ARTIGO 1500 – UM INACREDITÁVEL, PORÉM PREVISÍVEL 2018…

Há uma semana estou parado frente a tela branca do editor de texto, tentando escrever o artigo de número 1500, uma senhora conquista nestes 14 anos de Basquete Brasil, ininterruptos, pensados, repensados, honestos, técnicos, e acima de tudo éticos, mesmo sofrendo na pele o surdo combate travado contra sua importante destinação, a de colaborar com o soerguimento do grande jogo neste imenso, desigual e injusto país…

Este parágrafo inicial é produto de um imenso esforço que faço para dar seguimento a esse humilde blog, numa sacrificada continuidade no mais antigo blog do basquetebol nacional, escrito, administrado e editado por um professor e técnico, que tem sido mantido à margem das quadras desde o NBB2 em 2010, mas que jamais abandonou o barco, deixando à deriva todo um manancial de conhecimentos e vasta experiência aqui colocada, democraticamente colocada, visando os jovens técnicos e professores, os mais jovens ainda jogadores que iniciam suas caminhadas, e todos aqueles que realmente amam o grande jogo, e não os que o utilizam para inflar falsos egos de “pseudos conhecedores” de uma modalidade ímpar nos desportos coletivos, pela sua história, tradições e vastíssima bibliografia para lá de centenária, cuja imensa maioria dos que se apossaram política e coercitivamente do mesmo desconhecem, e não estão nem aí para conhecer, já que o tentam caracterizar a imagem e semelhança de suas canhestras e colonizadas concepções de um anti jogo inverossímil e na contramão de nossa realidade, inclusive praticado com outras regras, que não as internacionais… Leia mais »

ESQUECER? JAMAIS. ATÍPICO? DE JEITO NENHUM…

–  “É jogo para esquecer, o aproveitamento é de dia, acontece”

–  “Está claro que não o QUANTO se chuta, mas sim COMO e POR QUE se chuta”

–  “Foi um jogo atípico”

São comentários de fim de jogo, vindos da mídia especializada e do croata, contemporizando um pequeno desastre anunciado, aqui mesmo, quando afirmamos que bastaria uma defesa presente dentro e fora do perímetro, com coberturas competentes, e contestações permanentes, para conter uma seleção, cujos jogadores apostam todas as suas fichas na artilharia de fora, não alguns, mas todos, quebrando dessa forma toda e qualquer tentativa de seu técnico de promover o tão sonhado e apregoado coletivismo, cada vez mais distante, diante de uma realidade encanecida pelos longos anos de um sistema de jogo promotor da desgraceira em que chafurdamos, afundando cada vez mais num buraco infindo…

Defensivamente então, melhor sequer tentar analisar, pois trata-se de um assunto tabú, desconhecido por todos aqueles que propugnam pelo chavão de que “a melhor defesa é o ataque”, absolutamente cônscios de seu imbatível e imparável ataque, aquele lá de fora, na zona dos que temem se arriscar às penetrações, onde técnicas refinadas de drible, fintas e arremessos precisos e milimétricos exigem progressivo e incansável treinamento, ajustando e reajustando habilidades cada vez mais exigentes de esforço e entrega ao labor de aperfeiçoá-las, por todo o tempo em que se mantiverem a serviço do grande jogo, ou seja, os fundamentos, ferramenta de trabalho para praticá-lo, e sem os quais, pouco ou nada será conseguido em termos de sistemas de jogo fluido e colaborativo…

Logo, de forma alguma é um jogo para ser esquecido porque as bolinhas não caíram, “não era o dia, acontece”, quando o esquecimento está diretamente relacionado ao outro comentário – “Está claro que não o QUANTO se chuta, mas sim COMO e POR QUE se chuta” – argumento em defesa da chutação, correta ou incorreta, pois dependente do quanto, do como e do por que…

Do QUANTO, fator convergente entre os arremessos de 2 e 3 pontos, como se ambos tivessem a mesma precisão, a mesma técnica de execução, facultando a todo jogador o domínio dos longos, em quantidades progressivas, que é algo assustador pela ignorância mais simplória do que vem a ser o domínio pleno de uma esfera de 600/650 gramas e 75/78 cm de circunferência a ser lançada de uma distância aproximada de 6,75 m a um aro suspenso a 3,05 m do solo , com um diâmetro de 45 cm, girando inversamente em torno de um eixo diametral que deverá se situar o mais paralelo possível ao nível do aro e equidistante de seus bordos externos, a fim de reduzir ao máximo desvios de direção na ordem nunca superior de 1,5/2,0 cm no momento da soltura, utilizando pegas de várias formas, estudadas e pesquisadas cientificamente, adaptando-as às particularidades anatômicas das mãos de cada jogador, e não simplesmente, como em voga, jogá-la para o alto para ver no que dá…

