APRENDENDO COM O WALTER…
Tenho o imenso prazer de publicar esse artigo do Prof.Walter Carvalho, ex atleta no CR Flamengo, professor e técnico a longos anos radicado no exterior, estando agora residindo e trabalhando nos Estados Unidos. Curtam o explêndido texto do Walter.
Esporte no Brasil – Espiral decadência
April 27, 2015 coachcneto Basquetebol brasilBasquetebol na escola
Muito se fala em renovação mas pouco se faz. Cada vez mais os nossos esportes olímpicos estão mais elitizados com pouco investimento, ou nenhum, no trabalho de base e na formação de novos atletas.
Uma rápida ‘radiografia’ do cenário atual do esporte no Brasil revela fragilidades, clubes endividados, instalações sem condições de receber jovens, treinamentos e jogos, torcedores e professores qualificados cada vez mais longe dos estádios, ginásios. Sem mencionar que o esporte escolar e de base e inexistente no pais.
Já esta provado que os clubes brasileiros não tem condições de manter programas esportivos muitos com dividas de milhões e outros rumo a falência. Nossos jovens praticamente não tem mais onde praticar e aprender. A maioria de nossos atletas de elite treinam e estão sendo formados no exterior. As categorias de base, de onde deveriam sair os atletas que um dia brilharão nos clubes e na seleção brasileira, tem tratamento sofrível. Em vez de formar cidadãos e atletas, os clubes fazem, ou aceitam que se faça, de seus centros de treinamento um viveiro de revelações a serem vendidas o mais rápido possível para dirigentes e empresários realizarem seus lucros.
Nossa mídia praticamente abandonou a cobertura do esporte formação, esporte e competições amadoras. Sem eventos, sem patrocínio, sem retorno, e sem gente com credibilidade para administrar não há jeito do esporte sobreviver.
Muita gente, que faz parte da historia do esporte brasileiro,levanta uma questão interessante: existem federações que foram transformadas em um negocio privado por seus presidentes. Sem uma gestão profissional a maioria destas federações se transformaram em empresas privadas.As federações vivem de rendas publicas. Verbas estas que são “somente” utilizadas no esporte de alto nível. E verdade, se não fosse pela ajuda federal. o esporte no nosso pais JÁ estaria definitivamente falido e extinto.
O que notamos é que existem muitos amantes do esporte que entendem o valor do esporte para a sociedade e que querem mudar esta triste realidade. Por outro lado existem outros que morrem de medo de perder a ‘teta’ onde mamam as custas do esporte.
A identificação por clubes e pelo esporte elite exclui uma grande parcela do publico. Existem conflitos de interesse entre a finalidade recreativa dos clubes com o esporte de alto nível.
Acredito que para o Brasil ser a potencia no basquetebol de outrora, precisamos de um projeto que viabilize e massifique o esporte. O esporte escolar pela sua importância social e pedagógica no processo de formação do individuo, ressaltando a disciplina, o respeito a hierarquia e as “regras do jogo”, a solidariedade, o espirito de equipe e outros fatores do desenvolvimento humano. não tem recebido a atenção e a prioridade que merece. Faltam planejamento, programas, diretrizes, metas, acompanhamento de resultados etc.
É baixa a percentagem de praticantes de esportes em relação ao numero da população gerados principalmente pela ausência de uma politica para estimular a atividade em escolas e universidades. Para tal precisamos de um projeto que tenha como objetivo:
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Disseminar a pratica esportiva nas escolas.
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Contribuir para a identificação de novos talentos.
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Proporcionar oportunidades para desenvolvimento profissional de professores.
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Recuperar ou adequar as instalações esportivas das escolas e universidades.
Há insuficiência quantitativa e qualitativa de profissionais com especialização específica para o basquetebol tanto de técnicos para formar e treinar. O projeto teria que ter como objetivo a capacitação dos técnicos de base – não com filosofias de ataque ou defesa – ou que enfatize o plano tático como tem sido feito e sim com um embasamento maior no desenvolvimento de fundamentos. Estes técnicos precisam de um conceito e de uma metodologia de ensino onde eles possam adotar uma filosofia que venha atender as necessidades do esporte e das crianças que dele participam.
O conceito a ser adotado deveria ser o de criar jogadores especialistas do esporte e não da posição. Os técnicos responsáveis pelo trabalho de base precisam ser supervisionados e coordenados a nível regional e nacional por técnicos capazes e estudiosos que entendam o conceito de que formação e massificação do esporte são os objetivos do projeto. Precisam aprender a ensinar pois o projeto requer os melhores “professores” na base, porem com salários dignos
Há, também, a ausência de gestão em praticamente todos os níveis, Os dirigentes encaram o esporte de forma não profissional e, em sua maioria, não tem formação para atuar nesta área.
O desporto escolar não possui objetivos específicos. As escolas são despreparadas para o esporte. Não há uma politica visando desenvolver a base esportiva nas escolas. Os professores se reciclam por conta própria mas ganham mal e então não se aprimoram. Existe falta de materiais esportivos em muitas escolas. As unidades escolares carecem de espaços, instalações e recursos humanos qualificados. O esporte é também pouco realizado em nível universitário apresenta problemas semelhantes aos das escolas quanto as instalações, materiais, etc. O que existe e fragmentado e visa apenas o imediatismo.
