A CORAJOSA OPÇÃO SISTÊMICA DO PETROVIC, MANTERÁ?…
No primeiro jogo da fase classificatória contra a Nova Zelândia arremessamos 17/44 bolas de 2 e 14/38 de 3, contra 18/37 e 12/26, numa competição artilheira de dar arrepios, haja vista o placar final de 102 x 98, ao final da partida…
No segundo, contra a Grécia foram 25/52 de 2 e 5/12 de 3, contra 18/37 e 12/26 helênicos. Vencemos por 79 x 78 um jogo chave para a classificação…
No de hoje, o terceiro, contra Montenegro, arremessamos 26/46 de 2 e 7/18 de 3, contra 17/30 e 11/32, garantindo o primeiro lugar na chave por 84 x 73…
Assistindo os jogos e analisando os números, algo de absolutamente inédito em seleções brasileiras salta aos olhos, e tão somente quanto aos arremessos de quadra, números que estão aí acima, realmente inovadores, senão vejamos – Ao contrário da histeria dos 3 do primeiro jogo, o tal que por pouco nos livramos de um resultado nada alentador, quando arremessamos 38 bolinhas, fruto de um vício de formação arraigado de longa data em nossos jogadores, do segundo em diante não ultrapassamos as 20 tentativas (foram 12 e 18), quando priorizamos o fortíssimo jogo interior que possuímos, mudando radicalmente a forma de jogar, concluindo de fora quando realmente as condições de equilíbrio, desmarcação e velocidade, propiciou pontos importantes, otimizando o esforço físico a cada ataque com conclusões mais seguras e com alto grau de precisão, principalmente dentro do garrafão …
Enfatizo esta providencial mudança, pelo inconteste fato do Petrovic parecer ter conseguido convencer a equipe de ser esta a melhor maneira de vencer jogos sérios e decisivos, de 2 em 2 e 1 em 1, com muita paciência, firmeza e alta percepção de leitura de jogo, principalmente jogando em espaços menores e bem defendidos, visando o desmonte defensivo, fator estratégico que ganha dimensões gigantescas daqui para o final da competição, e por um inusitado e não calculado comportamento de uma seleção que vem forçando essa forma de jogar do “chega e chuta”, de três décadas para cá, com inclusive a falsa afirmativa de que fomos nós a inaugurar a falácia tendenciosa de que “mudamos o jogo”, mas que não nos fez vencer competições realmente importantes desde então…
Se essa mudança se concretizar com seriedade, compromisso e envolvimento por parte da equipe em seu todo, sem dúvida alguma seus mais ferrenhos adversários se preocuparão seriamente, pois terão de medir forças seguida, e não esporadicamente pelos 40 min da cada partida dentro de sua área defensiva, com desgastes em faltas e enfrentando arremessos mais precisos pela proximidade da cesta, através alas pivôs rápidos, ágeis e atléticos, alimentados por armadores agindo como tal, e não pontuadores de longa distância, assim como, com formações dinâmicas em constante movimentação, dinamizando sistemas defensivos combativos, antecipativos e inteligentes nas leituras conjunturais do jogo…
Os primeiros passos foram dados com a adoção permanente da dupla armação, e a escalação de uma trinca de alas pivôs de grande mobilidade ofensiva e defensiva, sem os exagerados arroubos das bolinhas salvadoras e midiáticas. E nesse ponto fica bem clara a falha convocatória, onde alguns nomões ocupam vagas de jogadores mais bem equipados tecnicamente que aqui ficaram, para exercer essas novas perspectivas com muito mais talento do que alguns que lá estão, inclusive visivelmente imaturos para uma competição desse calibre, pois renovação é algo muito sério, e que deve ficar ao largo de influências midiáticas e ufanistas…
Na continuidade somente um problema preocupa de verdade, a diminuição na rotatividade da equipe, onde fica bem patente o grande fosso que divide experiência e imaturidade, tornando um pouco mais difícil a transição do como jogávamos, para o que ensaiamos mudar, num salto desafiador que custamos tanto tempo para enfrentar…
Muito bem Paulo, o que fica faltando então? Alguns pontos importantes, como defender os monstruosos pivosões pela frente, radicalmente pela frente, cortando os passes diretos aos mesmos, obrigando a lateralização, com substancial perda de preciosos segundos de ataque. Mais trocas e cruzamentos (até aleatórios) dos alas pivôs dentro do perímetro interno, deslocando permanentemente os altos defensores, que é o fator mais importante na construção de espaços naquela zona chave para as defesas. Hierarquizar os posicionamentos nos rebotes defensivos, onde uns bloqueiam os atacantes e outros capturam a bola, e nos de ataque, tendo sempre um mínimo de dois na disputa aérea, sempre. Como vemos, pouco falta para realmente mudarmos, para bem melhor, nossa forma de jogar o grande jogo, como deve ser jogado na busca da maior precisão possível, antítese da chutação anárquica e desenfreada, onde o fator contraditório é exatamente a imprecisão…
Torço pela afirmação das mudanças, que se aceitas por todos (inclusive os assistentes técnicos que lá estão, adeptos ferrenhos da farra dos 3…) constituirá o grande passo que teimamos a décadas, em não dar, e talvez calarei meus rogos pela adoção, ou adaptação do mesmo, defendido, estudado e aplicado por mim em todas as equipes que orientei, da base a elite por mais de 50 anos, porém afastado pelo corporativismo defensor da mesmice endêmica que aí está, mas jamais calado nos técnicos e indignados artigos publicados nesse humilde blog, atuando ininterruptamente a 15 anos, o Basquete Brasil…
Quem sabe um croata consiga romper essa muralha, espero que sim…
Amém.
Fotos – Reproduções da TV.
Sua análise é um espetáculo, como sempre. Parabéns!!!
Obrigado, prezado Marcelo, mas espetáculo mesmo seria a retomada técnico tática do basquetebol brasileiro, tão necessitado de novos ares, de novas concepções de jogo. Oxalá consiga. Um abraço.
Paulo Murilo.