Do COMO, se partindo do pressuposto de que as técnicas corretas estejam presentes, e que mesmo assim exigem estabilidade posicional, equilíbrio e firmeza, com tempo suficiente para que tais ajustes colimem numa razoável, boa ou excelente tentativa, sempre pertencente a uma movimentação técnico tática da equipe, e não, como de costume, forçando-a atabalhoada e muitas vezes irresponsavelmente, como vem acontecendo cumulativamente, até mesmo nas categorias da formação de base…

Do POR QUE? , Ora ora, é o que garante notoriedade midiática, poder decisório deificado, rotulando um poder maior diretamente proporcional ao maior ou menor número de “especialistas” que compõe uma equipe, tornando-a poderosa e imbatível aos olhos primários daqueles que realmente pensam conhecer algo do grande jogo, que esquecem sempre da existência de defensores do outro lado da quadra, aqueles que técnica e taticamente simplesmente defendem, defendem e defendem, despindo o santo de sua arrogância de luminares dos longos arremessos. Foi exatamente isso que tornou a acontecer no enfrentamento com os canadenses, desfalcados de seus ótimos jogadores que atuam na NBA, mas plenamente cônscios de suas habilidades nos fundamentos de defesa, e por que não, nos tiros longos também, ante a inexistência defensiva tupiniquim, entregue a seus devaneios de adoradores dos Currys da vida, cuja equipe já começou a descer a ladeira, como aliás, já era de se esperar, pois lá naquelas bandas do norte, defender é algo que aprendem desde muito cedo, quando por aqui… deixa pra lá, pois já já elas voltarão a cair…

Preocupa-me ver a seleção atuar como hoje, desconectada do que realmente seu técnico deseja para ela, arvorada, perdida e descerebrada, mas incensada em nome de um prestígio que teimam em apoiar e promover na forma absurda de jogar em função das bolinhas, previsível, insípida e com ausência de criatividade, buscando corner players para chutação, abdicando de um jogo interno que poderia, se bem treinado, coordenado e aceito por todos, ser de um poder imenso, se estruturada defensivamente, nos rebotes coletivos e excludentes, nas flutuações lateralizadas, possibilitando a marcação frontal dos pivôs, da presença permanente junto aos atacantes fora do perímetro, obrigando-os a penetrar em busca de 2 pontos, e não de três, nas leituras defensivas e ofensivas de jogo, tão ausentes entre nós, preocupados que estamos em imitar, e muito mal, um outro jogo, com regras diferentes, poder aquisitivo inimaginável, poder econômico avassalador, que nos veem como mercado, jamais concorrentes no jogo, onde até seus vizinhos mais acima aqui vem e nos ensinam um sutil lição, a de que jogadores equipados dos fundamentos básicos do jogo, sempre vencerão aqueles que, desde a base, são formatados e padronizados em sistemas e preparação física “científica”, onde aprendem a correr mais rápido, saltar mais alto e trombar com mais eficiência, muito antes de se dedicarem aos fundamentos, quando o fazem. Esse é o material humano que é posto a disposição de um técnico da escola europeia, que muito pouco poderá acrescentar taticamente quando tecnicamente deixam tanto a desejar, a não ser que os ensine, por pouco que seja, a se aprimorar nas técnicas fundamentais, inclusos os arremessos…

Ao término do jogo, me senti profundamente triste, por um único e instigante fato, o de em nenhum momento de minha vida como professor e técnico ter aceito a mesmice, a repetição o monocórdio, como estou testemunhando acontecer, e sim ter sempre me pautado pelo contraditório, pelo ousado, pelo instigante, pelo realmente novo, jamais a novidade, pela capacitação ao improviso consciente, pois só improvisa quem sabe, quem domina seu instrumento de trabalho e de estudo, ajudando efetivamente os jovens a se encontrarem em si mesmos, e por conseguinte, se situar em grupos, em família. O grande, grandíssimo jogo, precisa árdua e urgentemente de jovens assim formados, jamais formatados e padronizados em torno de uma deletéria e absurda prancheta, instrumento dos emperdenidos e teimosos estrategistas, permanentemente (até quando meus deuses) de plantão…

Amém.

Fotos – Reproduções da Tv. Clique duplamente nas mesmas para ampliá-las.