É preciso que as empresas e o governo entendam que o retorno no trabalho com a base e SOCIAL. Precisamos dar um basta na construção de obras e estádios faraônicos para a elite quando nossas escolas e clubes não possuem instalações e equipamentos adequados para a pratica desportiva. As arenas construídas com “verba do povo” hoje são elefantes brancos, pois o alto custo operacional inviabiliza que os clubes as utilizem para jogos de campeonato regional e nacional.
Empresas interessadas em investir no projeto precisam de incentivos para tal e que haja maior controle sobre a utlização desta verba. Leis e incentivos que valorizem os patrocinadores. Especialmente, empresas envolvidas na produção de equipamentos esportivos, uniformes, equipamentos protetores e calçados, entre outros. com o crescente interesse das empresas pela atividade. Porem estas empresas só investem nos esportes de alto rendimento que acontecem em lugares de repercussão nacional e não nas escolas.
Precisamos, também, valorizar a atividade curricular da educação física e massificar o desporto escolar. Estabelecer diretrizes e ações para que as escolas e as universidades sejam importantes formadoras de atletas e de cidadãos. Para tal precisamos de um projeto nacional que tenha como objetivo:
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Criar condições e exigir investimentos em espaço, equipamentos e materiais necessários.
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Incentivar a realização de jogos colegiais e universitários em todos os estados.
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Recuperar as instalações esportivas das escolas e universidades.
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Formar novos técnicos “professores” e oferecer a estes salários dignos!
A importância do esporte para a sociedade tem reflexos significativos principalmente na educação e na saúde da população, podendo, também, contribuir para a superação de problemas sociais apresentados pelo pais.
Abre o Olho Brasil! Estamos perdendo esta corrida! Nossos jovens, cada vez mais, mal educados, estão ai querendo que vocês, governantes, os dêem condições de poder contribuir para o crescimento do pais! Porem vocês se negam a enxergar!
O Basquetebol esta sofrendo também com a falta de ações estruturantes e de desenvolvimento desta atividade nas escolas. Se tem uma coisa que o nosso esporte realmente precisa é de discussões sadias e de pessoas preparadas com novas ideias para uma gestão mais profissional e que atendam as necessidades de nossos jovens e sociedade.
Foto – Walter e eu num almoço quando de sua última visita ao Rio.
Já algum tempo que não comento por aqui, mas acredite Professor Paulo, de longe venho acompanhando os debates e informes. E este em particular me impeliu a comentar.
Sim, bem sensato este depoimento Professor Walter, obrigado pelo texto.
E, se não for pedir muito, o Professor Paulo e o Professor Walter poderiam nos contar como se dava a formação esportiva no Brasil no contexto dos senhores enquanto atletas e/ou técnicos de base em começo e meio de carreira. É correto afirmar que são situações diferentes, tempos diferentes. Mas realmente acredito que aspectos da formação esportiva, desporto escolar, trabalhos de base em clubes, organização de competições de base e trabalhos com famílias e atitudes de garotos daquela época podem nos fazer refletir e repensar práticas.
Grato pela oportunidade e aguardando outros bons textos, Abraços.
Ola Alexandre,
Obrigado pelo email e consideracoes.
Comecei a jogar no Flamengo aos 12 anos de idade. O meu primeiro tecnico foi o Carlos “Barone” Neto. Era um craque do basquetebol da epoca e um ‘senhor’ professor.
Aprendi muito com ele. Alguns dos exercicios que praticavamos na epoca ainda utilizo no treinamento de jovens. No inicio trabalhavamos muito com medicine ball. Nossos treinamentos focavam drible, passe e bandeja. Os treinamentos eram bastante repetitivos. Acredito ate que os treinamentos daquela epoca comparados com os de hoje eram mais completos e tinham como objetivo a pratica de fundamentos e nao a de estrategias como e feito hoje.
Depois de ser treinado pelo “Barone’, nos tivemos a felicidade de sermos treinados pelo Professo Paulo Murilo. O Professor Paulo era tambem um tecnico que focava seus treinamentos na pratica de fundamentos como tambem na defesa. Aprendi muito sobre defesa individual na linha da bola com o Professor Paulo Murilo.
A grande diferenca era que durante as decadas de 70, 80 e 90 – as divisoes de base dos clubes eram dirigidas por tecnicos e professores. Nao me recordo sobre o ‘salario’ dos mesmos, porem as nossas divisioes de base na maioria de clubes eram dirigidas por tecnicos consagrados e de bastante experiencia. O campeonato carioca era composto por 12 a 15 equipes e a maioria dos clubes possuiam equipes competitivas em todas as divisoes.
O basquetebol de hoje e as divisoes de base estao abandonados, por varias razaoes, e com algumas excessoes, a individuos que nao tem o preparo e a pedagogia para ensinar, especialmente formar novos jogadores. O foco atual e a estrategia e nao a formacao de especialistas do esporte.
Contundentes e verdadeiras palavras…
Outros aspectos interessantes de suas palavras é sobre o trabalho de fundamentos (apenas técnico ou coordenativo também?), com medicineball (precursores de Treinos Funcionais?) e a grande quantidade de professores especialistas mesmo na base.
Muito obrigado professor, contribuição bem vinda em tempos bicudos!