MENTIRAS E POUCAS (PORÉM BEMVINDAS) VERDADES…
Desculpem-me pela relativa longa ausência, mas tive de dar um tempo. Primeiro, pela chegada de meu filho caçula que mora na Irlanda, e que não via a mais de um ano. Segundo, por me sentir cansado de relatar monocordicamente uma irritante e desgastante mesmice que, agora mais do que nunca, raia ao incompreensível.
Mesmice que transcende as quadras, e embarca na mentira institucional, cínica, obtusa, irracional, ferindo de morte as ainda poucas chances de nos soerguermos desse limbo criminoso que impuseram ao grande jogo.
Poucos dias atrás numa entrevista com o presidente da CBB, num relato dos bastidores do honorífico convite da FIBA para o Mundial, ficamos sabendo que a modalidade 3 x 3 foi um dos relevantes argumentos para sermos “escolhidos”a uma das quatro vagas disponíveis, pelos grandiosos esforços de nossa mentora para que tal modalidade se firmasse em nosso país, e internacionalmente, conforme interesse da entidade máxima, e não o indesmentível fato de que a grande realidade foi que compramos a vaga, pagando valores que Rússia, Itália, Alemanha e China se recusaram a pagar, e o pior, vendendo uma ideia de que o futuro do basquetebol passa por uma forma de jogá-lo que deveria ter somente como praticantes os muito jovens, nas escolas e praças do país, como foi desenvolvida, por exemplo, na Espanha, fundamentando e popularizando o jogo de uma forma economicamente viável e voltada ao lazer, e não como modalidade adulta, como querem determinar. Trata-se de uma mentira vulgar e política, na tentativa de justificar um “convite” cujos interesses transcendem a realidade dos fatos apresentados.
A seguir, uma outra entrevista, agora do diretor técnico da mesma entidade, corroborando a fala do presidente, mas acrescentando um outro e mentiroso fator, o de que em momento algum “pagamos” pelo convite, e sim “doamos” uma módica quantia para os projetos da FIBA voltados aos jovens, como se todos nós fôssemos uns imbecís, assim como aqueles países que se negaram a doar uma fortuna para serem agaloardos pelos valiosos convites.
Não bastasse tanta hipocrisia e mentira institucionalizada, tive ainda a paciência de ligar a TV para assistir, e quem sabe comentar, um jogo da Liga Sorocabana, dirigida, empresariada e comandada por uma mesma pessoa, que se assume como técnico de basquete, mas que no primeiro pedido de tempo ameaça seus jogadores com a inacreditável fala – São dois jogos por semana, se continuarem jogando assim só pago um…-
Não a toa se coloca nos últimos lugares da tabela, não merecendo minha audiência por um minuto a mais, pois não tenho tempo a perder com sandices desse nível. Mas antes de desligar ainda pude ouvir o comentarista Renato dos Santos tentar justificar tal absurdo afirmando ser o tal técnico um cara engraçado, folclórico, e ainda acrescentou um pequeno e elucidativo relato de um jogo no interior paulista a que o mesmo não compareceu por ter sido jurado pela torcida adversária pelas confusões que sempre armava. Bem, após tal relato, desliguei ao TV e fui tratar de assuntos mais importantes…
No entanto, retornei ao jogo três dias atrás, desconfiado de que me arrependeria de alguma forma, e não deu outra, como atestar uma vitória do Flamengo na Liga das Américas por 32 pontos, contra uma equipe porto-riquenha de aeroporto que simplesmente não sabia defender, atacar, ou mesmo jogar, e que foi dominada por um surpreendente jogo interior dos rubro-negros como a muito não via, não arremessando mais do que vinte bolas de três, e mesmo assim atingindo os 120 pontos, ao contrário de seu maior oponente no país, o Brasília, que não satisfeito com a desclassificação na mesma Liga, venceu o penúltimo colocado no NBB arremessando 17/21 bolas de dois, e inacreditáveis 16/44 de três, isso mesmo, 44 bolinhas, e o pior, vencendo por somente nove pontos (91×82), numa performance simplesmente lamentável. Frente a esse descalabro fiquei me perguntando – E o gênio argentino, por onde anda com sua pretensão de mudar a forma de jogar de nosostros? Creio firmemente que simplesmente “aderiu”…
Talvez assista logo mais a ultima rodada da Liga das Americas, e sequer chegando perto do circo armado em New Orleans por uma NBA prestes a se ver às voltas com a Comissão do Congresso que investiga estimulantes nas ligas profissionais (Já arrasaram o futebol deles, o atletismo, o ciclismo e o beisebol…), o que de certa forma explicaria a cada vez maior ausência das jamantas em suas equipes, e que, aliás, depois de décadas de existência não formarão nas equipes que se defrontam logo mais.
