COLORADO SPRINGS…

 

 

“Como uma equipe pode sair de dois tempos técnicos seguidos e perder a bola numa reposição de fundo de quadra, não consigo entender”

abandonados

Esse o comentário do narrador da Fiba Americas após a perda de bola da seleção brasileira, faltando 6seg e estando dois pontos atrás no marcador, após o acumulo de dois tempos seguidos pedidos pelos técnicos em confronto, selando a terceiro derrota seguida na fase de classificação (72 x 69 para a Republica Dominicana), a perda de uma das quatro vagas ao Mundial sub19 de 2015, e destinando a seleção a disputa das classificações de 5o lugar em diante, como vem sendo de praxe…

A foto acima foi reproduzida do artigo Abandonados, publicado pelo Henrique Lima em seu blog O Jogo Não Para, retratando o primeiro dos dois tempos seguidos ao faltarem 19seg para o fim da partida, cujo relato vale a pena ser lido.

É mais do que certa e esperada a enxurrada de desculpas vindas da comissão técnica, dos supervisores, administradores, diretores, principalmente quanto a falta de tempo para um treinamento mais aprimorado, mais jogos preparatórios (claro que internacionais…), etc, etc. Mas, em absoluto tocarão no aspecto puramente formativo dos jovens jogadores, que mais do que nunca necessitavam aprender, praticar e fixar os fundamentos do jogo, desenvolverem-se através os drills, aprimorando os fundamentos coletivos de ataque e defesa, e serem apresentados a sistemas que ressaltassem suas habilidades, sua criatividade, sua noção coletivista e participativa, numa evolução ascendente a correta leitura do grande jogo, e não acorrentados e manietados a um sistema controlado de fora para dentro da quadra, e presos a delirantes rabiscos em pranchetas que nada dizem ou acrescentam técnica e taticamente, a não ser se prestarem a refletir quimeras e empulhações de seus proprietários, que simplesmente sumiriam na ausência das mesmas, já que destituidos do maior dos dons de um verdadeiro professor, técnico e líder, a credibilidade de suas ações pedagógicas, didáticas e emocionais, mas garantidos pelo apadrinhamento e pelo corporativismo a que pertencem desde sempre.

Creio que é chegada a hora de reconhecermos o fracasso dessa política protecionista e covarde para com o basquete brasileiro, entendendo-se de uma vez por todas que o mais importante não é o tempo estendido de treinamento o fator aprimorador de um grupo de jovens, e sim a qualidade do que lhes é passado e ensinado, por pessoal que realmente entenda e domine profundamente a arte do treinamento, lapidada por muitos anos de estudo, pesquisa, trabalho estafante e integral, aspectos que jamais cursos de nível III com quatro dias de duração conseguirão preencher, sequer arranhar, pois a experiência válida é a vivida, sofrida, abnegada e evolutiva…

Se porventura a entidade máxima do basquete no país, e outras ligadas ao desporto em geral quiserem dar o salto que nos falta para alcançarmos competitividade para 2020 (2016 já é passado…), deveriam começar reunindo em torno de uma grande mesa, em cada região desse imenso e injusto país, aqueles reais, competentes e lutadores especialistas na formação de base, para num imenso brain storming alcançarem e formularem objetivos factíveis dentro de nossa realidade econômica e social, para que no âmago das escolas, clubes, associações e federações brotasse uma nova realidade fundamentada em atividades abertas a todos os jovens, num processo natural de massificação, envolto em princípios e conceitos realistas, democráticos e liderados por cabeças pensantes e atuantes, com longos e longos anos de estrada, que balizariam os novos professores e técnicos em suas funções, e não o que assistimos nestes tristes tempos, quando estes lideram projetos inconsistentes e equivocados, protegidos pelo Q.I. do favorecimento político e mafioso.

Então, perante a tantos fracassos escorchantes e humilhantes, que não venham culpar os “detalhes”, pois muito mais culpados do que  aqueles que escolhem e indicam, o são os que aceitam inconsequente e interesseiramente, dirigir equipes nacionais sem o preparo necessário para fazê-lo, o que os tornam responsáveis pelos resultados, sem desculpas de qualquer espécie.

Mantenho meu posicionamento de muitas décadas, o de que sempre tivemos bons e maus dirigentes, mas que não formam e treinam jovens no grande jogo, mas que também tivemos bons e ótimos formadores e técnicos, hoje esquecidos e afastados por uma geração formada em escolas de educação física, onde o ensino desportivo representa 1/5 de currículo, e 4/5 voltados à formação de paramédicos de terceira categoria, ah, e personal trainings, numa inversão de valores e competências que nos tem levado ladeira abaixo aqui e lá fora, capitaneados por conselhos regionais e federal, braços garantidores da indústria do corpo que manipulam 25 bilhões anuais, e aos quais não interessa a educação física e os desportos na escola, onde uma clientela adolescente encontraria sua educação física e mental, privando-a da mesma, o que se torna impensável para holdings que já investem nas classes C e D da população através academias a 49 reais mensais.

O grande jogo necessita se reestruturar, buscando nos mais capazes as matrizes de seu soerguimento, evitando as aventuras vegonhosas e constrangedoras, como a que assistimos agora em Colorado Springs.

Amém.

 



4 comentários

  1. Henrique Lima 23.06.2014

    Professor, obrigado pelos créditos da foto.

    Uma tristeza ontem.

    Mais uma.

    Porém, pela falas da maioria, estamos no caminho certo.

    Evidentemente não estamos.

    E não se esqueça do curso Nível III, em São Paulo. Provavelmente irão ensinar que no derradeiro tempo técnico do jogo, você deve ir conversar com esta turma enorme de auxiliares (para que tanta gente?!) e esquecer dos únicos que devem ser lembrados, afinal, são quem realizam o jogo.

    Um abraço

  2. Basquete Brasil 24.06.2014

    Henrique, mais do que uma tristeza, uma aberração, que espanta de tão absurda e constrangedora, para todos aqueles que ainda acreditam ter o grande jogo futuro entre nós. Infelizmente, nas mãos dessa turma encastelada na CBB, nada alcançaremos, a não ser repetidas frustrações. Mas não há mal que sempre dure…
    Um abraço, Paulo.

  3. Bruno Bambacaro 27.06.2014

    Caro professor.

    Gostaria de saber o que ensinam nos cursos da ENTB quanto a direçao de equipe por que na Italia me ensinaram o oposto do que se viu em quadra. Estamo muito atras dos europeus e me preocupa muito o futuro das categorias de base nao só da seleçao mas tambem dos times que formam a elite do basquete nacional.

    Um abraço

  4. Basquete Brasil 28.06.2014

    O que se pode esperar de cursos níveis I, II e III dados em 4/5 dias cada, sendo que o próximo nível III em SP, claramente foi organizado para suprir vagas na LNB e LDB, e consequentemente gabaritar técnicos para nossas seleções? Mérito, experiência e longa vivência no ensino e direção de equipes sequer são avaliados pelos que se apropriaram do basquete brasileiro, todos preocupados somente na manutenção técnico tática do que temos assistido constrangidos, onde o ponto mais defendido é o corporativismo no âmago do mercado de trabalho. Com tal cenário, o que importa categorias de base para essa turma?
    Um abraço, Bruno. Paulo Murilo.

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