12.345…

“Para que pivôs com um time desses?”

“Já estão jogando com três armadores na quadra, não é um time de sonho?”

Foram algumas das exclamações do comentarista da TV, um sério defensor dos “cincões” nas equipes nacionais, principalmente nas que dirige.

E a grande pérola – “É a grande novidade tática, essa de jogar com os cinco abertos, sem pivôs…”

Engraçado, ou vi outro jogo, ou apaguei em frente à TV, como no jogo feminino…

Prefiro manter um conceito que trago comigo desde que me interessei pelo grande jogo, o de que uma equipe plena e basicamente preparada nos fundamentos supera aquela que, carente nos mesmos, aposta em sistemas padronizados e formatados de jogo, com controle absoluto de fora da quadra, através coreógrafos travestidos de técnicos, desculpem, estrategistas…

Indo aos blogs o que mais vemos são comentários sobre posições 1, 2, 3, 4 e 5, suas combinações, seus componentes setorizados com um ou outro transitando em mais de uma especialização, como capitanias hereditárias, estáticas, inamovíveis, gravitando em torno de um sistema único mais granítico ainda, cristalizando uma mesmice endêmica asfixiante e covarde.

No último mundial o Coach K ensaiou a grande mudança, venceu o campeonato, mas foi criticado por aqui acusado de ferir um principio “consagrado”, o do sistema único, que em caso de ser aceito colocaria muita gente para estudar e pesquisar novas soluções táticas, fator que não interessaria ao status quo vigente e corporativista.

Passaram-se dois anos, e eis que ele de volta mantém seu ousado conceito, só que no comando de melhores jogadores, inclusive os mais emblemáticos, com dois na posição 1, dois na 5, e oito na 12.345, posição de todo jogador que professa e pratica de verdade os fundamentos básicos, tanto os individuais, como os coletivos, e o inusitado, trazendo os outros quatro para formarem na polivalência que dominam magistralmente.

E o que vemos, e veremos daqui para diante um pouco além “dos 5 abertos” senão um entre e sai do perímetro interno, por dois, três jogadores atléticos, altos e profundamente senhores dos fundamentos do grande jogo, alimentados por dois, e até três armadores mais senhores ainda da arte do drible, das fintas, do passe…

E do sentido maior do jogo, a forte defesa, intransigente, antecipativa, física no interior, combativa, insistente, contestadora no perímetro externo, sentido este que viabiliza todo o arsenal de conhecimentos e técnicas ofensivas, determinando dessa forma os resultados planejados e executados sob a égide e a coragem de um técnico na acepção da palavra.

12.345 é a posição do jogador de um amanhã que se aproxima inexoravelmente, queiram ou não os puristas e defensores do sistema único, do qual nunca pertenci, desde que iniciei minha humilde caminhada a mais de cinqüenta anos atrás.

Podem até perder a grande competição, mas o recado tem sido dado com tamanha convicção que nos priva da dúvida, da incerteza, do descrédito.

Nossa seleção encontrará grandes e poderosos obstáculos, mas poderia também inovar, ousar um pouco além do “trivial simples” do dia a dia do nosso insosso basquete, colocando o nosso melhor transitando no âmago das defesas que enfrentaremos, inclusive a americana, impulsionado por dois armadores determinados ao jogo coletivo, à defesa mais coletiva ainda, rompendo com a mesmice endêmica que nos limitou e asfixiou geração atrás de geração, numa pungente autofagia desde sempre.

Contudo fico muito triste por não ser permitido participar dessa mudança que indevidamente propus no NBB2, que se continuada poderia ter inspirado novas formas de se jogar o grande jogo, aqui mesmo, nessa imensa terra tupiniquim, dos “grandes conhecedores” do jogo, que talvez agora não estivessem ridiculamente embasbacados com um LeBron jogando de 5, assim como o Carmelo e o Durant, e por que não e eventualmente os armadores da grande equipe, e um Kobe fazendo menos de 15 pontos por partida.

Aguardo com franca e honesta curiosidade os dois jogos preparatórios deste fim de semana, mesmo sabendo que muito de táticas será pouco mostrado, talvez insinuado, para que na competição à vera um novo conceito seja exposto para um novo tempo, um novo grande jogo entre nós. Torço para que aconteça.

As fotos que incluo neste artigo mostram que 5 abertos quase sempre se transfiguram em efetivas ações internas e externas, precisas e velozes, sendo que reduzi um pouco a velocidade de captação das mesmas a fim de que constatemos a permanente movimentação de todos, dos cinco, e não de um ou dois. Clique para ampliá-las e deleitem-se com o mimetismo posicional destes grandes jogadores.

Amém.

 

Fotos – Reprodução da TV.



4 comentários

  1. Daniel 21.07.2012

    Professor,ainda não consegui assistir a nenhum jogo mais confesso que deve estar impressionante cada defesa e ataque dos usa. A diferença do trabalho do senhor no nbb2 foi que o senhor ensinava os jogadores não cobrava deles o que eles não sabiam.
    Isso sempre faltou no nosso basquetebol, ao mencionar minha experiência no basquete no américa do rj atuava de pivô com 1,90 de altura 17 anos sábia driblar arremessar mais era impedido nos treinos e nos jogos e isso é orientado até hoje em qualquer treino da base no Rio de Janeiro pelo menos o que eu sei!!
    Me diga podemos ser uma potência no basquetebol mundial com esses pensamentos e atitudes, podemos competir com jogadores desse nível americano onde todos sabem arremessar,driblar,jogar sem a bola e defender?

  2. Basquete Brasil 22.07.2012

    Prezado Daniel, seu testemunho sobre a formação de base vem confirmar o grave momento por que passamos, fruto de um descompasso da mesma frente ao restante do mundo basquetebolistico. Paramos no tempo, regredimos na formação de técnicos e professores, nossas escolas de educação física formam paramedicos de terceira categoria onde em suas grades curriculares os desportos nãp perfazem 10% de seus conteúdos, à juventude é negado o direito da EF em suas escolas, principalmente as públicas, não temos uma politica nacional voltada à educação, quanto mais aos desportos. Enfim, o testemunhado por você reflete a nossa triste realidade, e que dificilmente reverteremos sem pesados investimentos. Quem sabe reagiremos um dia? Quem sabe…
    Um abraço, Paulo Murilo.

  3. Ricardo 25.07.2012

    Acho a ideia muito boa, mas não podemos desprezar o valor trazido por um cincão dominante em vários momentos da partida!!

    É essa possibilidade de variação que torna uma equipe forte!!

    Apesar de saber que o senhor não gosta nada da equipe (técnico e jogadores)de Brasília, gostaria de acrescentar que vi por várias vezes a equipe atuar com cinco abertos. E sempre quando se fazia necessário entrava o Tischer pra dar pancadas lá na cozinha com muita efetividade, basta lembrar das finais contra Franca!!

    Grande abraço

  4. Basquete Brasil 25.07.2012

    Prezado Ricardo Nakano,somente um reparo, o de não proceder o fato de não gostar da equipe de Brasilia, seus jogadores e técnico. Nunca afirmei nada que o levasse a pensar dessa forma, pois não podemos confundir criticas técnico táticas, com o fato de gostar ou não de uma equipe. Isso posto, agradeço sua honrosa audiência, esperando contar com seus comentários e debates mais vezes aqui nesse humilde blog.
    Um abraço, Paulo Murilo.

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