TRISTE, MUITO TRISTE…
Querido amigo Paulo, o mundo da bola laranja se liquefazendo apanhando feio e vergonhosamente em Medellin, o Brasília se mandando do NBB, o Caboclo cuspindo no prato que comeu, a ENTB sendo entregue a Estácio de Sá, e você mocó? Que houve, desistiu também?…
Depois de um telefonema neste desabusado teor, como me omitir de extravasar ao menos algumas linhas aqui neste humilde blog, como?…
Pois bem, vamos lá, e em primeiro lugar externando meu último sentimento ainda válido, o de não me privar da indignação, da mais pura e primal indignação, pela ignomínia pulsante que grassa no seio do grande jogo, em todas as esferas, da administração ao meio da quadra, da técnica fajuta e enganosa a tática absurda, questionável e equivocada, da crítica primária, ufanista e interesseira a realidade inquestionável dos resultados, escancaradamente jogados para o alto, num barata voa dantesco e autofágico, onde tudo e todos afundam abraçados, num naufrágio coletivo e desalentador…
Linhas e muitas linhas foram escritas ufanisticamente em torno dos jovens craques que emanaram da LDB (com suas equipes apresentando médias de 27,2 erros de fundamentos por jogo e uma cascata interminável de bolas de três), ascendendo equipes do NBB, e agora na Seleção, para gáudio e prazer de espertos agentes, mídia ufanista, oportunos estrategistas, torcedores encobertos pelo anonimato covarde e pusilânime em comentários nas redes da web, narradores e comentaristas se eximindo da crítica direta e objetiva dos reais fatos que destroem a credibilidade do grande jogo, optando pelo falso otimismo, todos, absolutamente todos afirmando contribuir para “o soerguimento do basquetebol no país”, porém omissos aos verdadeiros fatos que o corroem e aviltam desde sempre, num exercício bem conhecido da política e dos políticos que desgraçam este imenso e injusto país…
Caboclo é mais um destes falsos heróis produzido antes do tempo de uma maturação obrigatória e difícil, onde degraus básicos são transpostos aos pares, culminando com a pseuda definição de craque, que de tal modo se impõe, que não admite contestações, ficando a um passo da rebeldia, da não aceitação de comandos, afinal é um profissional(?) da NBA, que tudo pensa saber e agir, para, finalmente, e pela terceira vez em nossa pujante tradição basquetebolista, ser mais um a se negar entrar em quadra, se negar a defender a seleção numa competição oficial, fato que por si só o desqualifica para toda e qualquer convocação futura, sem maiores considerações, e que ele cobre de quem o assessora e orienta a tomar “decisões profissionais” sem o ser na acepção do termo, pois aos 21 anos já é um adulto, e não um jovem em formação, não mesmo…
Brasília se vai do NBB depois de falsa e erroneamente inflacionar o mercado de jogadores, como umas outras poucas franquias o fazem, tornando a médio prazo impraticável a manutenção do modelo sem a contrapartida dos títulos, desnudando de vez a precariedade dos reais valores apostos a jogadores medianos nada próximos aos valores a eles destinados, culminando com o estouro de uma bolha inflacionária incontrolável, num numerário comum ao mundo do futebol, em nada e por nada sequer parecido a realidade do basquetebol nacional. Aqui bem perto o basquete argentino tem um teto salarial definido e sustentável, e somente aqueles que o extrapolam por qualidades realmente de alta técnica emigram para o exterior, para ligas que sejam mais bem dotadas que a dela, simples assim…
Enfim, e dolorosamente previsível, o basquete tupiniquim chegou ao fundo do poço técnico, já que o administrativo o tenha conseguido bem antes, e pela enésima vez afirmo que o técnico pouco tem a ver com o administrativo, pois na esteira do segundo se instalou no âmago do grande jogo um corporativismo técnico que deflagrou a mesmice endêmica do sistema único, que aí está perdendo de México, Porto Rico e vencendo a Colômbia de um ponto, e no feminino naufragando sem comiseração, tornando inviável e absurda a grita dos “entendidos” do grande jogo pela renovação com jogadores claudicantes e inseguros nos fundamentos, e téc…digo, estrategistas mais claudicantes e inseguros ainda nos conhecimentos mais básicos do jogo, tornando-os inócuos para o comando, agora midiaticamente substituídos por comissões que se reúnem a cada pedido de tempo, ratificando uma lastimável coerência, compromissada ao sistema único, apensa aos tais chifres de diversas matizes e polegares para cima ou para baixo, que seria o correto dentro da lógica romana, que ao direcioná-lo para baixo definiam o destino dos perdedores, lá primários, aqui contumazes…
Finalmente a ENTB, que planeja ser entregue a Estácio de Sá, conveniando um sistema de ensino a distância, isso numa atividade cujo aspecto presencial se torna imprescindível ao conhecimento prático e teórico de uma modalidade complexa e detalhista, em tudo e por tudo inadequada a um ensino desta natureza, num autêntico tiro no pé, bem a gosto daqueles que definem massificação pela distribuição pura e simples de informação, que é uma atividade complementar às técnicas de ensino e aprendizagem presenciais, e não a essência das mesmas, conforme pretendem e propalam. Será mais um equívoco, semelhante àquele de sua fundação quando foi comandada por um preparador físico, cujos resultados aí estão…
Desculpe amigo insistente, mas não inconveniente, são essas as minhas dolorosas colocações, que já vêm de longuíssima data, bem antes da publicação deste humilde blog, propondo, inclusive, que uma saída para esta crise de identidade desportiva fosse debatida em torno de uma grande mesa, por todos aqueles que realmente viveram intensa e profissionalmente o grande jogo em sua mais autêntica essência, anos luz de semelhante proposta como algo inédito e proprietário de pessoas que nasceram ontem, mas julgam que o basquetebol nasceu com eles, pretensão oportunista e infantil, bem ao gosto dos que acham que o grande jogo somente será soerguido exclusivamente pela cabeça arejada dos jovens, esquecendo o princípio que fundamenta a experiência válida, aquela que tem de ser vivida, plena e profundamente vivida, e por isso mesmo menos vulnerável aos erros, os muitos e terríveis erros que tem desgastado e aniquilado o grande jogo, ou não, respondam, debatam, ou se calem frente a tais e contundentes evidências…
Amém, meus deuses, Amém.
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