80 ANOS…
“NBB, vocês nunca viram nada igual!!”, é o que ouço ao sintonizar o computador depois de longos dias de afastamento proposital (logo logo desliguei, pois era uma pelada descomunal), desde um dantesco jogo ao início da temporada, Paulistano e Pinheiros, quando ambos massacraram o jogo com 25/68 bolas de três pontos e 30/57 de dois, somados a 24 erros de fundamentos básicos, numa demonstração do que deveríamos aguardar dali para frente. Porém, um pouco mais adiante tentei um outro jogo, Paulistano e Mogi, sendo premiado com 30/71 de tirambaços de três e 34/61 de dois, coroados com 32 erros de fundamentos. Então, frente a tanto descalabro, resolvi dar um tempo do “vocês nunca viram nada igual”, para me debruçar sobre os escritos do tão prometido livro, e por alguns vídeos que guardo de jogos de verdade, do bom e excelente grande jogo, na tentativa de tentar compreender os porquês de tanta insanidade, e por que não dizer, burrice institucionalizada…
Tento buscar na mídia especializada alguma explicação ou posicionamento a hecatombe por que passa o grande jogo em terra tupiniquim. Engraçado, para a mídia todos os jogos são “jogaços”, enterradas e chutação de três demonstram nosso avanço técnico, todos ansiando por “prorrogas” sensacionais, fatores que segundo suas opiniões encantam os torcedores (cada vez mais escassos nas quadras, e porque lá irem se “todos”os jogos agora são vinculados pelas TVs e Internet, numa maciça avalanche de lamentável mediocridade ), levando-os a emoções incontidas, mas claro, sem uma palavra sensata e esclarecedora sobre as técnicas do jogo, as fundamentais e as táticas, pois decididamente não as conhecem, a tal ponto que moçoilas apresentadas ontem ao jogo desfilam opiniões abalizadas que levam ao riso, de tão vazias e desmioladas que são. No entanto, lá pelas tantas me deparo com uma entrevista do Fábio Balassiano com o CEO da LNB, o Sergio Dominici, talvez o único dirigente da liga com quem tive alguma proximidade, em duas ocasiões bem marcantes, a primeira durante o Congresso de técnicos após o NBB2 em Campinas, quando num dos intervalos das palestras tentou me aconselhar a me desfazer do blog Basquete Brasil, que naquele ano fazia 6 anos de intensa produção, por considerar que o mesmo era incompatível com a minha posição de técnico de uma das equipes participantes, o Saldanha da Gama, no que o fiz entender de que em hipótese alguma o faria, pois se tratava de uma publicação eminentemente técnica voltada aos jovens que se iniciavam na direção de equipes, principalmente na formação de base, o que ocorre até os dias de hoje, 15 anos após sua criação, e cujo nome ostenta hoje o logotipo da CBB. A segunda, no encerramento da primeira temporada da LDB, quando no ginásio do Tijuca me convidou a entregar o troféu de melhor técnico ao Paulo Chupeta do CR Flamengo, campeão daquele torneio. Duas situações díspares, que explicam um pouco um incoerente posicionamento da liga sobre meu trabalho, posteriormente brecado de forma definitiva e sem maiores pudores, ao qual alcei por mérito, e não Q.Is político esportivos. Quem sabe um entrevero que mantive com um parente bem próximo de um ministro do esporte na época olímpica, através artigos e comentários aqui nesse humilde blog (*), ministro este responsável pela liberação de grande verba para a consecução da LDB, poderia lançar alguma luz a cavernosa escuridão e afastamento a que fui castigado dali em diante na direção de qualquer equipe da liga, e disso tenho a mais absoluta certeza, mesmo sendo apontado por inúmeros blogs como o melhor técnico daquela temporada, dirigindo o Saldanha por apenas 11 jogos, quando inovei de verdade uma forma de jogar o grande jogo diametralmente oposta ao que praticavam de forma padronizada e formatada todas as demais equipes daquele NBB2 (e que continuam hoje a jogar em sua maioria da mesma pasteurizada maneira), forma aquela que tentam copiar a dez anos, sem o brilhantismo, correção e precisão daquela humilde equipe despojada de nomões, verbas e apoio de peso, e os vídeos aqui estão para provar (acessando o título Multimídia na listagem ao lado, sendo o primeiro veículo na grande rede a disponibilizar jogos integrais daquela competição, hoje universalizada)…
