TEM DE PONTUAR!!!!…
No artigo de ontem abordei as duas temáticas que, no meu ponto de vista, explicam com sobras o abismo em que nos enfiamos tecnicamente, muito mais amplo e profundo do que o aspecto administrativo gerencial que a mídia designa como o fator da hecatombe, responsabilizando-o pelo cenário que aí está escancarado a todos. Mas, e desde sempre, responsabilizo prioritariamente o fator técnico tático como o causador direto pela implantação da mesmice endêmica, contínua e teimosa que nos catapultou para baixo, e que somente a custo de enormes esforços, poderemos emergir a médio/longo prazo desse incomensurável limbo. Sempre tivemos bons e maus dirigentes, agora técnicos e professores, não mais, e as pouquíssimas exceções pouco pesam nesta dolorosa realidade…
Esse jogo contra a Argentina desnudou as duas temáticas acima referidas, a do despreparo acintoso das jogadoras nos fundamentos do jogo, e a ausência proposital no ensino dos mesmos por parte da esmagadora maioria dos téc…digo, estrategistas que inundam a modalidade sobraçando suas infames e midiáticas pranchetas, espelhando através das mesmas seus mais estigmatizados equívocos, frutos do imediatismo e consentida cópia uns dos outros, emoldurados em um sistema único de jogar, onde até as posições dos jogadores são codificadas de 1 a 5, forçando-os a atuar encordoados, como fantoches manipulados de fora para dentro da quadra, descerebrados e sujeitos coercivamente aos rompantes circenses da grande maioria deles, numa busca incessante das lentes e microfones televisivos que os lançam na ilusória ribalta da fama passageira, esquecendo ou omitindo suas mais importantes e decisivas funções, a de educador e a de técnico de uma modalidade complexa, apaixonante e extremamente rica em saberes, aprendizagem e lições de vida…
Fico profundamente preocupado quando assisto um técnico exigir de suas jogadoras que “façam pontos”, “que pontuem”, que “precisam pontuar”, mas não indica os caminhos para satisfazê-lo, eis o ponto, pois ao não admitir afastar-se de seus “conceitos sistêmicos de via única”, perde o direito de exigir tal comportamento, ainda mais quando antecedendo aos exigidos pedidos esclarece “que não adianta somente defender se não pontuar lá na frente”, e tudo isso no comando de uma seleção nacional…
Que me perdoe o galardoado técnico, mas todo um trabalho minucioso de treinamento sugere conceitos de dupla via, onde toda e qualquer orientação e ensino técnico em uma equipe, terá de estabelecer respostas advindas da mesma, em ações e, principalmente, em diálogos esclarecedores e conclusivos, pois a ausência de qualquer um destes fatores geram dúvidas e em alguns casos, cisões muitas vezes incontornáveis, sendo que a mais grave e decisiva é a da negativa (explícita ou velada) ao comando, traduzida pela indiferença disfarçada pela falsa aceitação da liderança autocrática, o que muito explica certas “aventuras” de jogadores(as) mais experientes e vividos nas quadras…
Pelo exposto, é que sempre propugnei pelo preparo inicial dentro e através a prática intensa, geral e não diferenciada por posições para todos os jogadores nos fundamentos do jogo, inclusive como eficiente forma de preparação física comungada com a técnica, colocando-os num mesmo barco que precisa ser direcionado para um mesmo e uniforme destino, abrindo caminho para o conhecimento conjunto das habilidades e inabilidades de cada um, aspecto fundamental na adequação de sistemas de jogo ao nível médio do grupo e factível a todos, dando margem a individualidades e criatividade (que é a chave do improviso consciente) dentro da competição, e não ficando refém de um comando que simplesmente cobra eficiência de quem não possui as competências para atendê-lo em suas elucubrações táticas de via única. Por isso a importância do pleno conhecimento do domínio dos fundamentos de cada integrante de uma seleção, para aí sim, adequá-las a sistemas de jogo, corrigindo e ensinando os fundamentos, pois, ao contrário do que muito especialista no grande jogo afirma, não é pelo fato de uma seleção ser adulta ou de base, que não se possa ensinar ou aprender as técnicas corretas para a execução dos movimentos básicos individuais e coletivos do grande jogo, sendo a negativa acintosa dessa evidência a responsável pelo mais baixo nível que alcançamos nas últimas três décadas nas competições nacionais, e por extensão nas internacionais também, sedimentadas na vergonhosa média de mais de 25 erros por partida, inviabilizando sistemas ofensivos e defensivos, sejam de que escola e tendências forem, avalizando o panorama cinzento que aí está, estabelecido, formatado e padronizado pelo corporativismo fechado e lacrado ao novo, ao instigante e a corajosas e solitárias tentativas práticas de se antepor a tanta cega e estupida mesmice…
Sairemos desta fossa? Com a palavra os estrategistas em permanente plantão, sobraçando seus impolutos alter egos, suas pranchetas…
Amém.
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