O DEPOIS DO AMANHÃ…
Ontem publiquei o artigo O Amanhã, contrito e esperançoso em dias melhores para o grande jogo entre nós, porém, me mantenho receoso para o depois do amanhã, no caso de teimarmos em dar continuidade ao cenário técnico tático que aí está graniticamente instalado, formatado e padronizado, rebuscado em pranchetas midiáticas, sombrias e absolutamente vazias de conteúdo confiável, da formação de base a elite, codificado e alinhado genericamente, como algo destinado a um único objetivo, imutável e ditatorial, onde jogadas padrões são emuladas por todos, onde ordens e decisões unilaterais se tornaram um lugar comum na relação técnico/jogadores, calando coercitivamente quem joga, e dando voz a quem comanda ou pensa comandar, num espetáculo gratuito e grotesco de inflados egos, que se manifestam nas exigências expostas graficamente nas sempre onipresentes pranchetas, que na esmagadora maioria das vezes são depositárias de invenções e palpites de ocasião, pois se assim não fosse, jamais se fariam presentes, ou mesmo existentes, se tudo aquilo que canhestramente projetam, tivesse realmente sido “exaustivamente treinado”, o que jamais ocorreu de verdade, ainda mais “exaustivamente”…
Se entendessem de uma vez por todas que, jogadas, e mesmo sistemas que funcionam seguida, automática e frequentemente, somente o fazem frente a ausência parcial ou completa de uma oposição defensiva, mais ou menos parecido quando treinam sem oposição da mesma, ou a instruindo para facilitar o fator coreográfico das jogadas, do sistema enfim, talvez “exaustivamente” como apregoam, na dolorosa e proposital negação de um princípio imutável, o de que ações ofensivas jamais se repetem, jamais, anulando o ideário ilusório de todos aqueles que insistem burramente em torná-las sempre presentes, repetíveis, justificando suas pretensiosas e marqueteiras genialidades…
Sistemas e suas inerentes jogadas não são criados, estudados, treinados e praticados para darem certo, e sim para desencadearem situações e atitudes nos adversários, que, quanto mais previsíveis forem, mais eficientes se tornarão, pois fruto de leitura presente de jogo, sua compreensão, e por conseguinte, sua aplicabilidade situacional, criativa, origem básica das estratégias, individuais e coletivas, onde o fator aleatório se faz permanentemente presente, através uma consciente improvisação, e em definitiva oposição ao passo marcado, característica da repetição coreográfica de um predeterminado movimento sem o entrave defensivo, mais aleatório ainda por sua inerente imprevisibilidade…
Parágrafo acima de difícil compreensão? Creio que não para todos aqueles professores e técnicos que realmente entendem o que venha a ser praticar um jogo em que ataques e defesas professam o imponderável, o instintivo, o antagônico, o imprevisível, o aleatório, o criativo, todos fatores que levam ao domínio consciente da arte maior, da arte de improvisar, pois só o exercem quem realmente sabe, quem domina sua arte, seus fundamentos, seu instrumento de trabalho…
O grande jogo assim o é por tudo aquilo acima descrito, por tudo aquilo que nos remete a grande verdade, a de que pouco sabemos, mas suficiente para se estar também um pouco a frente dos que nada sabem, ou pensam saber…
Amém.
Um bom artigo de apoio – Mestres do olhar e do movimento.
Foto – Reprodução da TV. Clique duplamente na mesma para ampliá-la.