Segue uma breve resenha gráfica de um jogo nada atípico, e que nunca deverá ser esquecido:

A primeira manifestação ofensiva da seleção foi um chute de três, contestado…

A primeira bolinha do Canadá, desmarcada…

Leandro tenta penetrar, e como de outras vezes é barrado pelo forte esquema defensivo canadense…

A insistência brasileira nas “bolinhas de 10 pontos”…

Pivôs armando. armadores viram pivôs, numa inversão desesperada de valores…

Canadenses sempre livres nos arremessos…

Brasileiros sempre e severamente contestados, como deve ser…

Em síntese, de um lado uma equipe, que nem é a principal, bem treinada, com fundamentos sólidos e confiáveis, embasando um sistema fluido e competente de jogo, do outro, um retrato fiel de como se joga o grande jogo em nosso imenso, desigual e injusto país…

Fotos – Reproduções da TV. Clique duplamente nas mesmas para ampliá-las.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“É DE TRÊS”!!!!…

“Agora quero ver falarem mal das bolas de três”, menciona sorrindo o comentarista da TV, esquecendo estar comentando um jogo em que a seleção dominicana abria totalmente a guarda para a chutação de fora (13/31), resguardando com todas as suas forças o perímetro interno, permitindo 32 (22/32)finalizações brasileiras de 2 pontos, quando ela mesma conseguia 50 (24/50 e 5/12 de 3), e mesmo assim, das 18 bolas perdidas por nossos “especialistas de três”, forçamos 10 ante uma débil, porém presente contestação às mesmas…

Repetiu-se o velho e manjado vício pátrio, de “soltar a pera” ao menor indício de liberdade, dando valia ao fajuto princípio de que “estando solto,tem de arremessar”… de três, inclusive em contra ataques, sem contemplações, levando de roldão instruções para escolherem melhores situações de chute, ou mesmo darem um pouco mais de valor a posse de bola, agindo grupal e taticamente, na criação dos tão valiosos espaços, que no caso do jogo de ontem, como em qualquer jogo em que o adversário bloqueie o miolo de sua defesa, se apresentava como uma oportunidade mais preciosa ainda de forçar o jogo interno, capacitando, pelo realismo de um jogo entre seleções, os alas pivôs nas jogadas próximas à cesta, em espaços críticos pelas curtas distâncias, ocupados por seis ou mais jogadores, em luta espacial permanente, oportunizando os rápidos deslocamentos e os passes mais precisos, assim como as finalizações estatisticamente mais eficientes, e mais, oferecendo precisos e rápidos passes de dentro para fora do perímetro, e não em passes de contorno ou regressivos, para aí sim, encontrarem os especialistas nos longos tiros, estáveis, equilibrados, e com tempo suficiente para enquadrarem com firmeza o direcionamento correto da bola, e não destinados a uma turma convencida de que é expert nas bolinhas, cerceando e praticamente anulando toda e qualquer oportunidade de ações internas de sua equipe…

O treinamento em situações reais de jogo, é o anseio de  qualquer técnico experiente e de qualidade (e muito mais em se tratando de seleções), para desenvolver seu sistema interior de jogo, difícil (mas não impossível) de ser emulado em treinos normais, daí a fundamental importância de destinar todo o tempo e empenho da equipe no máximo aproveitamento possível dessas oportunidades, que jamais deveriam ser perdidas pela troca midiática e exibicionistas de jogadores que acham, e se consideram “gatilhos” insuperáveis, o que absolutamente não são, ainda mais se marcados e contestados de muito perto, que é o que ocorrerá quando enfrentarem seleções de maior qualidade técnica…

Na equipe brasileira, nove jogadores arriscaram nos três pontos, e somente os pivõs Varejão e Augusto, e o armador Pecos não o fizeram, sendo este último também adepto das bolinhas, que só não foram tentadas por ter jogado muito pouco tempo. Se deduzirmos que nove jogadores se acham competentes nos longos arremessos em uma partida entre seleções nacionais, fica bem claro que das duas uma, ou foram autorizados pelo técnico a fazê-lo, ou agiram por conta própria, afinal estavam “livres”, o que explica a contrariedade do técnico, que vê na equipe que dirige o mesmo comportamento que tanto criticou nos jogos do NBB, o excesso de bolinhas, marcadas ou não, forçadas ou não, todas reflexos da ausência consentida de defesa externa por parte de todas as equipes, que dessa forma se igualam nos erros e nos acertos, vencendo aquelas que as veem cair com mais frequência, pelas mãos dos poucos especialistas de verdade que temos, que é a regra em outros grandes centros, onde somente uns poucos decidem jogos através o domínio que têm na difícil e elitista arte dos longos arremessos…

Agora a pouco pude assistir a final da LDB entre Pinheiros e Paulistano, jogo final de uma tarde com quatro partidas semifinais e final, com a média de 30 erros de fundamentos por jogo, e na final, 13/48 arremessos de três (4/26 para o Paulistano e 9/22 para o Pinheiros), e 32 erros (12/20 respectivamente), dando razão com sobras ao Petrovic, que, incoerentemente na manhã de hoje orientou um treino de arremessos, de três e uns pouco lances livres (vejam o vídeo)…

Estará aderindo o experiente croata? Vejamos contra o Canadá…

Amém.

Foto – Reprodução ds TV. Clique duplamente na mesma para ampliá-la.

Vídeo – Divulgação CBB.