PREOCUPANTES MOMENTOS…

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Tenho estado muito atarefado com a visita do filho João David, com suas gravações e intermináveis sessões de vídeos e fotos, às quais acompanho com prazer, apesar do cansaço. Mas, eventualmente, como num arraigado exercício profissional, assisto os poucos jogos tupiniquins pela TV, além do parco noticiário na mídia, praticamente voltada aos interesses da NBA, como se todos aqueles que realmente se importam pelo grande jogo comungasse da mesma neurótica e colonizada fixação. Particularmente ainda nutro profundo interesse pelo nosso basquetebol, apesar da terrível provação a que tem sido submetido por um bando de aventureiros arrivistas, acreditando que com a ajuda dos deuses basqueteiros saiamos desse absurdo limbo em que se encontra.

De saída, uma matéria do Fabio Balassiano publicada em seu blog (25/2/14) pincela fortemente no âmago da grave situação na CBB, principalmente nas falhas gritantes de planejamento, organização e gestão dos incentivos públicos de grande monta a que vem fazendo jus.

Mas, ficando de fora um fator decisivo nessa pandega de mau gosto, a verba de 14 milhões injetada na semana antecedente à última eleição na CBB, que garantiu a continuidade da deficitária (em todos os sentidos…) direção que lá se encontrava, e que sucedeu a era do grego melhor que um presente, verba essa liberada pelo mesmo personagem governamental que agora, “exige” prestações de contas a projetos negligentemente gerenciados, numa clara demonstração de se eximir da responsabilidade (ou tirando da reta, se preferirem…) de ter mantido a corriola no poder, aspecto aplaudido (e por certo apoiado) por um COB, sempre interessado em manter distante o soerguimento do grande jogo, única modalidade, que se bem e seriamente gerida, reconquistaria seu lugar de direito na preferência dos jovens brasileiros desde sempre. Ainda mais, quando a pretensa massificação do vôlei se revela pífia, e muito do império de sua elite ameaça ruir também, assim como ocorreu com o basquetebol.

Mas o pior veio numa matéria publicada pelo O Globo de ontem (anexa), onde um certo cientista político, Daniel Cara, Coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, cometeu o seguinte absurdo: (…) Esse avanço é sem dúvida positivo, mas está mais do que provado que, no Brasil, a expansão do acesso é feita em detrimento da qualidade. Muitas escolas com período integral oferecem oficinas dissociadas do projeto pedagógico, como atividades esportivas, apenas para manter a criança na escola.(…)

            Depois de um bestialógico como esse, em que define disciplinas sérias (Ed. Física, Música, Teatro, Dança, Artes Manuais e Industriais…) como oficinas, negando suas importâncias na educação integral e cidadã dos jovens, direito inalienável garantido pela constituição do país, o que podemos dizer, avaliar, projetar para o futuro desse imenso e injusto país, o QUE?

Mas, e o basquetebol, o jogado, como fica Paulo?

Ah, está em plena reforma platina, vide os recentes jogos do Brasília, onde o império das bolinhas se expande aritmeticamente, com os arremessos de dois pontos, ou jogo interior, definamos, se reduzindo drasticamente (creio ser o estudo da NBA propondo uma linha dos quatro pontos ser adotado no planalto bem antes dos ianques…), e que no último jogo contra o Pinheiros alcançou a marca de 17/37 tentativas (no anterior contra o Goiânia foram 16/44!!) e 21/32 nos dois pontos, num jogo em que os paulistas perpetraram 9/26 bolinhas de três, num total de 63 para ambas (26/63)!!

Como vemos, a tecnologia hermana plantou raízes no planalto, acenando o sistema de jogo que utilizaremos e arrasaremos no Mundial em Agosto, onde nossos pivôs já se acomodam ao novo padrão, cada vez mais “queimando” de fora, resultado de uma infectada e purulenta maneira de enxergar defesa, onde, segundo um técnico de nossa elite, 90% dessa difícil arte é física, e somente 10%, técnica, numa inversão absoluta de conceitos e valores (pois só defende quem detém as técnicas para fazê-lo, os tais 90%…) geradores da inestancável hemorragia dos três, agora sedimentada e avalizada pelos sábios técnicos, inclusos os estrangeiros…

Juro pelos deuses, que se quiséssemos desmontar o que ainda resta de útil e bom em nosso basquetebol, não faríamos melhor do que essa corporação está conseguindo, permitindo e incentivando essa “chutação” desenfreada, e incrementando o “vamo lá” ao instruir defesa…

Amém.

Fotos- Bala na Cesta, Globoesporte,Reprodução do jornal O Globo. Clique nas mesmas para ampliá-las.

MENTIRAS E POUCAS (PORÉM BEMVINDAS) VERDADES…

 

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Desculpem-me pela relativa longa ausência, mas tive de dar um tempo. Primeiro, pela chegada de meu filho caçula que mora na Irlanda, e que não via a mais de um ano. Segundo, por me sentir cansado de relatar monocordicamente uma irritante e desgastante mesmice que, agora mais do que nunca, raia ao incompreensível.

