O “APRENDIZADO”DE 40 PONTOS…
“Não me lembro de quando foi a última derrota do Flamengo por uma diferença tão grande. Mas sabemos que a experiência de ter vindo jogar aqui na NBA faz isso ficar um pouco de lado. Sabíamos do poder físico e defensivo do time do Memphis e vimos isso hoje em quadra. Eles não deixaram a gente jogar”, analisou o técnico flamenguista José Neto.
“Não perdemos nada aqui na nossa passagem pelos Estados Unidos, pelo contrário. Nós ganhamos em experiência, em qualidade e temos que ver tudo pelo lado positivo. Mesmo com uma derrota como essa que tivemos tem muita coisa que podemos levar para o bem e para a nossa temporada que está só começando”, completou o comandante rubro-negro.
Autor de 17 pontos, com direito a cinco bolas certeiras da linha de três pontos, o experiente ala Marcelinho Machado liderou o ataque flamenguista e deixou a quadra como o cestinha da partida. Com 14 e 13 pontos, respectivamente, o ala Marquinhos e o pivô norte-americano Jerome Meyinsse foram os outros bons pontuadores do time rubro-negro. Quem também merece destaque é o armador Gegê, responsável por nove pontos e seis assistências.
“Ninguém gosta de perder, ainda mais pela diferença que foi. O lado físico pesa muito quando você joga contra um time norte-americano e isso complicou muito nosso o trabalho. Eles tiveram o domínio dos rebotes. Mas a experiência foi muito boa, não só para o Flamengo mas como todo o basquete brasileiro”, declarou o cestinha Marcelinho.
(Matéria publicada no site da LNB em 18/10/14)
Pois muito bem, como vemos acima, são declarações curiosas e imaginativas, quando um técnico afirma não ter o adversário permitido que seu time jogasse, pelo seu poder físico e defensivo mostrado em quadra, como se não soubesse o que iria enfrentar, como se não tivesse tido acesso a históricos e vídeos de seus jogos, tendo pleno conhecimento de seus sistemas de jogo. Simplesmente não deixaram sua equipe jogar porque em momento algum se viram agredidos no âmago de sua defesa, e a partir do momento em que passaram a contestar seus armadores (foram 31 erros de fundamentos, 31!!) e os longos arremessos, ( foram 11/32 de 3 contra 5/14 do Memphis) dispararam na contagem, face a uma defesa amorfa e falha em cada posicionamento individual, assim como no grupal, fatores esbanjados a mil por seu adversário…
O vigor físico, por si só, não justifica tanta diferença técnica, tanta discrepância tática, a não ser por um enfoque decisivo, o de estar desprovida sua equipe, exatamente de sistemas de jogo diferenciados, pelo menos ofensivamente (o que compensaria um pouquinho a grande falha nos fundamentos), já que utente fiel do mesmo sistema praticado pelo Memphis, e todos os outros que enfrentou neste “périplo de aprendizado”, como agora defende depois de zerar em vitórias…
Afirmar que ganharam em experiência, ainda posso admitir, mas em qualidade, como, se falharam bisonhamente nos fundamentos individuais e coletivos também, como? Concordo quando afirma que algo está sendo levado para o bem da equipe, mas que não sejam mais táticas e jogadas para serem coreografadas na prancheta, mas o senso, melhor, o bom senso de admitir que um sério e forte trabalho de fundamentos tem de ser implementado na equipe, exemplificando para as categorias de base a estratégica importância de sua premente necessidade, vital necessidade, pois se eu, numa humilde e desprestigiada equipe capixaba pude fazê-lo com excelentes resultados, por que não ele na equipe que tudo ganhou, menos quando enfrentou a turma de agora? Creio que seja essa a grande lição lá aprendida , que para ser decisiva terá de ser apreendida também…
Os dois últimos parágrafos da matéria acima, demonstram com clareza o “pretígio” das pontuações, da artilharia de fora, sem tocarem no aspecto defensivo, a grande falha do atual basquete brasileiro, fruto de uma idealização midiática dos longos, imprecisos e especializados arremessos, irmanados ao “momento mágico” do jogo, as enterradas, ambas somente antagonizadas por defesas eficientes, por defensores eficientes e talentosos, por técnicos que realmente conotem importância vital no preparo de melhores defensores, de melhores sistemas defensivos, como a linha da bola, magistralmente mostrada neste último jogo pela equipe americana, e que a algumas décadas professo e defendo sua utilização entre nós…
Por último, me desculpem os mais assanhados com o “momento histórico” vivenciado pelo Flamengo na terra da NBA, pois vejo como inadmissível derrotas de 40 pontos entre equipes de alto nível, a não ser como produto de uma postura de falsa humildade frente a fatores circunstanciais conhecidos por quem conhece do riscado, e não se deixa enganar por factóides em tudo, e por tudo, na contra mão de nossas reais e possíveis necessidades. Urge que evoluamos na preparação da base, o grande segredo da turma do norte com seus high scholls, colleges, universities, alimentando continuamente seu projeto hegemônico do grande jogo em escala mundial, e que somente poderão ser enfrentados com argumentos tão ou mais fortes dos que professam, através a preparação fundamental dos jovens centrados num projeto nacional de educação integral nas escolas, clubes e comunidades, e da busca técnico tática diferenciada do que praticam…
Não à toa, quando se sentiram ameaçados pela perda de Mundiais e Olimpíada, foram buscar na universidade aquele mestre que pudesse reconduzir o barco desgovernado, e o fez contradizendo muitas tradições e dogmas cristalizados na maneira de atuar e jogar de jogadores profissionais de seu país, mas que, ironicamente, vemos acontecer aqui, o processo continuista do modo de jogar que abandonam cada vez mais. Infelizmente, continuamos a errar por omissão, e pela não aceitação e reconhecimento de que algo tem de mudar, mas que não mudará enquanto for mantido o corporativismo cruel, formatado e padronizado que nos fazem tão previsíveis e equivocados…
Amém.
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