CARO COLEGA…

Puxa vida Paulo, de repente você dá um branco, fica mudo e esquece que um blog de respeito tem de ser atualizado dia após dia, e que… Pera lá, respeito nada tem a ver com tempo, ou o tem, ou não, por isso ainda me dou o direito de pensar, ponderar, amadurecer, sintetizar, para ai sim, escrever algo com substância, embasamento, e por que não, respeito a quem se dá a graça de lê-lo para depois comentá-lo, criticá-lo, aqui mesmo, ou de si para consigo próprio.

Cansa em demasia uma situação imutável, monocórdia, evoluindo para trás, repetindo idos erros, como uma doença crônica, aceita por hábito, tolerada por indolência, adotada por submissão, por covardia, sem a mínima vontade de erradicá-la, já que enraizada no solo da incúria, da patológica condescendência.

Em hipótese alguma veremos revertida a situação que se desenha no triste horizonte do nosso mais triste ainda basquetebol, pois o continuísmo do que aí está se robustece na (des) troca de meia dúzia por seis, sacramentada no ciclópico concreto em que se baseia a diretiva do desporto nacional, onde os beija mãos, os beija faces, sacramentam os princípios das sicilianas famiglias, com seus códigos, suas benesses, suas trocas, suas obedientes hierarquias.

E vem o governo, travestido de profundo conhecedor do esporte como meio de educação e cidadania, transmutando tão solenes princípios em interesses grupais ligados ao desporto de elite, do culto ao corpo, do interesseiro e lucrativo marketing, dos profissionais (?) que deságuam na maré oportunista da atividade física, com seus profundos(?) conhecimentos sobre a matéria, dos políticos de ocasião, dos áspones a eles ligados, em vez de tomar a mais simples de todas as providências, não só pela obviedade, mas  pela emergência de um país que tenta evoluir, mas se debate nos limites da capacitação profissional, ou mesmo pré-profissional, alocando em conjunto com as artes, a musica, as habilidades manuais e intelectuais, uma educação física e desportiva no seio mater da escola, complementando e suplementando o futuro de uma juventude carente e abandonada, reserva intelectual de uma nação que propõe colocar-se  ao nível das grandes potencias, mas que ainda persiste na dependência político econômica de grupos, de oportunistas, de velhacos, de famiglias, pois um povo educado em muito limitaria a influência de tais e dantescos segmentos.,

Como vê amigo, quando lemos no microcosmo do grande jogo em nosso país, que bolsas serão distribuídas aos atletas de elite, num elevado quantitativo monetário, a fim de que preparadores físicos, terapeutas, psicólogos, fisiologistas, nutricionistas, e não sei mais quantos “istas”, na maioria absoluta sequer praticantes de algum segmento esportivo, sejam devidamente pagos por seus profundos conhecimentos (?) na área, podemos aquilatar para onde, por mais uma vez, iremos parar, ainda mais que nos currículos das escolas e cursos de educação física, as disciplinas desportivas cedem cada vez mais seus espaços nas grades horárias àquelas atividades que serão aquinhoadas pela cornucópia governamental.

Pesquisa esportiva? Meus deuses, desde que o segmento das “dobrinhas cutâneas” desaguou nas escolas de educação física, técnicas de desporto coletivo, individual, artístico, com seus uniformes e vestimentas tradicionais cederam lugar ao jaleco imaculadamente branco, que o desporto nacional enveredou pela pesquisa (latu, stricto, doutoral) das biomédicas, onde o como arremessar, lançar, chutar, empunhar, ensinar, desenvolver, transmitir os processos de ensino e aprendizagem praticamente deixaram de existir, pois afinal de contas, o segmento (ou pseudo…) da saúde se encontra muito acima do brincar, do jogar, do competir, do integrar, do coexistir, do conhecer, respeitar e amar seu corpo, integrando-o ao espírito, à mente, à comunidade em que vive, participa, enobrece, e ajuda a crescer.

Sim, caro colega, se desejamos ardentemente ir adiante, crescer e dar um recado bem intencionado a este tão mal tratado mundo, somente o poderemos fazer, realizar, através da escola, e somente através dela, de mais nada, de mais ninguém, pois é a célula mater de quem anseia o progresso, e mesmo daqueles que cinicamente a esquecem, trocando-a por bolsas, estádios, obras faraônicas, placas nominadas de suas pobres e miseráveis importâncias, que ousam impune e criminosamente substituir, e mesmo aniquilar o futuro da nação, seus jovens, e sua escola.