Mesmice que transcende as quadras, e embarca na mentira institucional, cínica, obtusa, irracional, ferindo de morte as ainda poucas chances de nos soerguermos desse limbo criminoso que impuseram ao grande jogo.

Poucos dias atrás numa entrevista com o presidente da CBB, num relato dos bastidores do honorífico convite da FIBA para o Mundial, ficamos sabendo que a modalidade 3 x 3 foi um dos relevantes argumentos para sermos “escolhidos”a uma das quatro vagas disponíveis, pelos grandiosos esforços de nossa mentora para que tal modalidade se firmasse em nosso país, e internacionalmente, conforme interesse da entidade máxima, e não o indesmentível fato de que a grande realidade foi que compramos a vaga, pagando valores que Rússia, Itália, Alemanha e China se recusaram a pagar, e o pior, vendendo uma ideia de que o futuro do basquetebol passa por uma forma de jogá-lo que deveria ter somente como praticantes os muito jovens, nas escolas e praças do país, como foi desenvolvida, por exemplo, na Espanha, fundamentando e popularizando o jogo de uma forma economicamente viável e voltada ao lazer, e não como modalidade adulta, como querem determinar. Trata-se de uma mentira vulgar e política, na tentativa de justificar um “convite” cujos interesses transcendem a realidade dos fatos apresentados.

A seguir, uma outra entrevista, agora do diretor técnico da mesma entidade, corroborando a fala do presidente, mas acrescentando um outro e mentiroso fator, o de que em momento algum “pagamos” pelo convite, e sim “doamos” uma módica quantia para os projetos da FIBA voltados aos jovens, como se todos nós fôssemos uns imbecís, assim como aqueles países que se negaram a doar uma fortuna para serem agaloardos pelos valiosos convites.

Não bastasse tanta hipocrisia e mentira institucionalizada, tive ainda a paciência de ligar a TV para assistir, e quem sabe comentar, um jogo da Liga Sorocabana, dirigida, empresariada e comandada por uma mesma pessoa, que se assume como técnico de basquete, mas que no primeiro pedido de tempo ameaça seus jogadores com a inacreditável fala – São dois jogos por semana, se continuarem jogando assim só pago um…-

Não a toa se coloca nos últimos lugares da tabela, não merecendo minha audiência por um minuto a mais, pois não tenho tempo a perder com sandices desse nível. Mas antes de desligar ainda pude ouvir o comentarista Renato dos Santos tentar justificar tal absurdo afirmando ser o tal técnico um cara engraçado, folclórico, e ainda acrescentou um pequeno e elucidativo relato de um jogo no interior paulista a que o mesmo não compareceu por ter sido jurado pela torcida adversária pelas confusões que sempre armava. Bem, após tal relato, desliguei ao TV e fui tratar de assuntos mais importantes…

No entanto, retornei ao jogo três dias atrás, desconfiado de que me arrependeria de alguma forma, e não deu outra, como atestar uma vitória do Flamengo na Liga das Américas por 32 pontos, contra uma equipe porto-riquenha de aeroporto que simplesmente não sabia defender, atacar, ou mesmo jogar, e que foi dominada por um surpreendente jogo interior dos rubro-negros como a muito não via, não arremessando mais do que vinte bolas de três, e mesmo assim atingindo os 120 pontos, ao contrário de seu maior oponente no país, o Brasília, que não satisfeito com a desclassificação na mesma Liga, venceu o penúltimo colocado no NBB arremessando 17/21 bolas de dois, e inacreditáveis 16/44 de três, isso mesmo, 44 bolinhas, e o pior, vencendo por somente nove pontos (91×82), numa performance simplesmente lamentável. Frente a esse descalabro fiquei me perguntando – E o gênio argentino, por onde anda com sua pretensão de mudar a forma de jogar de nosostros? Creio firmemente que simplesmente “aderiu”…

Talvez assista logo mais a ultima rodada da Liga das Americas, e sequer chegando perto do circo armado em New Orleans por uma NBA prestes a se ver às voltas com a Comissão do Congresso que investiga estimulantes nas ligas profissionais (Já arrasaram o futebol deles, o atletismo, o ciclismo e o beisebol…), o que de certa forma explicaria a cada vez maior ausência das jamantas em suas equipes, e que, aliás, depois de décadas de existência não formarão nas equipes que se defrontam logo mais.

Ironicamente, essa tendência está se realizando a reboque do que foi implantado na Europa, e nas tentativas do Coach K para que seus homens altos aprimorem a velocidade, a elasticidade e a flexibilidade, em vez da massificação muscular, fatores que desde sempre fiz valer em meu trabalho de mais de meio século, mas que já já encontrará nos nossos “estrategistas” a devida paternidade herdada da matriz lá de cima, e que foi tão bem comentada pelo grande Hakeen Olajuwon na entrevista publicada pelo Bala na Cesta de ontem.

Por aqui fico, pois o João David, músico dos bons, pede minha presença nas gravações de seu segundo CD, para fotos e vídeos, o que farei com o máximo prazer de orgulhoso pai.

Amém.

 

Fotos – Reproduções da TV, Globoesporte, Bala na Cesta. Clique nas mesmas para ampliá-las.

