CREIO QUE AGORA “CHEGA”…

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No último artigo aqui publicado neste humilde blog, finalizei-o questionando sobre a escolha dos futuros técnicos para as seleções nacionais:

(…)Mas, será que temos um, ou nomes que encarem tão necessárias e estratégicas mudanças?  Para começar um “chega” seria de bom tamanho, ou não?(…)

Que necessárias e estratégicas mudanças seriam essas, caro Paulo, pergunta-me o amigo que não descola do meu calcanhar, e pede para que eu o mantenha somente dialogando comigo, pois não tem mais paciência para “debates”, principalmente na grande rede, o que aceito sem maiores discussões…Há, em tempo, que “chega” é esse?…

Bem, vamos lá, começando pelo “chega”, cujo título acima expõe tudo, ou quase, já que se faz urgente, inadiável e em definitivo, expurgar de uma vez por todas a continuidade do que aí está, década após década, de uma mesmice que se perpetua ad infinitum, patrocinada ad nauseam pelo protecionismo, pelo escambo, pelos amiguinhos, pelas falsas promessas de líderes, pelos pretensos e mais falsos ainda “gênios das pranchetas”, pelos exibicionistas, contorcionistas, pelos herdeiros osmóticos, pelos estrategistas incapazes de corrigir um simples vício de arremesso, de drible conduzido, de passes impróprios, de um deslize lateral defensivo, de um giro após rebote, de um bloqueio em amplitude não faltoso, de uma cobertura antecipativa lateralizada, de uma finta em drible concomitante à troca de lado, de um corta luz arrítmico, de um correto direcionamento nos arremessos, de uma ação diversiva sem a bola, de um salto antecipativo ao passe, da necessidade da recepção do passe em constante movimento, mantendo em tudo e por tudo a infame média de 27,2 erros de fundamentos no recém terminado playoff do NBB9, enfim, ensinando, corrigindo e desenvolvendo os fundamentos como básica e estratégica preparação para os sistemas de jogo, somente factíveis perante o domínio completo e consciente dos mesmos, e não invertendo conceitos, e princípios para a aprendizagem técnica e tática sistêmica, como vemos acontecer desde sempre em nossas competições, em todas as divisões, da base a elite, incluídas as seleções, decorrentes naturais da realidade do nosso basquetebol, onde do treino a competição nada muda, nada transpõe o sistema único, com seus imutáveis chifres, punhos, polegares et alli…

Somos os líderes mundiais da maquiagem técnica e tática, onde estrategistas estabelecem comportamentos midiáticos planejados para sua evolução de pirâmide invertida, onde a experiência, fruto da longa vivência na formação, no estudo e na pesquisa constante, cede vez ao imediatismo, genial para para aqueles que definem a estrutura e o futuro do grande jogo sob uma visão distorcida e política, avessos que são à técnica e a tática de alto nível, e que não tem o mínimo preparo e sensibilidade para situá-lo como deveria sê-lo, sob a ótica evolutiva do desejável e do possível…

Nossas competições em todas as categorias estão impregnadas pela mesmice endêmica que tanto combato e critico, e que me cansei de confrontar pelo teimoso e incansável contraditório técnico, e principalmente tático, em todas as equipes que dirigi, desde os anos 60, quando sempre tive na platéia das competições que participava, do infantil a primeira divisão, fosse masculina ou feminina, colegial ou clubística, inclusive seleções, uma plêiade de técnicos famosos, alguns míticos, que lá iam, senão para aprender, mas muito mais para discutir e trocar opiniões pelo que viam e assistiam seguidamente, e cuja reciprocidade foi sempre mantida por mim, quando alguns sistemas que se firmaram e ainda hoje são empregados eram dissecados a exaustão em longas reuniões de quinto tempo, aberta e democraticamente, para a seguir serem aperfeiçoados, ou não, nas competições em sequência. Foi neste tempo que nos tornamos imbatíveis nas competições nacionais, fator congregador este que me fez idealizar e concretizar a primeira associação de técnicos do país durante o Mundial Feminino de 1971 em São Paulo, com a adesão inicial de 180 técnicos nacionais e estrangeiros, não fosse a ANATEBA a segunda associação fundada no mundo, perdendo para a americana (NABC) existente desde 1926, e antecedendo em anos a espanhola e a argentina, que hoje tentamos copiar…

