FALANDO DE DUPLA ARMAÇÃO…
(…) É um jogo difícil, mas com a ausência do pivô deles, o Deivisson, faremos um jogo interior mais forte, contando também com a experiência da equipe, acostumada às pressões (…) Técnico de Brasília na entrevista antes da partida ao Sportv.
(…) O time não está bem, depois dizem que eu fico brabo… Não estamos marcando nada, nada…(…) Jogador Shamell em entrevista ao Sportv no intervalo da partida.
(…) A equipe do Pinheiros está perdida em quadra, insistindo nos arremessos de três, precisa mudar a estratégia, quem sabe uma dupla armação, que é uma tendência mundial… (…) Comentarista Renato Santos do Sportv no terceiro quarto da partida.
Mas o plano pré anunciado do técnico do Brasília não funcionou, apesar de ter sido tentado o jogo interior através o Paulão e o Cipriano em varias fases do jogo, quase sempre contestado pela veloz defesa do São José, onde o Jefferson, o Murilo e o Chico com sua grande mobilidade anularam os lentos pivôs candangos, e até mesmo o eficiente Alirio. Com a tabela dominada, ficou bem mais fácil o jogo veloz e insinuante do Fúlvio, Laws e Dedé, que dosaram melhor seus arremessos, fugindo da usual convergência (24/43 de dois pontos e 8/23 de três) o que forçou a equipe brasiliense a tentar um equilíbrio utilizando dois armadores em quadra, juntando o Nezinho e o Eric, ação muito rara nessa equipe que fundamenta todo o seu trabalho ofensivo no sistema único e numa convergência permanente (19/32 de dois pontos e 10/30 de três nesse jogo), que pela longa convivência de seus jogadores funciona melhor que todos seus oponentes utentes do mesmo.
Tentar uma dupla armação, como veremos mais adiante, não se trata de simplesmente escalar dois armadores juntos, como tem sido tentado por algumas equipes, com melhoras evidentes na melhor condução de bola, dos passes e do sistema defensivo fora do perímetro, e sem alterar um milímetro a estrutura do sistema único e suas jogadas marcadas.
Num outro jogo dessa rodada infernal, findo o primeiro tempo onde a equipe do Pinheiros não conseguia parar o eficiente e objetivo time do Uberlândia, Shamell deitou suas criticas pela TV, cobrando defesa, inexistente para ele, e a começar por ele mesmo, visivelmente deslocado na equipe, onde seu extremo individualismo a fez vencedora no playoff anterior, mas sem contornar o mais do que evidente descompasso com o técnico da equipe, numa quebra de hierarquia que poderá vir a cobrar juros muito altos no restante do playoff atual.
E lá no final do terceiro quarto, num pedido de tempo o técnico nada fala, mas de cenho fechado transparece todo o seu descontentamento, numa hora em que algo deveria ser implementado, claro, se treinado e compreendido. Foi nesse momento que o comentarista sugeria a dupla armação, como numa tentativa de melhorar uma situação irreversível àquela altura de uma equipe quebrada em sua estrutura técnica, tática e emocional, e fisicamente cansada.
Dupla armação, uma tendência mundial, me desculpe o prezado comentarista, mas desde o inicio do século passado os americanos assim escalavam suas equipes- Two guards, two fowards, one center…
Jogar em dupla armação, e tirar dela todo o potencial ofensivo que pode desencadear se complementada por três homens altos, rápidos, ágeis e com bons fundamentos atuando no perímetro interno, significa uma quebra de paradigmas, basicamente um que nos tem coisificado a duas décadas, o sistema único.
Jogar em dupla armação exige sérias mudanças de preparo na base, no estudo de um sistema diferenciado, onde a criatividade e leitura plena de jogo se destaca acima de qualquer situação que delineie jogadas armadas, coreografadas, permitindo aos jogadores o desenvolvimento de suas capacidades e potencialidades, por mais humildes que sejam.
Jogar em dupla armação exige treinamento exaustivo dos fundamentos, seja em que nível se encontrar o jogador, na base ou na elite, se baixo ou alto, se armador, ala ou pivô, pois se trata de estar sempre em contato com seu ferramental de trabalho, onde enterradas e tocos se constituem em bônus de jogo, jamais fundamentos do mesmo, e arremessos de três são reservados àqueles especialistas do mesmo, que são poucos, muito poucos.