O “CORNER PLAYER”…

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Chego cedo ao Tijuca, afinal o jogo com o Pinheiros apontava para casa cheia (o que não ocorreu), encontro o José Geraldo com quem trabalhei três anos na base do  Barra da Tijuca, e fomos nos sentar no ginásio, exatamente quando começava o aquecimento dos jogadores cariocas. Observo a movimentação, quando algo me chamou a atenção, um rotundo americano que simplesmente não conseguia flexibilizar qualquer articulação de seu corpo, “embromando” os movimentos em super câmera lenta, atitude que nem a temperatura elevada no local poderia justificar. Fiquei atento ao cara, imaginando como seria e agiria na tocada de um jogo que se anunciava frenético, apesar de considerar para comigo mesmo, ser um jogo para se colocar a bola embaixo do braço, cadenciá-lo e valorizar ao extremo a posse de bola, dada as circunstâncias de desgaste das duas equipes mergulhadas numa infernal temperatura ambiente.

Mas qual nada, o jogo transcorreu numa velocidade absurda frente à realidade de um calor insuportável para quem assistia, imagino para quem jogava, num duelo suicida para ver quem abriria o bico primeiro, os cariocas amantes do sol, ou os paulistas irmãos da garoa, que por conta disso tudo fizeram somar a elevada cifra de 29 erros de fundamentos, entremeados pela contumaz chuva de bolinhas (18/45), e uma correria simplesmente infantil, jamais adulta, profissional, e mais, assistindo a sacralização de mais uma posição nesse sistema absurdo de jogo que praticamos, o “corner player”, aquele que passa todo o seu tempo em quadra na esquina da mesma para efetuar sua única habilidade(?) e função, a bolinha de três…

E o americano rotundo? Não deu outra, simplesmente não conseguia acompanhar o ritmo do duelo, a barriga não deixava…

No universo de tanta fragilidade técnica, correria desenfreada, erros fundamentais indesculpáveis (o discurso de que as equipes estavam desgastadas pelos compromissos fora do NBB perdiam sua razão frente à tão evidente realidade…) vimos o jogo caminhar para o quarto final, quando… O Pinheiros resolveu colocar a bola embaixo do braço, jogar dentro do garrafão, utilizar seus pivôs e as penetrações, e ganhou o jogo, numa ação tática premeditada, ou fruto do cansaço, antecipando um diminuição de ritmo que os cariocas negligenciaram?

Sei não, prefiro me eximir de comentar algo tão óbvio naquelas circunstâncias de jogo, quando a minutos de seu final um dos duelantes abre mão (por cansaço?…) da velocidade burra, pausa para pensar, joga onde deveria ter jogado desde o inicio (ambas deveriam assim ter pensado e agido), ou seja, “lá dentro”, no âmago do adversário, demonstrando quem realmente teria capacidade técnica e tática somadas a uma estratégia de jogo condizente às condições existentes, e não somente uma, a minutos do final, carimbando o resultado.

Mas, a dura realidade é a de que nossos jogadores aos poucos vão transcendendo a liderança de seus técnicos, insistindo e perpetuando o “dribla e chuta”, a correria utópica, o abandono do jogo interno, a ausência defensiva, onde praticamente todos sedimentam o reinado das bolinhas, podemos projetar o que nos espera nas competições internacionais mais adiante, não essas que participamos contra muitas equipes formadas nos aeroportos (e fazendo jogos duríssimos), mas aquelas que agora, trágica e infelizmente, participaremos por convites, a continuar a insânia firmemente imposta e instalada em nosso basquetebol.

Saindo do ginásio, segui pensando o que nos espera num futuro breve, 2016, principalmente ao constatar o quanto de prejuízo incidirá sobre o futuro de jovens talentos, como o Bruno Caboclo, jogando da forma desvairada como atuou, com muitos fundamentos ainda por adquirir, dentro de um carrossel desgovernado pela velocidade sem sentido, sendo lançado ao rachão tradicional de nossas equipes de elite, na marra, correndo os mesmos perigos que já fizeram sucumbir outros jovens estigmatizados pela quimera de uma NBA, fazendo com que suas carreiras passem ao largo de uma possível NCAA, com seus diplomas importantes para aqueles que ao encerrarem suas curtas carreiras possam dar continuidade digna as suas vidas, mesmo aqui, em nossas universidades, ou simplesmente concluindo o ensino médio, ou técnico, fatores estes abjurados e negados por falsos agentes, empresários, dirigentes, alguns jornalistas, e por que não, técnicos também, que somente os veem como mercadoria a render valores no menor espaço de tempo que for possível.

Mas qual nada, estamos no Mundial, gloriosamente classificados, não no suado piso de uma quadra, dentro de uma penosa competição, mas no tapetão internacional do escambo, da troca política, através indivíduos que odeiam o grande jogo, porque jamais o entenderão, jamais serão aceitos por ele, mas que o dirigem à sombra de sua mesquinhez e pusilanimidade, e o horror, pela nossa omissão em permitir tal descalabro.

Amém.

Fotos – Reproduções da TV. Clique nas mesmas para ampliá-las.