A MILENAR ARTE DO BLEFE…

Foi uma jogada de mestre, mestre no blefe, mestres que são desde que se aventuraram nos novos mundos na busca de riquezas, terras, súditos e poder. Não à-toa ainda professam a realeza, com pompas e circunstâncias.

Seus jornais festejam o resultado, que de alguma forma incrementa um sopro de otimismo num país destroçado pelo desemprego e economia pré-falida, afinal, uma medalha de prata olímpica nestes tempos de arrocho não pode ser desprezada, ou substituída por uma de bronze, menos midiática.

Mas como mascarar uma intenção de conhecimento de todos, de forma velada  ou mesmo transferi-la a um adversário que também se beneficiaria da derrota, a não ser através de um bem estruturado blefe?  Foi o que ocorreu.

            Começou de forma arrasadora, com seus titulares em pleno, atacando e defendendo com vigor e precisão, num primeiro quarto exemplar, de 26 x 17. Perto do final deste quarto, o técnico da seleção brasileira iniciou um rodízio inesperado, com a inclusão do Raul e do Caio na equipe, assim como o Larry, concorrendo para a ampliação do placar até o fim do mesmo.

Até aquele momento, ficou parecendo ser a equipe brasileira a responsável pela diferença negativa no placar, que a favorecia numa classificação eximindo-a de enfrentar os americanos numa possível semi final, que era também o objetivo espanhol a ser atingido….

No segundo quarto, mesmo com as equipes bastante alteradas, somente três pontos as separaram, em 21 x 18 a favor da brasileira, num parcial de 44 x 38 para os espanhóis.

Voltam os europeus com tudo para o terceiro quarto, menos na clara ausência de contestações aos arremessos de três, gerando um planejado equilíbrio no marcador, que foi de 22 x 19 para eles nesse quarto, ao mesmo tempo em que começou a arrefecer seu poderoso jogo interior, face a enérgica defesa dos reservas brasileiros ávidos na mostra de serviço, e por isso mesmo inconscientemente se contrapondo a uma derrota sutilmente manipulada e até desejada pela direção da seleção. Configurou-se então o perfeito blefe, aquele que responsabilizava o grande empenho dos reservas brasileiros, face aos desgastados titulares espanhóis, a improvável vitoria, quando até uma autêntica dupla armação e um triplo jogo de alas pivôs foi empregado nos três minutos finais da partida. O placar de 25 x 10 para a equipe brasileira, por si só conota a falência espanhola, mas não explica o fato de num espaço de dez minutos uma equipe tão poderosa e experiente perder por tanta diferença no quarto, a não ser que tal resultado a beneficiasse desde sempre.

Mas porque blefe, e num jogo de tal categoria internacional?

Blefe por tentar transferir totalmente a responsabilidade de uma derrota ao adversário também desejoso de perder, dando a idéia de que jogava para valer, e que somente uma atuação inesperada e previsível por parte de jogadores desejosos de provar o que valem, por participarem pouco ou quase nada nas rotações de seu adversário, culminaria numa produção vitoriosa, e para tanto concentrou nos minutos finais da partida uma falência defensiva sem tempo hábil à vista de todos para responder em pontos, e em conseqüência vencer um indesejado jogo.

A equipe brasileira jogou com correção técnica e tática, mas não atuou com sua equipe básica, inclusive poupando sua grande estrela, ao contrario da espanhola, que atuou completa e agiu na hora que lhe interessava perder, quando já havia plantado o álibi da inesperada e surpreendente eficiência dos suplentes brasileiros desejosos de se estabelecerem positivamente no âmbito de sua equipe.

Enfim, os espanhóis não desejavam e não queriam vencer, e atingiram seu objetivo, assim como os brasileiros não conseguiram perder mesmo atuando com suplentes, numa prova cabal de que o ideal de Coubertain de muito já deixou de ser levado em conta e consideração.

Tratemos agora de buscar a classificação vencendo os hermanos para começar, deixando a cor da medalha aos desígnios de um destino manipulado e falso por definição, pois o ouro, sem manobras e desídias, creio já ter um dono.

Amém.

Fotos – Reproduções da TV. Clique nas mesmas para ampliá-las.

Em tempo – As fotos mostram as varias etapas do jogo, indo da efetiva atuação ofensiva interior da equipe brasileira, à entrada de seus suplentes, assim como a ação também interior dos espanhóis e posterior ausência de contestações nos arremessos exteriores dos brasileiros, num explicito afrouxamento defensivo, até que nos minutos finais, após investidas efetivas de seus pivôs abre sua defesa em definitivo, inclusive à enterrada final do Spliter.



2 comentários

  1. Luiz Eduardo 07.08.2012

    Bom dia professor.
    Se eles entregaram, não sei, problema deles. Mas é notório observar como o time espanhol “morre” no quarto final de partida. Só venceram o referido periodo contra a China. No jogos contra a Russia e GB foi este mesmo roteiro. Muita intensidade no começo e apagão no final. Seus principais jogadores exteriores sofrem com um momento técnico ruim ( Rudy Fernandez e Caldero)e estado físico precário (Navarro). O time é (Pau)Gasoldependente.^
    No mais gostei do tempo de quadra dado ao Raul.
    Abraços

  2. Basquete Brasil 07.08.2012

    Sem dúvida alguma os espanhois “morrem”quando necessário, prezado Luiz, pois são produtos diretos do valioso mercado do esporte profissional, onde nem sempre os valores desportivos são levados em conta. Quanto ao tempo de jogo de nossos reservas, valeu pela experiência prática, mesmo que “facilitado” pela ignominia espanhola. Mas a vida ensina, acredite.
    Um abraço, Paulo Murilo.

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