O ROTO E O ESFARRAPADO…

Carlos Nunes

Se uma quarentena forçada já é dura de ser enfrentada, imaginem ocupá-la integralmente com atividades que valham realmente a pena de serem vivenciadas, ainda mais quando se tem 60 anos de trabalho incessante na área da educação, do desporto, e do jornalismo no recente campo da internet, numa busca profunda e honesta por uma cultura tão vilipendiada nestes tempos obscuros e retrógrados…

A leitura, a boa leitura tem um boa fatia no vasto tempo disponível, e por conta dessa incurável curiosidade, baixei no Kindle um livro anunciado no blog Bala na Cesta, com o sugestivo título “Do Fundo da Quadra – As aventuras de um playboy inconsequente”, de autoria de Rafael Hughes, filho do ex presidente da CBB, Carlos Nunes, personagem recente de triste memória no universo do grande jogo…

Baixado no laptop, ao preço de 19,02 reais, fomos a leitura, direta em suas 200 páginas, numa linguagem canhestra, íntima e profundamente lamentável, não pelo terrível conteúdo, cuja veracidade beira a uma realidade conhecida e espantosa, acrescida do detalhamento de quem a viveu direta e intensamente, e sim pela forma vingativa e desequilibrada em fazê-lo, confirmando com sobras os efeitos advindos do uso confesso, constante e sistemático da cannabis sativa, companheira inseparável de um mais confesso ainda playboy inconsequente…

Se por um lado, a narrativa se espraia por sobre ações e atitudes equivocadas e perniciosas, formuladas e praticadas por pessoas que, segundo o autor, seriam despreparadas e politicamente alocadas em cargos técnicos por um pai mais despreparado ainda, que acabou levando a CBB a um fosso até hoje ainda não transposto totalmente, por outro, ao situar-se no âmago desse organismo corrompido por interesses escusos e de um corporativismo exemplar, locupletando-se como um auto reconhecido inconsequente playboy, no usufruto de benesses e ganhos provenientes de seu peculiar status de “filho do presidente”, muito mais criticado do que aceito pelo mesmo, por ações diretivas pautadas, ora por comportamentos reconhecidamente reprováveis, ora por acertos administrativos, sob sua ótica particular, quase sempre apaziguado e direcionado pelo uso tranquilizador da erva queimada…

Meus deuses, a quanto chegamos, quando cavamos um poço cujo infindável fundo se situa no esfumaçado córtex de um playboy que termina seu bestialógico documento afirmando que, sob seu comando técnico e de seu irmão, teríamos sido campeões olímpicos, não aceitação e reconhecimento esse por parte de um pai “ingênuo e cabeça dura”, voltado ao mantenimento do poder ao preço politico econômico que fosse, inclusive a negação da genialidade filial, agora premiado com o reconhecimento literário de um deles, um roto descrevendo um esfarrapado, chapado, ou não…

Meus deuses. 

Fotos – Divulgação CBB.



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