MORDENDO E ASSOPRANDO…
“O desequilíbrio psicológico acabou desencadeando um aproveitamento ruim nos arremessos, mas a nossa defesa funcionou e conseguimos jogar de igual para igual com grandes esquipes da Europa. O ataque foi o maior problema. Estou com um gosto amargo e triste por estar indo embora, queria ter ficado mais, mas me sinto muito agradecido por tudo o que essas meninas fizeram. Elas precisam continuar evoluindo e jogando o basquete que o mundo joga, não que é jogado nos seus clubes no Brasil. Falta experiência internacional e intercâmbios para que elas possam crescer ainda mais. São necessários mais tempo com a seleção e mais jogos internacionais” – analisou Zanon.
Esqueceu, no entanto, de mencionar que até bem pouco tempo dirigia uma equipe campeã feminina, onde praticava a forma de atuar que agora critica…
“Acredito que elas possam continuar evoluindo até 2016, mas precisa ser a partir de amanhã. Elas não podem voltar para o clube e voltar a praticar um basquete diferente do que o mundo pratica aqui. Não conseguíamos fazer nenhum jogo internacional no Brasil porque ninguém queria sair da Europa. Mas acredito que esse interesse vai aumentar agora que vamos sediar as Olimpíadas. Precisamos ter muito mais tempo de treinamento com a seleção e muito mais jogos internacionais para manter essa visão e esse conhecimento que temos agora. Se houver tudo isso, em dois anos, com outras competições como o Jogos Pan-Americanos, Pré-Mundial e amistosos, podemos levá-las a um lugar que elas nem acreditam. Por que não uma medalha em 2016?” – finalizou.
Mas que lugar seria este, que somente agora descobriu dirigindo e perdendo com uma seleção nacional? O que mudou e se cristalizou em tão pouco tempo de estrada?…
“Disputamos o Mundial com nove atletas (entre 12) que nunca tinham jogado essa competição. A gente vai fazer um balanço de tudo, refletir bastante sobre isso que aconteceu. Vamos sentar com ele (Zanon) no mês que vem para fazer o planejamento das Olimpíadas. Esse Mundial não é o fim. A gente vai fazer de tudo para que essas meninas disputem o maior número possível de jogos internacionais, porque no Mundial elas sentiram muitas diferenças, principalmente em relação aos contatos físicos” – disse Mazzuchini.
Que adianta disputar o máximo de jogos internacionais se as jogadoras não detêm um mínimo de conhecimento e utilização dos fundamentos do jogo? Seria essencial começar pelos mesmos, para depois encarar as feras que os aplicam com maestria, não?…
“Desde a minha primeira conversa com o Zanon, há um ano e meio, a gente propôs uma primeira situação, que acabava agora no Mundial. Vamos fazer um balanço de tudo, sobre tudo o que aconteceu aqui e devemos sentar com ele já no próximo mês, para alinhar como que vai ser a preparação a partir de 2015, visando as Olimpíadas de 2016. Mas, com certeza, ele faz parte dos planos da CBB” – disse o ex-jogador e diretor técnico da CBB Vanderlei Mazzuchini Júnior.
E realmente acabou, um nono lugar define muito bem o que ocorreu, ou estamos enganados?
“Hoje, é muito difícil falar em metas e colocação. A gente vai fazer de tudo para colocar essas meninas em jogos internacionais, porque a gente sente essa diferença física e de intensidade, para que elas se acostumem a esse nível de jogo. E a gente tem certeza que fazendo esse intercâmbio internacional, essas meninas vão melhorar, se desenvolver rapidamente, porque tem idade para isso, e a gente vai chegar com uma equipe mais competitiva. Agora, falar em metas é sempre muito difícil e complicado, já que é uma equipe muito nova” – concluiu Vanderlei.
Média de 25 anos não significa uma geração carente de experiências técnicas, assim como métodos “avançados e científicos” de preparação física não definem perfis específicos de jogadoras, mas sim o conhecimento dos fundamentos básicos, para a consecução de um bem planejado projeto tático e estratégico, que sem os mesmos naufraga a exemplo desse Mundial, e é de responsabilidade de quem as dirige e não o inverso…
Como vemos, sutilmente fica colocado que as grandes perdas nesse Mundial deveu-se às jogadoras, pelo nervosismo, com consequente desequilíbrio psicológico, erros nos fundamentos, nos arremessos, pelo fato de serem muito jovens, inexperientes e pouco rodadas em embates internacionais, além do fato de disputarem campeonatos nacionais em seus clubes pouco competitivos, muito diferente da intensidade internacional, etc, etc, etc…
Mas nada foi dito ou assumido sobre a parte que cabia à direção técnica da equipe, a preparação nos fundamentos, e seus sistemas de jogo (“O início do jogo foi inseguro e trouxe a incerteza que as tirou do campeonato. Posso dizer que o ataque foi nosso grande problema, não fluiu como deveria, mas em compensação tivemos boas defesas”, analisou Zanon, que ainda se mostrou satisfeito pela evolução apresentada pelas jogadoras, principal proposta do Brasil no campeonato.), que como sempre, não ofereceu a fluidez desejada originando as derrotas, além de apresentar jogadoras carentes de fundamentos individuais e coletivos, e que podem ser ensinados e treinados independentemente de faixas etárias, como um exercício permanente de aprendizado, assimilação e manutenção das técnicas fundamentais do grande jogo, e que são suas ferramentas básicas de trabalho…
No entanto, foram propositalmente omitidos os dois principais fatores do fracasso, a inexistência de um bem formulado planejamento de jogo, onde o trabalho nos fundamentos cedeu prioritariamente espaço a uma preparação física diferenciada e a táticas ofensivas de “alto nível”, aliadas a uma defesa que pendurava as melhores reboteiras do time precocemente, onde a agressividade física substituía as técnicas de posicionamento corporal, como também o fato primordial de que, face a tantas deficiências formativas, seu líder ainda se dividia entre duas distintas realidades, na direção de uma equipe da elite masculina e a seleção em questão, ambas desclassificadas para as fases decisivas…
Como vemos, as sutis mordeduras, precedeu assopros como – “Eu queria agradecer a todas essas jogadoras pelo objetivo e o amadurecimento precoce que elas mostraram nesse período do Mundial. Nós sabemos que é difícil jogar uma competição de alto nível como essa”, afirmou o comandante. “Vários aspectos precisam ser corrigidos. Mas de qualquer forma tenho muito que agradecer a toda comissão técnica e nossas atletas que se dedicaram e não desistiram”, finalizou.
É um posicionamento claro de estar convicto de que em nada e por nada teve a ver pelo fracasso técnico e tático na competição, quando no comando de uma seleção que descreveu nos depoimentos acima e de própria lavra, e que contou com o tácito apoio diretivo da CBB, dando carradas de razões a uma velha e saudosa amiga e conselheira que tive em boa parte de minha vida, uma mãe afável e crítica, justa e democrática, quando me lembrava – Filho, quem tem padrinho não morre pagão…
Creio ser o caso até agora enfocado, e que terá continuidade, infeliz e terrivelmente até 2016. Acredito que nossas gerações mereceriam destino melhor, sem dúvida alguma, porém…
Amém.
Depoimentos – descritos em matérias publicadas no Globoesporte.com.
Fotos – Reproduções da TV. Clique nas mesmas para ampliá-las e acessar as legendas.