AS TEMÍVEIS E ANUNCIADAS MINI HECATOMBES…

A mídia especializada tupiniquim estipulou que ajudaria no crescimento do grande jogo colocando-o num altar de excelência, onde tudo está em ordem técnica e tática (onde o reinado das pranchetas é absoluto), com arenas e ginásios bem frequentados (inclusive com torcida única presente no caso do RJ), espetáculos e shows atraentes, entrevistas formidáveis, bordões bradados aos gritos, divulgação sistemática de #tags e twitters a não mais poder, abraços enternecidos e beijos a granel para os fãs, enfim, todo uma encenação em parte copiada da grande matriz do norte, onde até a beijação caipira televisiva ameaça adentrar nossas semi desertas bancadas. Mas fazemos por merecer, pela terrível omissão que caracteriza a grande parte daqueles que dizem e apregoam amar o grande jogo, mas que o permitiram ter se tornado refém do granítico corporativismo que se apossou dele com passagem de ida, onde a vinda se torna cada vez mais improvável. Numa matéria de hoje no O Globo sobre nossas chances em Toquio, o basquetebol sequer é mencionado…

Esqueceram, porém, o fator mais importante, determinante para o ressurgimento do grande jogo, e como deveria ser aprendido, treinado, praticado e jogado entre nós, o domínio técnico de seus fundamentos desde a formação de base, ensinado e orientado por bem formados professores e técnicos, treinados e supervisionados por especialistas de verdade, num acompanhamento progressivo, avaliado e medido visando a excelência do ensino, e não os títulos conquistados à revelia do mesmo, beneficiando unilateralmente aqueles interessados em seus currículos profissionais. Carece a maioria da mídia de conhecimentos sobre o largo campo do ensino do grande jogo, suas exigências e implicações, principalmente quanto aos mais jovens, cumulando-os de falsas e perigosas expectativas, mais voltadas ao elitista caminho do sucesso sócio econômico (principalmente além fronteiras), do que uma sólida base em seu processo de crescimento educacional  e cultural…

Sem dúvida um cenário triste e constrangedor, mas, de repente, como um sopro de bem vinda novidade, se apresentou aos internautas da grande rede, uma experiência de transmissão totalmente comandada por mulheres, no jogo Botafogo x Brasília, em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, no que se constituiu num bom e instigante trabalho jornalístico, ainda mais numa modalidade complexa e exigente para todos que a tentam transmitir e comentar. As jornalistas se saíram muito bem, inclusive a comentarista, mais comedida e objetiva em suas opiniões técnicas, não extrapolando seu ainda restrito conhecimento da modalidade, fazendo boa companhia a narradora, contida e simpática, assim como as duas repórteres de campo, formulando perguntas a serem livremente respondidas pelos jogadores e técnicos, e não concordes com suas opiniões pessoais. A transmissão foi, sem dúvida alguma muito superior ao que fazem seus colegas masculinos, sem a menor dúvida…

Voltando um pouco às análises acima, podemos afiançar com bastante certeza, serem a maioria das transmissões e comentários de jogos do NBB, responsáveis por uma falsa e manipulável realidade, tanto técnica, onde os erros cumulativos de fundamentos são minimizados e desculpáveis frente a defesas fortes (onde até faltas pessoais de retardo técnico são elogiadas), não tão fortes assim, pois se permitem ultrapassar com facilidade (crasso erro de fundamentos defensivos), assim como erros de manuseio de bola no drible, na finta, no passe  e no arremesso são relevados e sequer apontados, como taticamente, onde o sistema único de jogo jamais é detalhado, a não ser pelas jogadas chifre, punho, camisa, especiais que são mencionadas sem explicitar suas configurações e aplicabilidade dentro do sistema utilizado, exceto as enterradas monstros, tocos monumentais, e bolinhas mágicas de três, carros chefes de seus rompantes ufanistas e altamente influenciáveis junto aos jovens que se iniciam e as torcidas advindas do futebol, e claro agregando singularidades e personalismos a seus ululantes personagens…

Se outra fosse a realidade, em hipótese alguma poderia deixar de ser larga e profundamente comentada a hecatombe basquetebolista ( ao contrário, foi um jogo elogiadíssimo) que aconteceu ontem em Franca pela Liga das Americas, quando o Paulistano derrotou o dono da casa e da festa (?) por 87 x 82, deflagrando por mais uma vez o que vem sendo definido pelos corporativados estrategistas donos do basquetebol nacional, como o “basquete do futuro”, aquele que inventamos antes do Warriors da vez, (segundo o laureado Oscar), mas que como todo movimento modernoso e oportunista, já vem sofrendo perdas e derrotas lá mesmo, na matriz, onde a retomada defensiva se manifesta, como uma volta ao equilíbrio técnico tático que se reveza perenemente no âmago do grande jogo, desde sua invenção no século 19…

