O FRONTAL DESAFIO II…
Foi o Petrovic expor suas normativas técnico táticas, ao relatar sua convocação para a classificatória ao Mundial, quando discorreu longamente sobre opiniões e critérios que pretende incluir no seu planejamento de início do ciclo olímpico, para o qual foi contratado pela CBB, indo fundo nas grandes falhas apresentadas pelas equipes da LNB que disputam o NBB, em especial quanto aos arremessos de três pontos (importante ler toda sua exposição), para, quase que imediatamente, as duas equipes que lideram o campeonato, Franca e Paulistano, desencadeasse uma tempestade de bolinhas (16/25 de 2 pontos, e 14/33 de 3 para Franca, contra 18/37 e 7/27 para o Paulistano, vencido pelos francanos por 89 x 73), numa inacreditável convergência de 34/62 tentativas de 2 pontos, e 21/60 de 3!!!
Como anunciava rutilante o narrador do jogo, três dos convocados pelo croata estavam em quadra, Lucas Dias, Leo Meindl e Didi, que juntos mataram 7/16 de 3, com o Meidl desperdiçando 0/5, inclusos num universo de mais 44 gloriosas bolinhas, dando medo assistir tanto arrivismo e incompetência defensiva, e por que não, ofensiva também, num arremedo de “clássico” (palavrinha na ordem do dia…) empolgante e eletrizante, numa quadra em que mais se errava do que acertava, noves fora os 26 erros de fundamentos (11/15) perpetrados pelas equipes…
Bem provável que o Petrovic tenha assistido o jogo, e ter ficado com as barbas de molho, pois recado mais direto e incisivo do que o apresentado pelas duas equipes líderes, impossível, como que dissessem clara e diretamente – Viu, cara, é assim que jogamos por aqui, e se depender de nós continuará assim, pois é aceito por todas as equipes e estrategistas de plantão, hoje, como foi ontem, e continuará sendo amanhã, e o mais importante, endossado pela mídia “especializada” em sua esmagadora maioria, dirigentes, empresários e agentes, e mais importante ainda, pelos jogadores envolvidos pelo modelo garantidor de seus empregos, de todos os envolvidos, fator alimentador do corporativismo vigente, que pune quem tente se insurgir, pois, como afirmam todos, “não se mexe em time vencedor”, não se admitem mudanças, que para nossos vassalos “padrões”, assim deve permanecer…
Não tenho a mais remota dúvida de que o competente croata vai ter problemas de sobra para tentar resolver, principalmente se investir firme contra o tsunami de três que se instalou em nosso indigitado basquetebol, e desde as divisões de base, quando vemos meninos e meninas, mal aguentando o peso da bola, se esticarem todos para lançá-la da forma que for para os três, para gáudio de orgulhosos pais e técnicos despreparados. O exemplo da elite se espraia na formação, tal qual um espelho do que deve ser feito prioritariamente, e não perder tempo (time is money…) em aprender e treinar fundamentos, dispensáveis ante nosso “talento midiático” nas enganosas bolinhas…
Sim, terá problemas, sérios problemas, como tiveram os estrangeiros que o antecederam (e aqui sugiro a leitura do artigo O Frontal Desafio, um libelo muito bem comentado por inúmeros leitores, num exercício instigante e objetivo sobre nossa seleção), os quais sucumbiram ante a triste realidade de um basquetebol que se enfeita e adere a um mercantilismo somente factível em uma sociedade economicamente mais estável e poderosa que a nossa, como se a cópia osmótica nos elevasse aos padrões da mesma (nossas arenas semi desertas atetam isso), num equívoco brutal e insensível a nossa realidade carente e deseducada, em vez de procurarmos no âmago de nossas parcas reservas técnicas e culturais, respostas baseadas no que somos, no que fomos, no que poderemos ser, a partir do momento mágico em que valorizemos nossa cultura, nossos mestres, nossos valores, nossa história, que nos agraciou como a quarta força do basquetebol mundial do século passado…
O Petrovic que veremos ao lado das quatro linhas, estará situado numa encruzilhada, onde dois pólos conflitantes se cruzarão, seu determinismo (coercitivo ou não… ) disciplinador na condução inteligente do jogo, com sua concomitante leitura, uma defesa atuante nos dois perímetros em coberturas permanentes e constantes, um jogo interior bem estabelecido e em veloz movimentação sagital e perpendicular dos alas e pivôs, a movimentação orientada permanentemente no foco das ações pelo (s) armador (es), que torço para serem dois, todos trabalhando em constante e ininterrupta movimentação para a efetivação de bem selecionados arremessos, inclusive os de três, se as condições de liberdade, equilíbrio e firmeza forem estabelecidas, confrontando o maior dos perigos, o outro e perigoso polo, o da estabelecida crença de que somos os predestinados nos longos arremessos, após décadas de incensadas e deificadas santidades nos mesmos, projetados à glória por um certo tipo de imprensa ciosa por deuses e heróis, pelos feitos apolíneos nas quadras ou nos contratos básicos e inferiores aos stars da liga maior, afinal, somos parceiros da mesma, ou não? E é sob esse terrível panorama que desencadeou-se em nosso imenso, desigual e injusto país, o misticismo autofágico das bolinhas de três, alter ego de estrategistas que se locupletam da nossa omissão defensiva, da negligência no ensino dos fundamentos básicos do grande jogo, oferecendo aos incautos (?) jogadores a opção divina do “chega e chuta”, exatamente o ponto crítico externado pelo croata em sua palestra…
São poucos os dias de treinamento para as duas importantes partidas contra os dominicanos e canadenses, muito pouco poderá corrigir e ensinar, principalmente quanto a incontida ganância dos três, ainda mais quando, na defrontação com seus críticos, os mesmos baterão na estabelecida e monocórdia tecla – Se caírem, vencemos, se não caírem, perdemos, mas por culpa do sistema, ou seja, dele, o competente croata…
Fico na torcida pela classificação ao Mundial, e posterior reformulação do grande jogo entre nós, forte, fortíssima reformulação, dando oportunidades aos verdadeiros conhecedores do mesmo, expurgados das quadras pelo modelo que aí está implantado, sem contestações e contrapontos que o discutam a luz do conhecimento real e do bom senso, como devem ser as disputas democráticas, assim como as verdades doridas ditas por um croata sem papas na lingua…
Amém.
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Treinador…enquanto mantiverem o corporativismo, não há espaço para as mudanças propostas pelo Petrovic, que são coisas relativamente simples, se os treinadores que estão agora no NBB abraçassem o proposto pelo treinador da seleção…a mídia tambem não ajuda…teve gente dizendo que o croata quer impor um estilo europeu ao nosso basquete…quando é evidente que a proposta não é esta, na verdade ele esta muito preocupado com o que tem visto…o Magnano tinha perdido a paciência, lembro de um jogo que no pedido de tempo tava desesperado pedido pro time : ” juguen en equipo, juguen en equipo”
Infelizmente a história se repete, prezado João. O Petrovic vai encontrar grandes dificuldades em seu trabalho, principalmente quando cair na realidade crua do basquetebol aqui praticado, desde a formação de base, sem perspectivas de melhoria a médio e longo prazos. A mesmice endêmica se solidificou, e dificilmente será contestada e revertida. Precisamos mudar? Sem dúvida alguma, mas exigirá competência e muita persistência, respaldada em planejamentos de qualidade, professores e técnicos bem formados, e politicas educacionais superiormente formuladas. Paulo Murilo.