– “É jogo para esquecer, o aproveitamento é de dia, acontece”
– “Está claro que não o QUANTO se chuta, mas sim COMO e POR QUE se chuta”
– “Foi um jogo atípico”
São comentários de fim de jogo, vindos da mídia especializada e do croata, contemporizando um pequeno desastre anunciado, aqui mesmo, quando afirmamos que bastaria uma defesa presente dentro e fora do perímetro, com coberturas competentes, e contestações permanentes, para conter uma seleção, cujos jogadores apostam todas as suas fichas na artilharia de fora, não alguns, mas todos, quebrando dessa forma toda e qualquer tentativa de seu técnico de promover o tão sonhado e apregoado coletivismo, cada vez mais distante, diante de uma realidade encanecida pelos longos anos de um sistema de jogo promotor da desgraceira em que chafurdamos, afundando cada vez mais num buraco infindo…
Defensivamente então, melhor sequer tentar analisar, pois trata-se de um assunto tabú, desconhecido por todos aqueles que propugnam pelo chavão de que “a melhor defesa é o ataque”, absolutamente cônscios de seu imbatível e imparável ataque, aquele lá de fora, na zona dos que temem se arriscar às penetrações, onde técnicas refinadas de drible, fintas e arremessos precisos e milimétricos exigem progressivo e incansável treinamento, ajustando e reajustando habilidades cada vez mais exigentes de esforço e entrega ao labor de aperfeiçoá-las, por todo o tempo em que se mantiverem a serviço do grande jogo, ou seja, os fundamentos, ferramenta de trabalho para praticá-lo, e sem os quais, pouco ou nada será conseguido em termos de sistemas de jogo fluido e colaborativo…
Logo, de forma alguma é um jogo para ser esquecido porque as bolinhas não caíram, “não era o dia, acontece”, quando o esquecimento está diretamente relacionado ao outro comentário – “Está claro que não o QUANTO se chuta, mas sim COMO e POR QUE se chuta” – argumento em defesa da chutação, correta ou incorreta, pois dependente do quanto, do como e do por que…
Do QUANTO, fator convergente entre os arremessos de 2 e 3 pontos, como se ambos tivessem a mesma precisão, a mesma técnica de execução, facultando a todo jogador o domínio dos longos, em quantidades progressivas, que é algo assustador pela ignorância mais simplória do que vem a ser o domínio pleno de uma esfera de 600/650 gramas e 75/78 cm de circunferência a ser lançada de uma distância aproximada de 6,75 m a um aro suspenso a 3,05 m do solo , com um diâmetro de 45 cm, girando inversamente em torno de um eixo diametral que deverá se situar o mais paralelo possível ao nível do aro e equidistante de seus bordos externos, a fim de reduzir ao máximo desvios de direção na ordem nunca superior de 1,5/2,0 cm no momento da soltura, utilizando pegas de várias formas, estudadas e pesquisadas cientificamente, adaptando-as às particularidades anatômicas das mãos de cada jogador, e não simplesmente, como em voga, jogá-la para o alto para ver no que dá…
Do COMO, se partindo do pressuposto de que as técnicas corretas estejam presentes, e que mesmo assim exigem estabilidade posicional, equilíbrio e firmeza, com tempo suficiente para que tais ajustes colimem numa razoável, boa ou excelente tentativa, sempre pertencente a uma movimentação técnico tática da equipe, e não, como de costume, forçando-a atabalhoada e muitas vezes irresponsavelmente, como vem acontecendo cumulativamente, até mesmo nas categorias da formação de base…
Do POR QUE? , Ora ora, é o que garante notoriedade midiática, poder decisório deificado, rotulando um poder maior diretamente proporcional ao maior ou menor número de “especialistas” que compõe uma equipe, tornando-a poderosa e imbatível aos olhos primários daqueles que realmente pensam conhecer algo do grande jogo, que esquecem sempre da existência de defensores do outro lado da quadra, aqueles que técnica e taticamente simplesmente defendem, defendem e defendem, despindo o santo de sua arrogância de luminares dos longos arremessos. Foi exatamente isso que tornou a acontecer no enfrentamento com os canadenses, desfalcados de seus ótimos jogadores que atuam na NBA, mas plenamente cônscios de suas habilidades nos fundamentos de defesa, e por que não, nos tiros longos também, ante a inexistência defensiva tupiniquim, entregue a seus devaneios de adoradores dos Currys da vida, cuja equipe já começou a descer a ladeira, como aliás, já era de se esperar, pois lá naquelas bandas do norte, defender é algo que aprendem desde muito cedo, quando por aqui… deixa pra lá, pois já já elas voltarão a cair…