Se no caso do grande jogo, hoje penamos o triste papel que temos protagonizado na base do mesmo, tudo que acima descrevemos nos levou a tal ponto, principalmente na formação dos novos técnicos, muito mais versados como paramédicos de terceira categoria em sua formação acadêmica, do que conhecedores mínimos dos desportos, relegados a ínfimas parcelas de horas aulas em sua formação, em nome, bendito nome dos interesses da saúde, aquela que ao se licenciarem, ou bachalerarem, os relegará ao auxilio suplementar dos verdadeiros donos e patronos do desporto nacional. Quem?… Adivinhem…

Então, prezado, como classificaremos em graus de formação, pratica e acumulo de experiência uma ENTB/CBB, com seus cursos de 4 dias, associada e ligada intimamente aos princípios de um CONFEF  e seus CREF’S formalizando “provisionados” a metro? Como?

E após tão competente formação, sabe para onde canalizarão esses provisionados, e mesmo os carentes formandos de cursos superiores, senão para assumirem equipes do alto nível, das seleções de base, e nunca onde deveriam estar, que poderiam estar, se política desportiva existisse nesse desigual país, onde? Isso mesmo, na escola, e também nos clubes, na base de uma pirâmide que política, maldosa e criminosamente, sempre nos foi apresentada ao inverso, de ponta cabeça, desde sempre…

Culpa do nosso retrocesso no grande jogo?  O abandono da formação de base nos clubes, na escola, na deficiente formação acadêmica dos técnicos, da ausência de uma associação de técnicos, da omissão daqueles que detiveram o poder de mando, liderança, e não o exerceram, somente se locupletaram, dando inicio a um corporativismo que é mantido a qualquer preço, mesmo que subserviente, em nome e defesa de um seleto mercado de trabalho, onde o mérito é substituído pelo imperioso e seletivo Q.I.,  em detrimento daqueles que realmente conhecem e dominam a arte de ensinar o grande jogo, e de como ele deve ser plenamente jogado.

Que os deuses, todos eles, indistintamente, nos ajudem.

Amém.

Foto – Conferência de abertura do 3o Congresso de Treinadores da Lingua Portuguesa, Lisboa, Julho de 2009. Clique na mesma para ampliá-la.



2 comentários

  1. Paulo Montibello 24.08.2012

    Caro Professor.

    Brilhante e quase perfeito seu artigo. Quero parabenizá-lo pela propriedade da sua análise e clareza com que foi exposto o problema central da falta de base na nossa modalidade, a frase não dita mas implícita é que não temos “cultura” de basquetebol na nossa nação e sem a escola fica difícil de ser criada. Se tenho a ousadia de considerar “quase” é porque na minha opinião faltou um segmento importante da nossa área no afastamento do desporto do mal (??) da escola e da deficiente formação dos novos profissionais de educação física na área desportiva. Acredito que os conceitos de “esporte para todos”, “competir é ruim” e as ações nas escolas de educação física em substituir preciosas horas de atividade nos desportos específicos por disciplinas mais gerais como metodologia dos desportos coletivos, são mais responsáveis por isso do que o excesso de valor que se dá a área da saúde. Desde a década de 80 assisto o esporte ser afastado das escolas sob as diversos argumentos pedagógicos.
    No mais seu, na minha opinião, artigo atinge perfeitamente o alvo e não só com relação ao basquete, mas todas as modalidades esportivas e todas as manifestações culturais e artísticas, como você bem frisou.
    Fico aliviado por saber que mais gente pensa assim, em especial gente com a bagagem de conhecimento e experiência como a sua, pois em certos momentos achava que isso era resultado de meus devaneios e loucuras e que esses pensamentos não tinham nenhuma conexão com a realidade.
    Com respeito e carinho.

    Paulo Montibello

  2. Basquete Brasil 25.08.2012

    Que bom ter o artigo despertado sua concordância, prezado Paulo, e que graças aos deuses não contou com uma nada desejável unanimidade, pois sua finalidade maior é a de despertar um sentido de crescente complementação por sobre mais e mais fatores intervenientes na triste equação que tenta descrever nossa realidade educacional e cultural. Concordo com seus reparos, sabendo que muitos outros poderão ser agregados, desejando e reconhecendo que assim deva ser feito. Obrigado pela audiência e pelas amáveis palavras.
    Um abraço, Paulo Murilo.

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