A BUSCA PELO NOVO…
Pura curiosidade de quem. apesar de tudo, ama o grande jogo, ainda mais às vésperas de uma caseira olimpíada, daí o impulso de assistir o jogo inaugural do Paulista, entre Mogi e Franca, para mais uma vez atestar, ou não, o quanto a seleção espelha com veracidade a nossa realidade basquetebolística…
E não deu outra, frente a crua constatação de que, mais do que nunca, a hemorragia dos três dificilmente será estancada, ou atenuada a um nível aceitável, perante o jugo implacável do sistema único a que se aferram ferozmente os estrategistas de plantão, experientes ou noviços, não importando o que sabem ou dominem, num patamar mínimo no exigente (deveria ser…) universo do desporto de alto nível, condição básica para desenvolvê-lo…
O comentarista da TV clamava pelos novos valores no comando, afirmando virem deles as novas ideias e perspectivas para o futuro do grande jogo, ele mesmo participante deste anseio, numa formulação que bate de frente com a explícita realidade das grandes ligas mundiais, onde a experiência forjada em décadas define o quem é quem no comando das grandes equipes, fora as exceções de praxe, poucas e pontuais, mas quase sempre passageiras…
Então, o que vimos foi a monocórdia repetição de um ciclo que rapidamente nos tem levado a um nível de pobreza técnico tática considerável, e com pouquíssimas possibilidades de reabilitação, a continuar esse continuísmo atroz de noveis estrategistas, suas pranchetas customizadas e agora patrocinadas (afinal o veículo televisivo tem de ser explorado…), e o pior, seus padronizados, formatados e globalizados sistemas de dupla via, pois contando com a anuência maciça dos jogadores, ávidos em se manterem num exíguo mercado de trabalho, onde a discordância se torna fatal …
Mesmo tendo sido uma partida com duas prorrogações, nada justifica uma artilharia de arremessos de três,com 10/30 para Mogi e 11/36 para Franca, sendo que essa equipe arremessou 14/35 de dois, numa convergência que a levou a derrota, pois tentou 10 bolas a menos (36/26) de media e curta distância que Mogi, optando pelas bolinhas, menos eficientes e precisas, esquecendo um principio elementar, o de que jogos podem e devem ser vencidos de 2 em 2 e 1 em 1, destinando os arremessos de 3 aos especialistas, e mesmo assim em condições de estabilidade e equilíbrio sobre o terreno, condições que não deveriam existir em quantidade ante defesas bem postadas e fortemente contestadoras, algo pouco comum entre nós, lastimavelmente…
No entanto, em alguns momentos do jogo, que era disputado por ambas as equipes em permanente dupla armação (realmente algo positivo), grandes movimentações e deslocamentos foram realizados nos perímetros internos pelos homens altos, dinamizando-o, pena que não por todo o tempo, cedendo lugar aos chifres, punhos e polegares, numa cansativa mesmice que dói só de pensar, quanto mais assistir enfadado…
Some-se a tudo isso o considerável e constrangedor número de 39 erros de fundamentos (19/20}, o que nos faz pensar algo elementar, em uma pergunta – O que fazem todos no preparo antecedente ao campeonato? Treinam os fundamentos para valer, ou se deixam levar pelos rachas para adquirirem “ritmo de jogo”? Pelo elevado número de erros, creio que a resposta se torna óbvia…
Concluindo, nossa seleção é o espelho de como jogamos, com seus muitos erros de fundamentos, sua frouxa defesa exterior, e sua volúpia nos longos arremessos produto da mesma, e claro, tendo como resultante dessa simplória equação, a incrustada ideia de que “estando livre”, chuta-se, independendo das distâncias, mesmo sem a treinada e dominada precisão do especialista, e ai daquele que não o fizer, para ser tachado de medroso, amarelão, frente a uma flutuação, ou mesmo, ausência defensiva, muitas vezes proposital, incentivando-o ao possível erro, fator que dificilmente encontrará ao confrontar equipes de alta categoria técnica, principalmente quando se trata de seleções…
Na seleção tem jogadores que atuam na LNB, são cinco, quatro deles arremessadores de longa distância, acostumados a anos de frouxidão defensiva exterior, e que não encontrarão as facilidades aqui existentes, logo,induzidos e até forçados ao corte, a finta, às penetrações, e ai, alguns deles se verão frente a realidade dos fundamentos, rígidos, exigentes, os difíceis, porém básicos fundamentos. Estarão preparados. treinados e senhores absolutos dos mesmos? Lembro que somente aquelas equipes que contenham em seus quadros jogadores exímios nos fundamentos irão adiante, pois com tais destrezas poderão acionar seus sistemas ofensivos e defensivos com maestria e total domínio dos mesmos, e sem as quais nada que tentem, individual e coletivamente produzirá homogeneidade, fluidez e unidade, chaves constituintes das grandes equipes, onde os rasgos de genialidade pessoal se fundem ao interesse comum, e não o contrário, como muitos aqui em terra tupiniquim clamam em glorioso interesse próprio…
Espero, contritamente, que nossa equipe tente não refletir (será possível?) sobre os 39 erros do jogo em questão, nem a média de 25 por partida do último NBB e 30 da LDB, resgatando o outrora e magnífico basquetebol que praticávamos, fruto de uma excelente formação de base, esquecida já de um longo tempo, substituída em grande parte pela preparação física “científica”, onde correr mais rápido, saltar mais alto e trombar mais forte ousa substituir a singela arte de jogar o grande jogo como deve ser aprendido, apreendido, treinado e jogado, ensinado por quem realmente entende e o domina, simples assim…
Aliás, americanos e alguns europeus o fazem a um século, nos mesmos já o fizemos, mas, esquecemos, perdemos o fio da meada, mergulhamos na cultura dos três, das enterradas e das midiáticas pranchetas miraculosas, do sistema único, da mesmice endêmica, depositando nosso destino nas mãos de agentes, empresários que exportam prematuramente nossos jovens, maus dirigentes e muitos técnicos omissos e oportunistas. Precisamos resgatar os bons, independendo da idade, pois são os únicos capazes de inovar, exatamente por terem sempre estado na linha de frente do estudo, da pesquisa, do árduo trabalho, enfim, do novo, como conclamava o comentarista da TV…
Amém.
Em tempo – Como já afirmo a tempos, a mais de 40 anos, e para a incredulidade de muitos, ai está, por mais uma vez a prova do que sempre defendi, a seleção do Eurobasket sub 20 deste ano, com dois armadores (Garcia-Espanha, Zemalti-Lituania) e três homens altos (Alonso/Ala-Espanha, Markkamem/Pivô-Finlandia e Yurtsevem/Pivô-Turquia), autenticando uma tendência cada vez mais difundida. E nós?…
Fotos – Reproduções da TV e divulgação FIBA. Clique nas mesmas para ampliá-las e acessar as legendas.