A hecatombe? Vejamos os números – Foram 34/59 de cestas de 2 pontos e 21/72 de 3 (16/26 de 2 para Franca e 18/33 para o Paulistano. assim como 10/33 de 2 e 11/39 respectivamente de 3 pontos), com 20/25 e 18/21 de lances livres para ambos, porém bem menos erros de fundamentos, 17 (9/8), numa prova cabal da inexistência defensiva propiciando a chutação desenfreada e insana nas tentativas de 3 pontos. Num jogo com diferença final de 5 pontos (número de erros de Franca nos lances livres), onde foram perpetradas 51 perdas nos 3 pontos e 25 nos 2, num inqualificável absurdo de equipes que se colocam como do mais alto nível em nosso indigitado e pretensioso basquetebol e seus estrategistas de prancheta, que precisam estudar muito e muito, se quiserem se ombrear com a turma lá de fora. Numa continha final, bastaria que uma das equipes investisse um pouco que fosse no jogo interno para vencer o jogo com folga, que não foi o que fizeram Franca e Paulistano, com este arriscando somente duas bolas a mais nos 2 pontos e uma a mais na roleta dos 3, vencendo um escatológico jogo, num triste prenúncio do que nos aguarda nos jogos internacionais do Mundial mais a frente, como o visto nessa Liga Américas, onde equipes já ensaiam defesas mais presentes fora do perímetro,  onde a equipe do Paulistano se viu forçada ao jogo interior para vencer seus três jogos, se classificando ao turno semifinal. Imaginem o que nos aguarda no Mundial da China, quando encontrarmos fortes e bem plantadas defesas dentro, e principalmente fora do perímetro, onde nos consideramos o warriors dos trópicos, inclusive os pivôs?…

Avaliem aqueles que realmente conhecem o grande jogo, o impacto junto aos jovens que se iniciam, testemunhar um jogo desse nível tão primário e absurdo, em equipes compostas dos nossos melhores prospectos, com altíssimos investimentos e patrocinadores, dirigidas pelos mais conceituados estrategistas, perante um “templo” lotado de torcedores, narrado e comentado pela mídia mais respeitada e incensada, para, numa análise bem simples e objetiva se preocupar com um Petrovic avesso a esse modelo tupiniquim de jogar, conforme já expôs em entrevistas largamente divulgadas, com a responsabilidade de liderar a seleção num campeonato de tal envergadura, sabendo de antemão o quanto lhe custará mudar algo, ou alguma coisa no modo de atuar dessa turma que se considera à frente de seu tempo. Conseguirá mudá-los, ou aderirá ao “chega e chuta”agora institucionalizado?…Honestamente, já estou preocupado desde já, prevendo outras mini hecatombes similares a Franca x Paulistano, com efeitos devastadores, a não ser que, bem, o futuro dirá…

Em tempo – Acabo de testemunhar mais uma mini – Flamengo derrota Bauru (80 x 72), onde ambas as equipes arremessaram 20/69 bolas de 3 e 30/54 de 2 (Flamengo 17/26 e 10/33 contra 13/28 e 10/36 do Bauru, cometendo as duas 35 (19/16) erros de fundamentos. Definitivamente entramos na era oficializada e padronizada da chutação de três, tornando as convergências no mote principal da nossa forma de sentir e jogar o que já foi um grande, grandíssimo jogo, cada vez menor para essa turma que nega os conceitos e sistemas defensivos básicos e necessarios para exequibilizá-lo. Palmas para os omissos e oportunistas estrategistas disfarçados em técnicos de basquetebol. Vamos ver suas falseadas convicções postas a prova quando enfrentarem adversários de verdade, que jamais respeitarão equipes com mais de 20 erros de fundamentos por partida, e que arremessam mais de 3 do que 2, anulando toda e qualquer possibilidade de soerguimento deste massacrado e arruinado basquetebol brasileiro ao espelhar seus péssimos exemplos para os mais jovens. Lamentável…

Amém.

Fotos – Reproduções do O Globo, TV e divulgação da Fiba Americas. Clique duplamente nas mesmas para ampliá-las.

 



2 comentários

  1. João 17.03.2019

    Treinador…após o sorteio dos grupos do Mundial deu para perceber claramente que a ficha já caiu para a maioria do pessoal que acompanha o basquete,ninguem acredita na seleção, basta ver os comentários por aí e só nao vê quem não quer mesmo, esse NBB fraquíssimo não empolga , mesmo com toda a mídia patrocinada querendo pintar um quadro que não existe..acredito sem sombra de dúvida, que se existe uma divisão de acesso da FIBA, estariamos brigando para não cair para a “C”….abraço Treinador.

  2. Basquete Brasil 18.03.2019

    E olha que não foi por falta de aviso, laudas e laudas em artigos aqui publicados, mostrando a face omitida e escondida da realidade nua e crua do grande jogo em nossa sacrificada terra. Prezado João, podem enterrar a verdade, porém matá-la, nunca! Interesses pessoais, empregos em jogo, alguma grana, protecionismo grupal, corporativismo, são fatores poderosos para manterem a situação fragmentária por que passa o basquetebol e os desportos em geral, sob o controle necessário e avesso a qualquer resquício de mudanças em prol de uma verdadeira e consistente política nacional voltada ao desporto como fonte educacional e cultural. Por tudo isso, o império da mediocridade se mantém intocado num prazo de validade sem data para se extinguir. Triste assim, João.
    Paulo Murilo.

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