três pontos, esquecendo que de dois em dois pontos poderiam, ele e sua equipe, se aproximarem e até virarem o placar a seu favor. Mas a volúpia e sangria dos três pontos estando enraizadas profundamente na realidade do nosso basquete anulam uma evolução técnico tática que se faz tardia para o grande jogo tupiniquim.
Foram dois jogos com alguns números assustadores, que nem as desculpas de que se tratavam de partidas nervosas e decisivas, retiram das mesmas uma brutal carga de preocupações, principalmente no quanto destas influências irão desaguar na seleção olímpica, com sua proposta de um basquete mais solidário, eficiente e preciso.
Foram 53 erros de fundamentos (24 no Rio e 29 em Brasília), e espantosos 95 arremessos de três (41 e 54 respectivamente), num desperdício absurdo de esforço por parte de jogadores que ainda não compreenderam (ou mesmo não saibam) o quanto comprometem a qualidade do jogo, em tentativas despidas de um mínimo de controle técnico e objetividade tática.
Precisamos reaprender a jogar em dupla armação, para que dominemos o perímetro externo em toda a sua extensão, assim como voltarmos a valorizar o jogo interno, através jogadores altos, velozes e flexíveis, abandonando de vez os pesados e lentos cincões de um oficio que, mesmo as grandes seleções mundiais estão aposentando, pois com velocidade, flexibilidade e apuro nos fundamentos, quem sabe, nos tornemos também eficientes defensores, contestadores de dentro e fora do perímetro, decretando a urgente diminuição desta maldita hemorragia que nos desgasta e expõe frente ao trágico reinado das bolinhas.
Hoje teremos definidos os finalistas, e estou torcendo, timidamente, que as duplas armações retornem em grande, e que nossos bons pivôs sejam municiados permanentemente, tornando o jogo mais técnico e menos comprometido com erros inconcebíveis. Vamos a eles.
Amém.
Foto – PM. Clique na mesma para ampliá-la.