OS DOLOROSOS ACHISMOS…

– “A falta é importante porque mostra a vontade de defender”…

– “Se o técnico tem direito aos tempos, devem ser usados”…

– “A falta inteligente deve ser usada para parar um contra ataque, ou para esfriar o jogo”…

– “Se é para fazer uma falta, uma trauletada, mas sem intenção de machucar, deve ser feita, evitando os dois pontos e enviando o adversário para a linha do lance livre, onde pode errar”…

Todas são opiniões da nova geração de comentaristas, pinçadas nas transmissões pela TV e pela internet, que inclusive promove alguns gênios do conhecimento técnico e tático do grande jogo, como uma jovem repórter simpática e falante, que após ser apresentada ao grande jogo uns dois ou três anos atrás, discorre hoje um caudal de conhecimentos que, após 50 anos de engajamento no mesmo, não consigo me equiparar, numa situação muito séria a ser pensada, pois todos eles, de posse unilateral de microfones, em redes nacionais, influenciam jovens por todo o país, com informações, e agora falando muito sério, falsas, errôneas e equivocadas premissas sobre uma modalidade desportiva mais do que centenária, complexa e altamente técnica, que exige muito estudo e pesquisa, e não supostos conhecimentos e chutações descabidas, irresponsáveis? Não sei…

Fala-se muito de defesas, como a do Pinheiros contra o Flamengo, mas “como” defenderam, silêncio total, e se quisessem ou pudessem se estender sobre os detalhes e minúcias, aí seria o caos, pois tais pormenores sequer desconfiam quais sejam, muito menos, como funcionam. Fica mais fácil e palatável a “forte vontade de defender”, cometendo aquelas faltas que a definem, dando as trauletadas necessárias, claro, sem más intenções, e o mais importante, agindo faltosamente com inteligência, pois exercer coletivamente a marcação com a movimentação das pernas, e não dos braços, flutuar de forma lateral e não longitudinalmente a cesta, e contestar em projeção verticalizada (trasformando o deslocamento horizontal em vertical) os longos arremessos, complementando com o movimento em extinção dos bloqueios (bem lembrado pelo Wlamir) nos rebotes, e priorizando, lá na frente, as finalizações de 2 em 2, otimizando todo o tempo de posse de bola disponível, de forma alguma é mencionado, por um único e singelo motivo, não sabem nem conhecem bulhufas do grande jogo, mesmo, mas são os que estão dando as cartas, deixando na poeira aqueles muito poucos que também empunham microfones, mas à sombra consentida dos gênios de plantão, por não ostentarem a imagem marqueteada e midiática que vende o produto NBB/NBA. Some-se a tudo isso o nível absolutamente surreal das ufanistas e tonitruantes narrações, e temos um retrato bem fiel das quantas andam a verdadeira situação do grande jogo nesse imenso, desigual e injusto país. Solução paliativa para mim? Desligar o som…

Agora mesmo, num pré-jogo na Arena Carioca, um dos comentaristas informa em primeira mão a estratégia inicial de uma das equipes que pagarão para ver as bolinhas do adversário, a fim de reforçar os rebotes pela flutuação aos longos arremessos, arriscando tomar alguns pontos, em favor do jogo de transição (?), evitando a segunda bola em rebotes ofensivos. Como vemos, o fator defensivo intenso, básico e presente não entra em consideração, mesmo sob o recente exemplo do Pinheiros vencendo o Flamengo “fungando no cangote” rubro negro o jogo inteiro, como deve ser feito de forma regular, e não esporadicamente…

Enfim, vamos vivenciando essa mesmice irritante e endêmica que sufoca o grande jogo entre nós, agora enriquecido com a prolixidade técnico tática de uma geração de comentaristas, irmanados nos equivocados achismos e pontos de vista, todos absolutamente convictos do que pensam saber e influir a realidade do grande jogo, ou seja, dolorosamente nada…

Amém.

Foto – Reprodução da TV. Clique duplamente na mesma para ampliá-la.