Ironicamente, essa tendência está se realizando a reboque do que foi implantado na Europa, e nas tentativas do Coach K para que seus homens altos aprimorem a velocidade, a elasticidade e a flexibilidade, em vez da massificação muscular, fatores que desde sempre fiz valer em meu trabalho de mais de meio século, mas que já já encontrará nos nossos “estrategistas” a devida paternidade herdada da matriz lá de cima, e que foi tão bem comentada pelo grande Hakeen Olajuwon na entrevista publicada pelo Bala na Cesta de ontem.
Por aqui fico, pois o João David, músico dos bons, pede minha presença nas gravações de seu segundo CD, para fotos e vídeos, o que farei com o máximo prazer de orgulhoso pai.
Amém.
Fotos – Reproduções da TV, Globoesporte, Bala na Cesta. Clique nas mesmas para ampliá-las.
Olá Professor, gostaria de acrescentar mais uma “grande” história do folclórico “técnico” da LSB.
Em um jogo na cidade de São José do Rio Preto/SP, no Campeonato Paulista, senão me engano de 2012, em um jogo entre as equipes América x LSB, a LSB perdeu o jogo e o seu “técnico” revoltado proibiu os jogadores de tomarem banho, resultado: tiveram que fazer uma viagem “rápida”, uns 500km de ônibus, até Sorocaba, imagina o clima dentro do ônibus! E mais, saiu esbravejando que não iria parar nem para jantar, mas isso segundo os envolvidos não se confirmou, a fome falou mais alto.
Seja bem vindo, professor, nos brindando com um ótimo artigo.
Fico impressionado quando assistimos os mesmos jogos, escutando as mesmas bobagens (acho que posso intitulá-las assim) e tendo reações parecidas com as do senhor. Já aconteceu várias vezes.
Grande abraço
Será que vamos ter que começar a tomar Plasil antes de vermos os jogos do NBB? Caminha para isso, infelizmente.
Prezado José, será que tais atitudes floresceriam na presença de uma associação de técnicos forte, atuante e ligada a um principio ético considerado e aceito por todos? Certamente que não, daí sua explicável inexistência, negada e proscrita pelo corporativismo existente, mantenedor da triste realidade que conhecemos.
Porém, acredito que a tenhamos em breve, já que fundamental para o soerguimento do grande jogo entre nós.
Um abraço, Paulo Murilo.
Obrigado Reny, mas infelizmente ainda escutaremos toneladas de bobagens por muito tempo. Ainda bem que a companhia de um eficiente controle remoto nos equipa para nos livrar do besteirol vigente.
Um abração, Paulo.
Tens razão Luiz, e Plasil é pouco para tanta mediocridade.
Paulo Murilo.
Prof. Paulo, parabéns pelo Blog.
Me divirto muito com seus comentários, nosso país é uma fábrica de piadas prontas, infelizmente. Sua maneira de abordar os absurdos do nosso basquete é incisiva, inteligente e engraçada (rir pra não chorar, né?
Boa sorte.
Um abraço.
Marcelo de Rezende
Obrigado, prezado Marcelo,por sua importante audiência a esse humilde blog. Um abraço, Paulo Murilo.