Preocupa-me ver a seleção atuar como hoje, desconectada do que realmente seu técnico deseja para ela, arvorada, perdida e descerebrada, mas incensada em nome de um prestígio que teimam em apoiar e promover na forma absurda de jogar em função das bolinhas, previsível, insípida e com ausência de criatividade, buscando corner players para chutação, abdicando de um jogo interno que poderia, se bem treinado, coordenado e aceito por todos, ser de um poder imenso, se estruturada defensivamente, nos rebotes coletivos e excludentes, nas flutuações lateralizadas, possibilitando a marcação frontal dos pivôs, da presença permanente junto aos atacantes fora do perímetro, obrigando-os a penetrar em busca de 2 pontos, e não de três, nas leituras defensivas e ofensivas de jogo, tão ausentes entre nós, preocupados que estamos em imitar, e muito mal, um outro jogo, com regras diferentes, poder aquisitivo inimaginável, poder econômico avassalador, que nos veem como mercado, jamais concorrentes no jogo, onde até seus vizinhos mais acima aqui vem e nos ensinam um sutil lição, a de que jogadores equipados dos fundamentos básicos do jogo, sempre vencerão aqueles que, desde a base, são formatados e padronizados em sistemas e preparação física “científica”, onde aprendem a correr mais rápido, saltar mais alto e trombar com mais eficiência, muito antes de se dedicarem aos fundamentos, quando o fazem. Esse é o material humano que é posto a disposição de um técnico da escola europeia, que muito pouco poderá acrescentar taticamente quando tecnicamente deixam tanto a desejar, a não ser que os ensine, por pouco que seja, a se aprimorar nas técnicas fundamentais, inclusos os arremessos…
Ao término do jogo, me senti profundamente triste, por um único e instigante fato, o de em nenhum momento de minha vida como professor e técnico ter aceito a mesmice, a repetição o monocórdio, como estou testemunhando acontecer, e sim ter sempre me pautado pelo contraditório, pelo ousado, pelo instigante, pelo realmente novo, jamais a novidade, pela capacitação ao improviso consciente, pois só improvisa quem sabe, quem domina seu instrumento de trabalho e de estudo, ajudando efetivamente os jovens a se encontrarem em si mesmos, e por conseguinte, se situar em grupos, em família. O grande, grandíssimo jogo, precisa árdua e urgentemente de jovens assim formados, jamais formatados e padronizados em torno de uma deletéria e absurda prancheta, instrumento dos emperdenidos e teimosos estrategistas, permanentemente (até quando meus deuses) de plantão…
Amém.
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Segue uma breve resenha gráfica de um jogo nada atípico, e que nunca deverá ser esquecido:
A primeira manifestação ofensiva da seleção foi um chute de três, contestado…
A primeira bolinha do Canadá, desmarcada…
Leandro tenta penetrar, e como de outras vezes é barrado pelo forte esquema defensivo canadense…
A insistência brasileira nas “bolinhas de 10 pontos”…
Pivôs armando. armadores viram pivôs, numa inversão desesperada de valores…
Canadenses sempre livres nos arremessos…
Brasileiros sempre e severamente contestados, como deve ser…
Em síntese, de um lado uma equipe, que nem é a principal, bem treinada, com fundamentos sólidos e confiáveis, embasando um sistema fluido e competente de jogo, do outro, um retrato fiel de como se joga o grande jogo em nosso imenso, desigual e injusto país…
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