REESTRUTURANDO?…
Num dos primeiros tempos pedidos pelo técnico do Vitória, no primeiro jogo do playoff semifinal contra o Paulistano, ele admite ter errado ao orientar a equipe para que fechasse o garrafão ao forte jogo interno do oponente, pagando para ver nos arremessos de três do mesmo, fator que beneficiaria sua equipe nos rebotes e consequentes contra ataques, um ponto forte de seus jogadores. Ironicamente, foram três arremessos longos de um dos pivôs do Paulistano, que decretaram os nove pontos de diferença, 93 a 84 na sua vitória na casa do adversário, uma boa vantagem técnica, podendo fechar a série em sua casa nos dois jogos a seguir como mandante…
Claro que outros fatores também incidiram no resultado do jogo, onde foram cometidos 30 erros de fundamentos (17/13, um absurdo), com o vencedor convergindo brutalmente nos arremessos (15/29 nos 2 pontos, e 13/34 nos 3), pois não encontrava contestação pelos adversários, com seus três americanos muito mais interessados no ataque, jogado claramente entre eles, do que defender sua cesta, apostando no poderio ofensivo que pensavam ostentar, até o momento em que abandonaram o jogo interior, para duelar nas bolas de três, onde se perderam, principalmente nos rebotes ofensivos…
Honestamente, perder um jogo semifinal disputado ponto a ponto, em seu ginásio, permitindo que seu adversário perpetrasse 34 bolinhas é uma aberração defensiva imperdoável, pois se contestassem a metade das mesmas, venceria a partida com folga, bastando fazer as continhas, ou não?…
No outro jogo semifinal, os brasileiros do Bauru perderam para o Pinheiros com seus dois americanos, com nossos brazucas fazendo coro de fundo de palco, mas que apresentou, pelo menos, algo de positivo, não convergiram (23/38 de 2 pontos e 12/29 de 3 para o Pinheiros, contra 22/40 e 9/22 respectivamente para o Bauru), fator que vem se tornando raro nos jogos da liga, mas mantendo a terrível regularidade nos erros de fundamentos, inaceitáveis nesse nível, 26 (11/15), 1,7 abaixo da média nesse campeonato, números constrangedores e reveladores, principalmente se focarmos as futuras seleções nacionais…
Os quatro estrategistas lançaram na mesa, digo,quadra, o compêndio de jogadas que formam o sistema único de jogo, utilizado por todas as equipes da liga, composto das formações chifres (de diversos tamanhos, direções e formas), idem para os punhos, polegares, picks, hangs, camisas, especiais, flex, e sei lá mais quantas, todas “exaustivamente” treinadas (uma ova que são…), como apregoam os narradores e comentaristas de plantão, mas ocultando o fator crucial para a exequibilização de todas elas, o fato inconteste e indesmentível, de que a grande maioria de nossos jogadores não possuem fundamentos básicos necessários para colocar em prática tanta sapiência tática, sobrando para a turma ianque, que mesmo sendo do terceiro nível de seu país, os tem muito mais sob controle do que os nossos, inclusive aqueles que muito jovens são instados a concorrer no draft da NBA, quando deveriam ser orientados ao circuito universitário, que inclusive garantiriam um diploma superior mais adiante, como o fazem a Austrália e o Canadá desde muito, e com claros reflexos em suas seleções nacionais, ou mesmo, se a ganância de seus agentes o permitissem tentar o solo europeu, menos rentável, talvez mais rico culturalmente, porém dentro da nossa realidade latina…
Mas algo se impõe com um realismo tocante, as tentativas de reestruturação das equipes que se viram afastadas das finais da liga, na busca de reforços para a temporada vindoura, onde posições que não corresponderam, de 1 a 5, deverão ser substituídas de 1 a 5, num rito que se repete ano a ano, temporada a temporada, onde cada vez mais se insinuam os estrangeiros “qualificados”, pagos em dólar, para atuarem no sistema que professam ano após ano, temporada após temporada, como simples peças de reposição, automáticas, como automáticas deverão ser suas atuações, todos e em conjunção a estrategistas e suas midiáticas pranchetas, demonstrando serem incapazes de aprimorar seus atuais elencos, dotando-os de melhores fundamentos, e acima de tudo, sistemas proprietários, inéditos e inovadores de jogo, a fim de dotar seus jogadores dos valores mais relevantes em qualquer planejamento que se preze, a contínua evolução do trabalho coletivo, agregador e confiável, motores do sucesso e da fluidez tão ansiada, tão perseguida, mas somente alcançada com competência, conhecimento e superior dedicação, e não simplesmente trocando-os como peças descartáveis de um injusto tabuleiro…
Agora mesmo, na segunda partida, o Paulistano venceu o Vitória (82 x 72) arremessando 14/24 bolas de 2 pontos e 15/36 de três, repetindo o primeiro jogo, naquele aspecto mais instigante do mesmo, a incapacidade defensiva no perímetro externo ante essa hemorragia inestancável que tanto aflige o grande jogo neste país, sinalizando equivocadamente aos nossos jovens ser esse o caminho a ser trilhado, num erro estratégico gigantesco, que nos cobrará pesados juros quando se depararem com defesas de verdade, sem a habilitação mínima exigida para superá-las.
Amém.
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Ola Professor Paulo,
Acabo de ler o seu texto e confesso que os “numerous” do jogo me surpreenderam, pois demonstra total ignorancia a logica e a matematica do jogo:
1. Uma equipe que arremessa mais bolas de tres do que de 2 esta desperdicando o aproveitamento por posse de bola, ou seja 1 cesta para cada 2 tentativas para 1 cesta a cada 3.
