FUTURO DE 3, SERÁ?…
Que me desculpem os leitores deste humilde blog, mas antes, bem antes de ser torcedor ufanista e festeiro do grande jogo, sou um técnico e professor profundamente ligado ao mesmo, e por isso, e por obrigação profissional, analista frio e objetivo do que realmente se passa de prático dentro de uma quadra de jogo, não só no presente momento, mas projetando num incerto e desconcertante amanhã, principalmente quanto aos fatores técnicos e táticos, hoje extremamente deficientes, e com certeza mais adiante, muito mais desconcertante ainda, face a fragilidade inconteste e indiscutível da fundamentação básica de todos aqueles envolvidos na modalidade, dos técnicos aos jogadores, incluindo também dirigentes e muito da mídia especializada, unidos em torno de uma farsa, que de forma alguma representa os reais fatores responsáveis por seu desenvolvimento harmônico no seio da juventude deste enorme e injusto país…
Acabamos de assistir a classificação do Paulistano para as finais do NBB9, vencedor por 3 x 0 na disputa contra o Vitória, com números finais estarrecedores, pois desnuda com grande precisão as brutais carências que se abateram sobre o nosso indigitado basquetebol, preso e manietado por um corporativismo atróz, escudado numa mesmice endêmica técnico tática, que nos afastou do concerto internacional, culminando com a suspensão pela FIBA das competições internacionais, num rude e sofrido golpe às nossas pretensões de soerguimento e progresso na modalidade…
E quais números foram esses Paulo?
Numa decisão de semifinal em 3 jogos, foram lançadas por ambas as equipes, 103/201 bolas de 2 pontos (51.2%) e 60/211 de 3 (28.4%), sendo que na terceira e definitiva partida foram perpetrados 34/65 lançamentos de 2 e 16/66 de 3, onde podemos observar que 50 ataques de 3 foram desperdiçados ( na soma dos três foram 151), pela absolutamente falsa premissa de que praticamos o basquete da atualidade, quando na verdade, o ferimos de morte, frente a inexistência de qualquer interesse em defender o perímetro por parte da grande maioria das equipes da liga, inclusive programando algumas para “pagar para ver” as aventuras de fora, agora celeremente disputada por pivôs, ávidos em participar na pontuação de suas equipes (?), já que lá embaixo somente terão a bola na briga dos rebotes que sobram das falhas da artilharia de fora, se sobrarem, e um ou outro passe para batalharem sozinhos no 1 x 1 de praxe e de ré…
A equipe vencedora convergiu violentamente, 50/91 (54.9%) nos 2 pontos e 38/107 (35.5%) nas famigeradas bolinhas, e 45/57 (78.9%) nos lances livres, demonstrando tacitamente o quanto de desperdício de técnica e esforço físico obtiveram praticando o “basquete moderno”, “like warriors”, esquecendo, no entanto, sua pobre média de 15.6 erros de fundamentos somente nessa semifinal, fatores que, inclusive, possivelmente pouco poderão incidir em sua busca pelo título, face a outra realidade com que se confrontará nas finais, a de que muito pouco esforço contestatório lhe será oferecido, pela absoluta deficiência defensiva de seus possíveis adversários, também comprometidos com a volúpia de fora e a pouca insistência pelo jogo interior, como se deparou frente a seu oponente nessa semifinal, que mesmo não convergindo nos arremessos, teve nos seus três americanos uma equipe dentro da equipe, onde aberta e declaradamente atuavam juntos nos momentos cruciais dos jogos disputados, numa aposta às avessas de seu estrategista, quando num determinado momento do jogo final os conclamou a comparecerem com seu jogo, pois precisava dele, fato enriquecido pelo comentarista televisivo, quando cobrou resultados dos investimentos da equipe na tríade ianque, valorizando por demais a vitória da jovem equipe paulista, com somente um hermano em sua formação…
Enfim, creio ser um equívoco monumental essa tendência suicida pelo jogo de fora, originando ausências fundamentais de atacantes dentro do perímetro ofensivo interno, incentivando o jogo dos 3, com seus arremessos especializados e de elevado risco, que deveriam somente ser concretizados em condições do mais absoluta equilíbrio físico e mental, ocupando espaço precioso no jogo de 2 em 2, e de 1 em 1, pela elevação do número de faltas conseguidas, que se bem jogado atingiria pontuações acima dos 85 pontos, com menores desgastes pela otimização de cada ataque, sobrando energia para ser empregue em defesas mais sólidas e velozes, incentivando o aprimoramento dos fundamentos necessários ao desenvolvimento do jogo próximo e físico, esquecidos pela prevalência do jogo exterior, que dispensa certas e cansativas exigências técnicas no embate progressivo rumo a cesta, com ou sem a posse da bola, instrumento de trabalho tão mal manipulado e dominado pelos adeptos dos longos arremessos, mal sabedores do como e dos porquês de seu volúvel e instável comportamento, pelo simples fato de ser uma esfera, o corpo sólido de mais difícil manipulação e domínio…
Teremos daqui a um pouco o terceiro jogo da outra semifinal, entre Bauru e Pinheiros, com equipes que pouco convergiram nos dois jogos, mas que erram demais nos fundamentos (foram 60 erros nos dois jogos), e que no caso do Pinheiros, apresenta uma particularidade aproximada a do Vitória, a dos americanos que jogam entre si em determinados momentos do jogo, individualizando em demasia, fator esse que se dirimido, muito poderá reforçar o poderio ofensivo interno da equipe, por se tratar de dois excelentes condutores e passadores de bola, além de fortíssimos nas finalizações, que se bem entrosados com o todo da equipe, pressionará bastante seu oponente, cuja força maior se fundamenta na larga experiência de alguns de seus nominados jogadores, que sendo adeptos das bolinhas, não estão alcançando o êxito esperado nas mesmas, quem sabe, por estarem sendo bem contestados pela turma da capital, ou, não se situarem bem sintonizados com as estratégias vindas do banco, o que se pôde notar na quadra após pedidos de tempo, quando situações táticas não são levadas em conta nas execuções projetadas e pretendidas…
Preocupa-me sobremaneira essa tendência convergente cada vez mais presente em nossas equipes, mesmo as de formação de base, sem um mínimo embasamento adquirido no ensino e prática dos fundamentos do grande jogo, numa trágica opção que ameaça nos afundar cada vez mais, principalmente quando, num momento de transição e renovação por que começamos a passar, fiquemos inferiorizados técnica e taticamente frente àqueles países que conotam a máxima importância na formação quantitativa e, acima de tudo, qualitativa de seus jovens jogadores. Espero que tenhamos tempo suficiente para reestudarmos nosso, até aqui, fragilíssimo posicionamento.
Amém.
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