Técnicos e professores como Togo Renan, Tude Sobrinho, Waldir Bocardo, Ary Vidal, José Carlos Ferraz, Renato Brito Cunha, Emanuel Bomfim, Geraldo Conceição, Heleno Lima, Raimundo Nonato, Telúrio Aguiar, Olímpio das Neves, Luiz Carlos “Chocolate”, Valtinho e Helinho Blaso, Guilherme Borges, Epaminondas Leal, Orlando Gleck, Antenor Horta, Falão, Carlos Jorge, José Afro, Marcelo Cocada, Zeny Azevedo, José Pereira, Honorato, e muitos outros, que sempre e sempre trocavam idéias, fossem quais fossem as rivalidades dentro das quadras, numa interação diversificada, hoje trocada pela padronização e formatação que engessou a todos em torno do sistema único e das pranchetas, inexistentes naquela época criativa e voltada para o treino, para o ensino dos fundamentos do jogo, e depois, bem depois, para as sistematizações personalizadas e muitas vezes inéditas…

Sou talvez um dos últimos daqueles moicanos teimosos e brilhantes que ainda subsiste insistentemente na defesa do basquete clássico que nos tornou vencedores um dia, junto a outros poucos espalhados por esse enorme e injusto país, batalhando por dias melhores, criativos, ousados e corajosos pelo grande jogo, que precisa se soerguer do limbo a que foi lançado pela intolerância, pelo egocentrismo e a mais absoluta colonização de sua história, através o corporativismo doentio e covarde, e que para tanto urge um basta, definitivo e categórico, um “chega” salvador…

Respondido o chega, restam as necessárias e estratégicas mudanças, correto? Quase correto, não fosse a dolorosa existência do marketing institucionalizado que situa e mantêm a corriola pasteurizada no comando de um mercado restrito e defendido ao preço que for, ao preço da imutabilidade do que aí está implantado e enraizado em todos os segmentos que o definem, da gestão ao comprometimento massivo e ideológico das equipes, da imprensa especializada mais dedicada ao basquetebol da matriz, ao qual tenta atrelar o impossível sonho a nossa pobre realidade, do gerenciamento escravocrata de jogadores, manietados e agrilhoados a um sistema equivocado e limitador de suas mais autênticas capacidades criativas e de improvisação técnica e tática dentro de uma quadra de jogo, já que  propositalmente delimitados dentro da quadra de treino, onde a personalidade a ser exaltada é a do estrategista e seu alter e insuflado ego, sua prancheta, com a qual diz e exala tão pouco, que fico imaginando o que restaria sem a mesma, talvez a definitiva e realística mudez…

Logo, o que restaria a não ser o ressurgimento daqueles que realmente têm algo a dizer, a somar, a treinar, a ensinar, a dirigir e orientar com plenos conhecimentos de causa, que é e sempre foi o caminho percorrido pelas nações que lideram o grande jogo internacionalmente desde sempre, incapazes de privar seus jogadores do conhecimento e experiência adquiridos em anos e anos percorridos nas estradas de pedra da vida, aquelas que definem os verdadeiros e solitários líderes, que não delegam seu comando em nome de pseudas comissões, que não se omite das responsabilidades inerentes nas vitórias, e principalmente nas derrotas, onde a verdade verdadeira traça os rumos a serem seguidos, com autenticidade, independência e autoridade, que são os fatores primordiais para a formulação e exequibilização de uma verdadeira equipe desportiva, da modalidade que for, e mais ainda no grande jogo, onde o coletivismo somente fluirá através o extremo conhecimento do que isto representa. e que vai muito, muito além do que os que aí estão defendem, praticam e pensam conhecer…

Necessárias e estratégicas mudanças significam de saída um “basta”, um “chega” ao que aí está, e um recomeço pelo que nos falta, porém existente, bastando a coragem para ser resgatado, originando a pergunta final – tal coragem existe? Respondam se forem capazes…

Amém.

Foto – Divulgação CBB. Clique duplamente na mesma para ampliá-la.

 

 



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