“A LINHA FÓBICA”…

Há muito tempo que não me divertia tanto assistindo um jogo de basquetebol, como o de ontem entre Flamengo e Mogi, principalmente pelos irônicos e bem colocados comentários do Wlamir, que entre jogos do NBB e as novelas, preferia-as sem pensar, ainda mais quando estão em seu final. O institucionalizado “chega e chuta” o assusta demais, assim como a barafunda que os jogadores fazem ao confundir “velocidade com pressa” nas conclusões das mais comezinhas jogadas, das mais primárias finalizações, errando em profusão nos fundamentos básicos do jogo, nos passes paralelos a linha final (provocados quase que automaticamente pelos deslocamentos padrão do sistema único, com seus passes de contorno), nos dribles e fintas, tropeçando naquele elemento que atrapalha muitos jogadores considerados de elite, a bola, e inclusive classificando alguns como “em extinção”, como o posicionamento defensivo e antecipativo nos rebotes, o abandono do simplório, porém eficiente DPJ, o desconhecimento do “giro” pelos pivôs, e o que classifica com propriedade de “linha fóbica”, como aquela que delimita os arremessos para os três pontos, numa genérica ação doentia, que mereceria aprofundados estudos, em que a maioria de nossos jogadores padecem fóbicamente, segundo o grande jogador e professor de primeiríssima linha…

O mais engraçado ainda é a nova tendência de alguns jogadores arremessando “do meio da rua”, anunciados aos berros pelos ufanistas narradores, como se a desenvolvida técnica do Curry se incorporasse na turma da forma mais “natural” possível, bastando para tanto simplesmente chutar, chutar, chutar…

Na véspera, um outro comentarista, ex técnico e conhecido pela vociferação verbal com seus jogadores, elogiando a atitude da LNB não permitindo os microfones nos pedidos de tempo, a não ser no minuto final dos jogos (uma velha e insistente reivindicação aqui desse humilde blog), como uma ação benéfica, pois na maioria das vezes os insultos e palavrório inadequado constrangia mais do que informava os ouvintes, num comentário sutil e revelador…

Todos os comentários, agora mais vastos e obrigatoriamente mais consistentes pela ausência do áudio vindo dos bancos, definirão o quem é quem da crítica e análise do grande jogo, a não ser que desenvolvam aos píncaros o festival de “encheção de linguiça” em que a maioria deles mergulhou na grande rede…

Como disse no princípio, a muito não me divertia tanto num jogo de basquetebol, mas com uma nesga de incredulidade ante os 38 erros cometidos por ambas as equipes (17/21), a chutação “fóbica” sem o mais ínfimo resquício defensivo (foram 19/46 bolinhas…), numa promoção de “tiro aos pombos”, pela maioria das equipes, com o consentimento “evolutivo” dos estrategistas sempre de plantão, na ânsia inconsequente de “modificar o jogo”, a la Curry/Thompson/Durant Company,  como se os possuíssem em suas equipes, numa projeção técnica que raia ao absurdo, e cuja cobrança mais adiante nos mais importantes torneios internacionais, onde as contestações se farão presente, em nada aliviará nossa consentida e equivocada opçao…

No entanto, nem tudo foi “diversão”, pois um debate foi estabelecido pelos comentaristas sobre os reais motivos da não convocação do Marquinhos para a seleção que disputa as eliminatórias para o Campeonato Mundial, e que teve no Wlamir, ao saber pelos colegas que assuntos pessoais indispunham o Petrovic com o jogador, comentou – “O técnico pode perder a confiança na pessoa, não no jogador, que é fundamental para a Seleção” – Discordo caro mestre, o jogador e o homem são a mesma pessoa, indissociavelmente ligados, principalmente a um grupo de trabalho, do qual, ele e o técnico fazem parte, e onde a confiança pessoal, técnica e profissional deve existir incondicionalmente, principalmente numa seleção brasileira, logo…

Amém.  

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