O NEGADO COLETIVISMO…
São três horas da madrugada, e acabo de rever alguns trechos gravados do jogo com o Uruguai, não como provação masoquista, mas sim para aferir com alguma precisão, ou mesmo, tentar descerrar algum diáfano véu que possa estar encobrindo algo aparentemente inexplicável às minhas cansadas retinas, mais do que acostumadas com as nuances de um jogo complexo e apaixonante como o basquetebol.
Nada percebo que não tenha analisado e julgado anteriormente, com uma única ressalva, o abandono geral e irrestrito do caráter coletivista treinado e posto em pratica nos dois meses de preparação, por toda a equipe nos jogos antecedentes a catástrofe de ontem, numa insidiosa e progressiva escalada, que atingiu seu ápice contra os uruguaios, e que catástrofe…
Anexei acima algumas reproduções da TV que fiz seletivamente, como sempre faço, e o que vemos é de certa forma preocupante, pois custo a crer que uma equipe, melhor, uma seleção nacional de grandes e imorredouras tradições, depois de tanto e exaustivo trabalho feito na busca de um planejado coletivismo, se poste numa quadra de jogo, na busca da classificação a um Mundial, atacando em amplo “leque”, quando um só jogador, num pivô ou na armação, se define como executor e definidor solitário em ações ofensivas, tendo seus outros quatro companheiros como torcedores privilegiados e estáticos na cena, faltando somente os aplausos quando bem sucedidos, numa claríssima atitude de abandono, repulsa mesmo, a um processo a que foram submetidos na busca do jogo associativo, coletivo e de movimentação contínua e homogênea, para o qual algumas qualidades de personalidade são necessárias, como o irrestrito comprometimento e o básico compromisso em torno e no âmago dos conceitos de jogo emanados pelo técnico da equipe,
Ausentes essas qualidades, temos como resultante o que assistimos nas três últimas partidas, um alheamento às propostas de jogo, canalizando definições para o foro e vontade intima inerente a cada jogador, principalmente pela clara opção ao jogo externo, onde o reinado das bolinhas mais do que nunca se mantêm íntegro, principalmente através seus mais usuais utentes, o Guilherme, Arthur, Benite e Alex, com eventuais e pontuais participantes, como o Huertas, o Larry e o Raul, e bissextos como o Rafael e o Caio. Ou seja, é a única seleção da competição em que nove de seus integrantes se consideram especialistas nos três pontos, sem dúvida um recorde mundial, e um erro colossal, bem aferido ontem quando contestados pelos uruguaios, levando-os a um constrangedor e pífio 2/18 nas tentativas de fora.
Mas a cereja desse mofado bolo veio através elucidativas entrevistas concedidas pelos já conhecidos e encanecidos cardeais da seleção, nas quais muito se pode avaliar sobre o que de real acontece no seio de uma equipe que está sendo minuciosamente desmantelada pelos vícios vitalícios de uma geração que confia essencialmente em “seus tacos”, como compensação de sua fragilidade defensiva (evidenciada mais do que nunca nesta Copa), e do principio de “grupo fechado” garantidor de suas capitanias hereditárias, onde mudanças de conceitos de treinamento e de jogo sofrem resistência ostensiva, perfeitamente visualizadas nas competições e jogos, só que nessa, de transcendental importância para o soerguimento do grande jogo no país, se deram mal, muito mal, escancarando a dura realidade de uma modalidade que se nega a evoluir, a buscar a renovação através o trabalho na base, na valorização incondicional dos fundamentos, e na visualização objetiva do que venham a ser jogadores com reais e consistentes bases para se lançarem a excelência em suas carreiras, e não esse enxame de falsos prospectos precocemente queimados por inescrupulosos e aventureiros agentes de absolutamente nada.
Analisem com isenção e profunda atenção o que dizem os cardeais, porta vozes de uma equipe que nem de longe merece compor na representação do que temos de melhor, a começar pelo não engajamento junto à honesta e competente proposta de um técnico bem intencionado, mas que cometeu dois erros brutais, que agora se desnudam como praticamente irreparáveis, o de selecionar equivocadamente jogadores que lá no fundo de suas experiências de vida e de jogo, simplesmente não aceitam suas concepções, mesmo olímpicas, de jogo, e na admissão do reinado das bolinhas, numa matéria do jornalista Marcello Pires do Basketeria de 3/9/2013 – (…) Contra Porto Rico mantivemos o time deles com um aproveitamento de apenas 32% em arremessos e não conseguimos vencer. Nesta segunda-feira, contra o Uruguai, tivemos 11% de aproveitamento na bola de três e perdemos. É simples, a bola não está caindo. (…)
(…) “É difícil dizer alguma coisa numa situação como a que estamos vivendo agora. Quando você entra numa inércia da derrota o moral começa a cair. Precisamos levantar a cabeça para ganhar o próximo jogo e tentar reverter essa situação. Temos que continuar acreditando. Chegamos num momento que não adianta mais treinar. Tem que ser na base da conversa para levantar o moral de cada um”, destacou Giovannoni.
” A gente sabe que pode brigar pelo quinto lugar para conseguir a classificação para o Mundial de Basquete. Temos que fazer o que der para vencer a Jamaica amanhã e os próximos quatro jogos da próxima fase. Depois vamos ver o que acontece”, disse o ala/armador Alex Garcia.(…)
( Trechos da matéria publicada no blog Databasket em 2/9/2013).
Realmente dá seriamente no que pensar…
Amém.
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