A TRANSIÇÃO DE CARTAS MARCADAS (From Firenze)…
(…) Entretanto tem um fator que chama a atenção nas seleções sub-21 e sub-17 masculina: a busca por treinadores que trabalham com o adulto. Essa mudança parece pequena, mas está sendo de uma importância para que esses garotos peguem o ritmo de treino e de trabalho tático da seleção adulta, facilitando assim a transição desses atletas no futuro.
Para o treinador Léo Figueiró, “são essas iniciativas e o esforço também que a CBB vem fazendo para cada vez mais melhorar as estruturas das seleções, que são importantes para que o Brasil volte a revelar jogadores”. (…)
Daqui dessa distante e bela Firenze, pesco esse trecho de uma matéria publicada no site da CBB em 9/12/19, que muito explica e pouco esclarece a verdadeira situação em que se encontra o basquetebol brasileiro no seu ponto mais nevrálgico, a formação de base, que, ao dar caninamente seguimento aos exemplos emanados pela elite da modalidade, usuária do sistema único de jogo, implantado a mais de duas décadas por um grupo de técnicos atrelados e comprometidos sistemicamente ao basketball americano praticado na NBA, com seu jogo altamente individualizado e duelista, onde o 1×1 prevalece por sobre o coletivismo somente aceito quando concluído de fora do perímetro, e onde os fundamentos do grande jogo se tornam a pedra angular de todas as ações ofensivas recorrentes do preparo superior de seus jogadores pela formação colegial e universitária, mil furos acima da nossa praticamente inexistente escola básica ( já a tivemos muitos anos atrás em grande quantidade, hoje restrita a poucos remanescentes daquela era de grandes formadores), tornando-nos altamente fragilizados pelo quase total desconhecimento dos fundamentos necessários para a consecução do sistema adotado, originando a preferência pelos longos arremessos, incentivado também pela quase completa ausência defensiva fora do perímetro, outra herança da péssima e quase inexistente formação de base no basquetebol tupiniquim…
Chegar e chutar, defender flácidamente, atacar atabalhoadamente e sem estratégia de jogo, num “vamo que vamo” institucionalizado e lastreado por jogadas de ocasião, geralmente desenhadas numa prancheta oportunista e midiática, compõem nossa realidade na elite, e que se espraia na formação como exemplo a ser seguido, e que agora se instalara nas seleções de base com o argumento de que “ esses garotos peguem o ritmo de treino e de trabalho tático da seleção adulta, facilitando assim a transição desses atletas no futuro”, daí a preferência de técnicos de equipes adultas para “prepará-los”, quando a etapa fulcral para todos eles seria a de “formá-los” para algo novo e criativo, a fim de que pudessem adquirir técnicas individuais e coletivas realmente inovadoras, proprietárias, incentivando os demais jovens a os seguirem, mudando de vez a mesmice crônica que nos esmaga e humilha, pois somente evoluiremos no momento em que implantarmos uma nova e totalmente diferenciada forma de jogar o grande jogo, pois se seguirmos na corrente do que “ todos fazem”, continuaremos inferiorizados ad perpetuam…
Técnicos de equipes adultas brasileiras estão, todos, comprometidos com o sistema único de jogo, que consideram o mais vantajoso e vencedor, esquecendo que os países que o adotam estão muito a frente na preparação de base, e que muitos deles já adotam outras soluções técnico táticas, principalmente os europeus, e ironicamente agora, os americanos também. Ao teimarmos na preparação vigente de base, espelhada pela realidade de nossa “elite” de estrategistas, estaremos contribuindo cada vez mais para um retrocesso que, certamente não terá volta, pelo menos a médio longo prazo, e facilmente testemunharemos os resultados nas futuras competições internacionais de peso real, de que participaremos em breve…
Seleções de base exigem professores e técnicos com longa experiência, na formação e na elite também, e que se sobressai pela real qualidade de seu trabalho, principalmente no trato e orientação de jovens, respeitando pelo conhecimento, seus ritmos evolutivos técnicos, mentais e sociais, fatores que geralmente divergem de jovem para jovem, diferenciando evolutivamente seus ritmos de amadurecimento e técnicas individuais…
Enfim, dificilmente técnicos de adultos, principalmente em nossa realidade técnico tática, estão aptos para a formação de base, pois, com muito poucas exceções, possuem longa experiência na função, principalmente se considerarmos a premente e urgente necessidade de mudarmos de verdade, radical e profundamnte a nossa forma de jogar o grande jogo, a nao ser que aceitemos de forma definitiva a posição de coadjuvantes permanentes no cenário do basquetebol mundial, numa posição antagônica a que exercemos no século 20, quando ocupamos a terceira posição no concerto mundial…
Mudar não é somente preciso, é fundamental, e somente mudaremos quando efetiva e decisivamente mudarmos nossa forma de jogar o grande jogo, o resto é conversa fiada de quem não quer nem deseja largar o osso num mercado restrito e corporativista como o nosso, infelizmente…
Amém.
Fotos – Arquivo pessoal e reprodução da TV.