ESSE É O BASQUETE BRASILEIRO MINHA GENTE!!…
“Fantástico, espetacular, esse é o basquete brasileiro minha gente!!!” bradava o narrador a poucas horas atrás, num jogo entre Mogi e Vitória, onde seis jogadores americanos, três de cada lado, botavam a bola embaixo do braço, desligados dos estrategistas e suas pranchetas indecifráveis, vazias e ridículas, numa orgia desenfreada de bolas de três e algumas penetrações eficientes, garantidas pelos bons fundamentos que possuem, assessorados de longe pelos quatro brasileiros que lá estavam compondo os quintetos, como mandam as regras, auferindo muito pouco da insânia peladeira estabelecida pelos gringos, esfregando na cara de muitos uma verdade irrefutável, a de que pouco importa falar inglês, macarrônico ou não com eles, pois quando resolvem se apossar do jogo, o fazem na maior, sem meias medidas, vão lá, decidem o que e como fazer, e estamos conversados, para gáudio do estrategista vencedor posando de tático magistral, e o muxoxo do outro, carpindo ter perdido um deles para as cinco faltas, no momento crucial que estabeleceram para fechar o duelo na frente do marcador…
Foi um 3 x 3 no melhor estilo da nova modalidade de basquetebol, que até a FIBA reconhece e patrocina, e que aos poucos vai se chegando a outras equipes do NBB, preenchendo o ideário lapidar da turma estrategista em sua maioria, cujo sonho acalentado é se reconhecer “capaz e preparada” para o salto maior, a de liderar americanos, submetendo-os aos seus fantásticos conhecimentos técnicos e táticos, falando ou não seu idioma (quem sabe com um intérprete ao lado…), porém esquecendo um simplório detalhe, o de que eles não ligam a mínima, no máximo disfarçando interesse e atenção, claro, não arriscando seu dolarizado salário…
Basta ver e ouvir as instruções, e com enorme esforço tentar decifrar os garranchos tabulares, para de pronto, observando feições, caras e bocas dos caras, para definir com grande precisão os comportamentos que se sucederão dali para diante na quadra de jogo, ações e atitudes diametralmente opostas ao que viram e ouviram, se é que entenderam alguma coisa, para partirem para o que sabem e adoram fazer, jogar o jogo da maneira deles, descompromissados com sistemas que não lhe dizem respeito, pois tolhem sua criatividade e ousadia, algumas vezes até irresponsáveis, em ações e atitudes equivocadas, vencendo ou perdendo partidas, ao seu jeito, e não em função de pretensiosas pranchetadas de ocasião…
Confrontando toda essa brincadeira com coisa séria, alguns bons jogadores nacionais ainda tentam atuar da melhor forma que compreendem e sabem do grande jogo, mal treinados e pouco ou nada ensinados nos pormenorizados meandros dos fundamentos, porém corajosos e sequiosos de aprendizagem para valer, e não tomando carona nas mesmas pranchetas esnobadas pelos irmãos do norte, que nem mesmo seu idioma natal é capaz de traduzir o que são obrigados a testemunhar, ali, dois passos à frente das mesmas, mas a quilômetros de distância de sua mais razoável compreensão…
A continuar toda essa encenação de saltimbancos de arrabalde, muito em breve teremos narradores e comentaristas aos berros, enfeitiçados pela emoção gritarem – “This is the true basketball NBA in our country, fantástico, espetacular minha gente, great!!!”
Será que é o que queremos e merecemos, será? Já temos as fraquinhas e descoordenadas dançarinas, mascotes que nada agregam, cantores que desafinam, narradores ufanistas e comentaristas pouco ligados ao jogo, mais preocupados com o aspecto comercial e festivo junto a telespectadores mais festivos ainda, americanos que fazem o que bem entendem, juízes e estrategistas microfonados, mas não temos o mais importante, o jogo nas escolas e clubes do país, bons e bem formados professores e técnicos ensinando correta e seriamente nossos jovens, dirigentes que queiram realmente administrar com competência a modalidade, e o mais importante, a vontade e disposição política de agregar o pouco que ainda dispomos, e não dividir por força de animosidades e divergências pessoais ou não, iniciativas razoavelmente implementadas neste inóspito deserto de idéias que tem se mantido no âmago do nosso infeliz basquetebol por mais de trinta anos. Unir forças, discutir planos e projetos, convergir e divergir democrática e civilizadamente o que de bom subsiste entre nós, creio ser o caminho menos pedregoso que, afinal, teremos de trilhar para o soerguimento do grande jogo.
Em tempo, um fator técnico que não pode ser esquecido, mais um, o de que “nunca na história (ainda bem que do basquetebol…) desse país”, convergimos tanto nos arremessos de 2 e 3 pontos e em erros de fundamentos, como nos jogos desse playoff, provando mais uma vez que, infelizmente, o fundo do poço ainda está bem distante para ser atingido, e sempre na companhia das infames pranchetas em seu eterno e inamovível plantão. Haja paciência, deuses meus…
Amém.
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