OS DOGMAS E A FORÇA DO HÁBITO…
André Raw: oi pai, foi mal tinha um amigo meu aqui e não pude ver suas mensagens.
Sim, eu vi o jogo, achei a sportv online.
Achei que o Murilo bobeou em uma falta e a outra não foi. Ficou com 4 e o técnico deixou ele no banco com medo de perdê-lo,
dai o time desestabilizou.
Deveria ter colocado ele mesmo com 4
e proibido de fazer a 5.
Pelo Skype, desde Los Angeles, meu filho André teceu os comentários acima sobre o quinto jogo do playoff entre o Flamengo e o São José, e que se encaixa com precisão ao comentário que farei daqui para diante.
Bem, comecemos lembrando que a existência de alguns conceitos dogmáticos seguidos pelos técnicos nacionais, oriundos de uma unanimidade sobre a utilização do sistema único, com suas imutáveis posições de 1 a 5, gerou alguns comportamentos táticos padronizados e formatados como verdades absolutas, que têm de ser praticados sem discussões, entre os quais se encontra aquele que retira de quadra jogadores que cometem 2, 3 ou 4 faltas, para serem relançados mais adiante, quando seriam(?) importantes para a equipe, como nos minutos finais, ainda mais quando são os craques do time.
Em muitas ocasiões importantes subverti tal comportamento, e inclusive publiquei um artigo onde consta tal decisão (veja aqui), pois, como afirmo no mesmo, jogador no banco não marca pontos, ainda mais se for um dos principais pivôs da equipe, e o fato da mesma se tornar alvo de uma facilitação defensiva por sua limitação em faltas, fazê-lo marcar o pivô adversário pela frente (mas, na frente mesmo!), cobrindo-o quando necessário (atividade que deve ser treinada à exaustão, mesmo!), por uma equipe exercendo uma defesa linha da bola com flutuações lateralizadas (detalhes aqui), permitiriam que o mesmo se mantivesse em jogo por um longo período, principalmente naquele em que a supremacia no placar estivesse presente.
Mas não, como dogmaticamente nossos pivôs têm de marcar por traz, o destino do banco por faltas é inexorável, numa pobreza de atitude técnica, e principalmente tática, lamentável.
Talvez, tenha sido esse fator aquele que determinou a derrota de São José, que enfrentava um adversário duro, e jogando dentro do perímetro também, onde a velocidade do Murilo e do Jefferson colocava o Caio em maus lençóis na defesa, compensada em parte por sua boa presença no ataque.
Com as duas equipes priorizando o jogo interno, o que transformava o jogo num duelo empolgante, e o mais importante, próximo às cestas, os dois períodos iniciais transcorreram com equilíbrio e indefinição quanto ao resultado final do jogo.
A partir do momento em que o Murilo foi retirado por um longo período, e a equipe carioca passou a priorizar o jogo externo, frente à completa ausência de contestações aos longos arremessos, principalmente através o Duda (6/11 nos três), o destino da partida foi decidido ironicamente, pois um jogo que vinha sendo disputado arduamente no perímetro interno foi decidido “lá de fora” com bolinhas a granel, desmarcadas e nunca contestadas, demonstrando que esse outro dogma, o das bolinhas, segue incólume, porém alimentado pela dolorosa e irresponsável ausência defensiva às mesmas.
Mas como a turma “do que o que importa é a vitória” não está nem aí para técnicas, táticas e estratégias, segue o barco das “individualidades” bem acima do coletivo, numa caminhada que fatalmente desembocará em nossas seleções, onde um bom técnico argentino terá, ou continuará tendo, um trabalho hercúleo para convencer “especialistas” a marcar e a interagir coletivamente no ataque, tarefa que se choca com o maior dos dogmas, o de que para a maioria esta é a forma e o estilo do nosso jogo, para gáudio daqueles que nos enfrentarão lá na frente, certamente em 2016…
No próximo sábado teremos a grande decisão, incompreensivelmente em um único jogo, onde o menor erro, a mais tênue indecisão acarretará uma derrota irrecuperável, fazendo com que o jogo em si ceda precioso espaço ao nervosismo e a erros em profusão, fator que seria amenizado numa decisão de cinco jogos, como deveria ser num campeonato dessa dimensão.
Tempos atrás sugeri, por escrito, à LNB, que numa situação como essa, onde uma emissora de TV exige que a decisão seja em jogo único, que os dois finalistas participassem de um playoff de três jogos, cujo vencedor garantiria jogar a decisão no seu ginásio, numa formula que se não perfeita, daria ao menos, oportunidade das equipes se enfrentarem frente a seus torcedores, ajustassem seus sistemas, e se preparassem para a final televisiva com um razoável domínio tático e psicológico ante uma decisão de tal envergadura. Infelizmente não foi a sugestão levada em consideração, o que foi uma pena.
Torço para que essa partida represente e projete algo de novo para o nosso basquetebol, principalmente no aspecto tático, já que Uberlândia, com seu hoje equilibrado jogo interior e exterior, enfrentará uma equipe forte no jogo externo e apenas razoável no interno, porém com forte contra ataque, e contando com o apoio de uma torcida que deverá se aproximar dos 15 mil pagantes, fator importante numa decisão. Espero que tudo corra bem, e em paz.
Amém.
Fotos – Reproduções da TV. Clique nas mesmas para ampliá-las.
Fotos – Do jogo interior (1 e 2), ao reinado das bolinhas (3 e 4).