Voltando a entrevista, sem dúvida alguma temos de concordar que administrativa e gerencialmente a LNB evoluiu bastante, apesar da discutível associação com a NBA, que nada soma ao nosso basquetebol ( a não ser os largos interesses comerciais das grandes marcas que patrocinam a grande liga), pelas abissais diferenças sócio, político econômicas que nos divergem da potência hegemônica do norte, assim como o enxame de estrangeiros que preenchem as franquias, cada vez mais fracas técnica, tática e estrategicamente frente às nossas reais necessidades de um trabalho de base mais objetivo e abrangente, para a implantação de formas diferenciadas de jogar o grande jogo, o que provei na teoria e na prática 9 anos atrás com sobras, e não repositório de americanos de terceira categoria, e argentinos, alguns bons, que aqui estão pela depreciação de sua moeda frente a nossa (desfalcando as grandes equipes dos hermanos e fortalecendo as nossas com vantajosos resultados quando se defrontam), também enfraquecida frente ao poderoso dólar…
De que adiantam majoretes capengas, lançamentos de brindes, em arenas, como a depenada carioca 2, e outras minúsculas, com mais minúsculas ainda presença de torcedores, mesmo com a frequência gratuita, quando ainda alimentamos jogos com torcida única, ansiamos por equipes de camisa com seus torcedores brutalizados pela realidade futebolística, trazendo-a para os ginásios, para “apreciarem” um basquetebol da mais péssima qualidade técnico tática, porém “repletos de emoção”?…
Faltou na boa entrevista do competente CEO o depoimento que verdadeiramente interessa ao basquetebol nacional, a fundamental e decisiva guinada em sua forma de planejar, estudar, pesquisar, ensinar, preparar e treinar seus jogadores, da base a elite, através professores e técnicos bem formados, e não entregues a fisioterapeutas, fisiologistas, ex jogadores destituídos de qualquer formação didático pedagógica, formando atletas corredores, saltadores e trombadores que pouco ou nada dominam os fundamentos do jogo, ferramenta essencial para a consecução dos sistemas ofensivos e defensivos do jogo, na busca de uma identidade somente sua, proprietária, audaciosa, criativa, e acima de tudo inovadora para, frente a globalização a que está submetido e até certo ponto subjugado por uma padronização e formatação quase que absoluta, sair dessa mesmice crônica, doentia e cansativa, responsável pela ausência das quadras de todos aqueles que realmente amam. conhecem e entendem o grande jogo em sua essência e real importância, e não esse pastiche anacrônico, equivocado e pessimamente copiado do que ele apresenta de pior, principalmente lá de fora, e as futuras competições internacionais de peso mostrarão a dura realidade que nos esmaga. O basquetebol brasileiro necessita com urgência de muita técnica, de técnicos realmente competentes e profundamente preparados, principalmente na formação de base, e não prospectos fabricados e midiáticos…
Na semana passada fiz 80 anos, cercado pela família, grandes amigos de fora e dentro das quadras, numa festa inesquecível, e que lá pelo meio da mesma um ex atleta me perguntou o que mais desejaria ainda nesta vida, depois de tudo que conquistei com muito trabalho e estudo? Respondi sem pestanejar – Recomeçar de onde covardemente me pararam, não permitindo que trabalhasse uma temporada com princípio, meio e fim, e as demais dali em diante, mas copiando mal e infantilmente o que propus (claro, sem qualquer menção autoral) demonstrei e provei durante 49 dias, após mais de 50 anos de quadra, sem saberem nem como começar, mas repletos de empáfia, arrogância e muito, muito papo furado em midiáticas, risíveis e ridículas pranchetas, que nada dizem, mas que muito importam em auto promoção, no enorme vazio que representam, e onde as poucas exceções comprovam o todo. Gostaria imenso de me despedir enfrentando a todos, ganhando ou perdendo, mas desafiando-os desportivamente lá dentro onde as verdades verdadeiras acontecem, ganham vida e representam o cerne do grande jogo, que deveria ser jogado com a dignidade dos que inovam para irem além da mesmice abjeta em que se encontra…
Sei e reconheço a impossibilidade, pois não acredito que tenham coragem para fazê-lo, pois morrem de medo do que é novo, instigante, do que dá muito trabalho estudando, pesquisando, quando seguir a onda é mais confortável e seguro dentro do nicho em que se encastelaram desde sempre, e que se dane o basquetebol nacional. Tive de responder a pergunta com a honestidade que caracteriza de forma indelével o meu caráter.
Amém.