O VÍCIO AUTOFÁGICO…

 

P1140820Muito bem, chegamos às semifinais do NBB mais disputado e eletrizante de sua curta história, segundo opinam e escrevem os especialistas da matéria, com a decantada supremacia dos jovens técnicos, e dos mais jovens ainda talentos que se destacaram dentro da quadra, alguns já se considerando aptos para o draft/NBA, sucedendo a falência dos quase inexpugnáveis favoritos, com seus veteranos e experientes jogadores e técnicos, mantidos por investimentos muito mais vultosos dos que a partir de hoje disputam os playoffs decisivos antes do playoff final…

No entanto, não são mencionados e convenientemente analisados, como teriam de ser, alguns dados expressivos e bem particulares referentes ao campeonato, comuns a todas as equipes, como o fato relevante de todas elas jogarem de forma idêntica, ao utilizarem o sistema único ofensivo, e ausentes, de uma forma quase unânime, do sentido defensivo fora do perímetro, o que ocasionou, pela nona vez consecutiva, a implantação genérica da convergência entre os arremessos de 2 e 3 pontos, culminando na orgia desenfreada dos longos arremessos, como se todos os jogadores, agora incluídos os pivôs, fossem especialistas neste complexo e  exclusivo lançamento, campo restrito a uns poucos e ungidos jogadores, e porque não, incentivados pela jovem turma das pranchetas…

Mesmo com a elevada quantidade de tentativas falhadas, todas as equipes se utilizaram das famigeradas “bolinhas”, equilibrando de certa forma, a perda do grande esforço físico despendido a cada ação ofensiva de todas, fator que poderia ter sido largamente compensado se culminassem em arremessos médios e curtos, que pela lógica, alcançam maior eficiência do que os longos, onde os erros se situam diretamente proporcionais às maiores ou menores distâncias em que são  efetuados, mas a maioria preferiu duelar, ao preço que fosse…

Então, de certa forma, ou mesmo submetidos ao sensato princípio de que se todos caminham por uma mesma estrada, num mesmo e compassado rítmo, chegarão todos ao mesmo destino, porém atingindo a meta primeiro, aquela equipe que, das duas hipóteses possíveis, opte em correr com mais intensidade dentro do padrão comum, mantendo o comportamento tático das demais, ou busca uma outra forma de jogar, atalhar, ou mesmo inovar, a fim de situar suas oponentes em situação de difícil defesa, face a uma mudança tática que quebre a mesmice em que todas se encontram desde sempre, sem dúvida vencerá a contenda…

E que mudança, ou mudanças, poderiam ser essas, que mesmo tendo sido timidamente utilizadas por algumas delas, não encontraram a firmeza necessária para serem realmente assumidas, como um novo e relevante padrão de jogo a ser desenvolvido por nosso claudicante basquetebol? O relegado e quase sempre esquecido jogo interior, suprido e mantido pela movimentação contínua e fluida de todos os jogadores, alimentados por uma verdadeira e sólida dupla armação, e presença permanente nos rebotes ofensivos e defensivos, num jogo de posições tão importante quanto a contestação fora do perímetro, dois dos mais importantes fatores que definiriam vitórias nessa reta semifinal de campeonato…

Jogar e agir diferenciadamente a essa altura da competição seria uma atitude corajosa e surpreendente, pois incomum ao nosso formatado e padronizado basquetebol, cuja maior contradição é aquela que a mídia especializada omite em seus comentários, a de que mesmo os mais jovens técnicos, que pela idade deveriam ser aqueles que mais inovassem, são os que mais se apegam a mesmice endêmica estabelecida de muito entre nós, quando deveriam ser os que investissem mais por novos caminhos, mas não o fazem, já que produtos de uma formação pouco compromissada com o histórico técnico, tático e acima de tudo, estratégico do grande jogo, onde sistemas do seu enorme e rico passado deveriam ser incluídos nas postulações do presente, face a sua transcendental importância e conteúdo, bastando estudá-lo, pesquisá-lo e aplicá-lo como método e conceito, e jamais como estilo, como comumente o fazem …

Quem focar e concentrar seu jogo no interior defensivo de seu adversário, segurar a ganância estelar e midiática das tentativas nas bolinhas de três, inclusive nos contra ataques, diminuindo o número de ataques falhos, se posicionar fortemente nos rebotes, onde coletivamente se ajudem nos bloqueios, se esmerar nas contestações verticais fora do perímetro e, tiver a sabedoria (nada juvenil…) de ir de 2 em 2 e 1 em 1, estabelecendo vantagem no marcador, já que economizando esforços físicos e mentais ofensivos, pontuando com mais precisão pelas médias e curtas distâncias escolhidas, sem dúvida alguma levará imensa vantagem no cômputo final, a não ser que, habituada ao vício autofágico que aí está escancarado a todos, se desgaste e se arrebente numa competição de tiro aos pombos, onde o último a acertar, apaga a luz, levando, ou não, o caneco para casa…

Amém.

Foto – Reprodução da TV. Clique na mesma duplamente para ampliá-la.

 



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