2. Outra coisa que me surpreendeu e que o numero de tentativas totais de arremesso por jogo sao bastante iguais. Ou seja, isto mostra total falta de plano de jogo defensive, pois se houvess tal plano a equipe vencedora deveria pelo menos ter um total de arremessos tentados maios do que a equipe perdedora. A ausencia de uma plano de jogo defensive, mostra que o jogo passou a ser uma disputa de quem erra menos, sem forcar o adversario ao erro e a ter uma media menor de arremessos tentados por posse de bola.
3. A nivel de ataque, fico surpreso tambem que com tantas movimentacoes ofensivas, estas me parecem ser movimentacoes apenas para os alas, pois se tivessem como objetivo o arremesso de maior porcentagem de aproveitamento ou o arremeso dentro do garrafao, a media de arremessos tentados de 2 pontos deveria ser bem maior do que a de tres.
Professor, confesso que o futuro do nosso esporte tanto na formacao quanto na parte tecnica. O basquetebol jogado e praticado no Brasil nao levam em consideracao o treinamento dos fundamentos, o “QI” do jogo e sistemas defensivos e ofensivos que objetivem o maior aproveitamento por posse de bola fatores importantissimos para que possamos mais uma vez competir a nivel Internacional.
Continuamos jogando de forma empirica sem levar em consideracao a “matematica” do jogo.
Ontem ganhamos um jogo por dois pontos na prorrogacao. Nosso objetivio era diminuir as tentativas de arremesso por posse de bola do adversario, tentando ao maximo negar o passe ao cetinha da qeuipe adversaria. Nosso Sistema defensive era o de zona pressao 3/4 da quadra tentando conter o ataque e o contra-ataque adversario pois a equipe deles era mais rapida e eu nao tinha condicoes de marcar 5 contra 5 – pois nao iriamos conseguir “match-up” de uma forma eficiente. Resumindo, tinhamos um plano de jogo ofensivo e defensivo. Jogamos de acordo com a “matematica do jogo” contra aquele adversario especifico. Nosso objetivo nao era o de competir com arremessos de 3. quem erra menos ganha! e sim, aumentar a eficiencia de minha equipe por posse de bola enquanto tentava defensivamente tirar o adversario do seu ritmo de jogo minimizando as suas tentativas de arremesso por posse de bola.
Tudo de bom. O que eu escrevi acima e o basico do esporte que nas ultimas decadas foi esquecido!
Walter, no artigo de hoje enriqueço o seu relato com mais alguns números, que não me canso de lembrar como elementos das “continhas”que todo técnico tem de levar em consideração em seus planos de jogo, e de treinamento também. Como estão e se apresentam no dia a dia dos jogos por aqui, salta aos olhos a tremenda ribanceira em que se encontra nosso basquetebol, que com mais um empurrãozinho a descerá célere e sem freios. Ao situarem os arremessos de 3 como prioritários (as constantes convergências confirmam), nos afastamos mais e mais dos fundamentos do jogo, pois penetrações, dribles, fintas e curtos arremessos se tornam descartáveis, exceto para a nova concepção de armadores/finalizadores que nos espreitam ã sombra de um Westbrook lá de fora, com seu jogo oscarizado, onde uma equipe é montada para servír e deixá-lo dono absoluto do pedaço. Dar um MVP a ele será a confirmação da mudança de um jogo coletivo em individual, um não muito bom exemplo aos jovens iniciantes daqui, e de lá também. Penso dessa forma Walter, como professor e técnico do mais coletivo de todas as modalidades de jogos de contato. Um abraço, Paulo.
Ola Professor,
Concordo com voce. Acredito, tambem, de que o arremesso de tres pontos e antagonista formacao de jogadores que poderiam ser treinados a serem especialistas do esporte.
Acredito tambem que no basquetebol, e se executado dentro de um Sistema tatico/ofensivo equilibrado, o arremesso de tres pontos e super importante. Porem para a eficiente utilizacao deste fundamento durante a competicao, as equipes (tecnicos e jogadores)precisam entender os conceitos de “selecao de arremessos” e “aproveitamento de arremesso por posse de bola” enquanto tentam diminuir o aproveitamento e o tempo de posse de bola do adversario. Para tal, e super importante que o tecnico tenha um plano de jogo baseado em uma filosofia de jogo que objective o aumento do tempo de bola e o aproveitamento e volume de tentativas de arremesso por posse de bola. Dentro deste conceito o REBOTE pasa a ser super importante tanto na defesa quanto no ataque. Infelizmente a importancia deste fundamento durante a competicao continua esquecido pela maioria das equipes.
Professor, anteriormente ler os comentarios era mais facil. Hoje eu nao consigo ajustar o tamanho do texto para poder ler as suas respostas e textos. De uma olhada no seu setting e ve se consegue corrigir este detalhe.
Ate breve.
Walter, está tudo errado no basquetebol brasileiro, em tudo e por tudo, pois mesmo os melhores prospectos de treinadores jovens se sentem compelidos a seguirem e adotarem a ~filosofia~ que implantaram coercitivamente nos últimos 30 anos, encontrando parcos opositores a mesma, minimo grupo este no qual me incluo orgulhosamente, mesmo sabedor das minimas oportunidades de me confrontar na quadra com a turma encastelada na modalidade da forma corporativada com que agem e comandam. Tenho tênues esperanças de que a nova administração da CBB mude um pouco a situação acéfala lá instalada, e que tanto mal fez ao grande jogo. Vamos ver a que vieram. Um abraço. Paulo Murilo.