Enfim, pouco temos em literatura e mídia sobre dupla armação de verdade, e muito menos sobre jogo interior de pivôs móveis, e por isso sugiro que revejam quando possível, e se interessar possam , acessarem nesse blog o item Multimídia (no espaço Categorias), onde jogos com a utilização plena desse sistema de jogo estão disponíveis para que possam ser pesquisados, estudados e analisados, aceitos ou não, mas pelo menos plena e razoavelmente conhecido.
Em tempo – São vídeos completos da equipe do Saldanha da Gama no NBB2.
Amém.
Fotos – Reprodução da TV. Clique nas mesmas para ampliá-las.
Professor,
como tem passado? Vejo que a diversão do basquete continua lhe mantendo ativo, reflexivo e produtivo. Bom para nós.
Foi boa sua colocação sobre fundamentos e trabalho da equipe em torno dos dois armadores. Eu achei engraçado no momento do jogo quando o Renatinho disse isso, pois a dupla armação é baseada em um conjunto de requisitos que beneficiará a equipe e não simplesmente “coloca dois armadores aí porque é uma tendência…” ou coisas do tipo. Creio que o Renatinho quis contribuir com o debate tático do jogo e foi superficial. Foi um bom árbitro, representou o Brasil muito bem. É um colega de educação física e, me parece, esta buscando qualificar o entendimento do jogo com informações e análises para os telespectadores. Há o detalhe de quem é o telespectador: grandes técnicos e analistas do jogo, como o senhor.
Mesmo assim, eu creio que a dica do Renatinho chama a atenção para algo que o senhor vem chamando a atenção há anos: a dupla armação. Portanto, ao falar de dupla armação, Renatinho alertou a todos os técnicos e jogadores que existe uma tendência à utilização da dupla armação e o senhor complementa dizendo que há requisitos a serem cumpridos para que isso funcione e eles envolvem fundamentos bem desenvolvidos.
Olhe, lá nos idos de 1984 meu time usava dupla armação. Hoje, eu acredito que o técnico tinha o conceito completo, ele não tinha QUATRO armadores do mesmo nível técnico e maturidade emocional para por em prática o que nos ensinava.
Segue o baile…
Oi Carlos, estou em razoável forma, e diligente nessa luta para tentar e colaborar com o soerguimento do nosso tão querido grande jogo. Concordo com seu comentário a respeito da tentativa do Renato de chamar a atenção para uma possivel opção de jogo, dando oportunidade a um bom debate agora iniciado por nós, mas que torço para que seja estendido aos técnicos, comentaristas, blogueiros e entusiastas do basquetebol. Sem dúvida alguma podemos sentir que algo de instigante começa a eclodir no meio, e quem sabe desaguará num novo tempo, pleno de criatividade e técnica refinada, regados pela fonte básica e estrutural dos fundamentos do jogo, for all!
Um abraço, muita saúde e paz. Paulo.
Professor, e o que dizer da defesa explícita do agora comentarista Renato Santos da dupla armação, com a menção ao senhor como ferrenho defensor da tática? Talvez nada a merecer um post específico sobre o ocorrido, mas gostaria de ler seu comentário ao mínimo reconhecimento da batalha que o senhor trava nesta trincheira. Abraços!
Sim Victor, ouvi o que o Prof.Renato Santos comentou durante o jogo do Uberlândia com o Pinheiros, numa evidente prova de que aos poucos estamos nos direcionando a novos voos, a novas formas de jogar o grande jogo, mesmo que ainda na fase do reconhecimento, aquela que antecede as grandes mudanças e transformações, que se levadas à prática ajudará em muito no soerguimento que tanto almejamos. Foi o primeiro comentário público e global sobre a iniciativa do Saldanha no NBB2, o que denota o acerto e o reconhecimento da mesma.
Um abraço, Paulo Murilo.
Torço para que esse embora pequeno reconhecimento, tenha suficiente publicidade e notoriedade para auxiliar nessa difusão prática junto a comunidade basqueteira tupiniquim, mas também ajude a resgatar o conhecimento que o senhor aqui consolida. Abraços!
Amém, prezado Victor, amém.
Paulo