DIAS MELHORES…

Eis-me de volta a dois dias do fechamento desse tenebroso 2020, que se os deuses ajudarem, será substituído por um 2021 pleno de esperanças e recuperação da saúde física, mental e econômica de um povo sofrido e maltratado por um governo ignóbil e criminoso, porém democraticamente eleito pelo mesmo, que espero tenha aprendido a diferenciar o joio do trigo de uma vez por todas…

Tenho tentado acompanhar o NBB, mas o sacrifício é enorme pelo descalabro em que tornaram o grande jogo praticamente irreconhecível, pois dói, e muito, assistir um descerebrado corre corre, com arremessos insanos de fora, trombadas por dentro e uma média de erros de fundamentos de 28 por partida, complementados pela mais comezinha ausência defensiva, hoje trocada por “faltas estratégicas e inteligentes”, emoldurando um quadro aterrador, onde três, e até quatro estrangeiros (americanos meia boca em sua maioria), ouvem com ar blasé as perorações “altamente técnicas e estratégicas”, esboçadas em pranchetas de araque, para logo após se reunirem combinando ações próprias deflagradas pelo “extraordinário” sistema de 5 abertos, matreiramente escolhido pelos estrategistas de plantão, por se basear sequencialmente no 1 x 1, fator “mamão com açúcar” para os gringos se esbaldarem, lembrando suas históricas peladas em parques espalhados em suas maiores cidades, e no meio dessa espantosa empulhação, um punhado de bons armadores argentinos, que aos poucos vão aderindo a loucura geral, principalmente pela ausência de uma liderança técnica que estabeleça sistemas e comportamentos coletivistas, que é o mínimo que se espera de uma equipe bem treinada e orientada, e mais, devidamente ensinada no trato com os fundamentos, e exemplarmente, no trato com o instrumental básico do jogo, a até agora massacrada bola…

Toda essa parafernália enaltecida aos berros histéricos de narradores absolutamente ignorantes do que se passa nas quadras, confundindo e enganando espectadores que ainda amam o grande jogo, não esse ai, onde comentaristas falam e falam sem explicar uma linha sequer do que venha a ser um jogo bem jogado, mas pródigos em beijos, abraços e lembranças de ouvintes que não estão nem aí para o que veem, na medida que se sintam reportados e lembrados na telinha…

Por tudo isso rareia em mim a vontade de assistir a uma pelada profissional apresentada como o “NBB como nunca se viu”, e não vi mesmo, pois sou de um tempo em que jogavamos, e venciamos praticando basquetebol, e não esse pastiche de terceira categoria que aí está…

Oito anos atrás publiquei o artigo Um tiro no pé, que reproduzo a seguir, e onde podemos constatar que nada, absolutamente nada mudou de lá para cá, numa antevisão do horror que conseguiram, os estrategistas de plantão, implantar no que há de pior e retrógrado no grande jogo em nosso país, carente e empobrecido de criatividade, espontaneidade e improviso consciente, e não essa coisa pasteurizada, formatada e padronizada, por quem, na triste realidade, odeia o grande, grandíssimo jogo, por não o entender em sua essência e genialidade. Eis o artigo, com o qual desejo aos poucos que aqui ainda se preocupam de verdade, um próximo ano repleto de esperanças em dias melhores, com muita saúde e paz no coração.

Amém. 

O TIRO NO PÉ…

sexta-feira, 22 de junho de 2012 por Paulo Murilo5 Comentários

Meus amigos, do que adianta defender uma tese provada no campo de jogo por anos e anos, de que de dois em dois pontos podemos vencer jogos, atingir contagens elevadas, defender com mais precisão, agilizar tanto o jogo interior, como o exterior, dotar os jogadores do poder decisório em quadra, item tão temido por tantos técnicos, por aprenderem e apreenderem a arte da leitura de jogo, por sedimentarem no dia a dia dos treinos os fundamentos do jogo, ferramenta visceral para a execução dos sistemas ofensivos e defensivos, pela aprendizagem ao diálogo sobre o que treinam e jogam, entre si, e com seus técnicos, numa mútua relação de confiança, respeito e consideração, professando uma autêntica dupla armação, e uma corajosa e diferenciada ação interior através uma tripla utilização de alas pivôs, rápidos, ágeis, flexíveis, e acima de tudo plenamente participantes do jogo, e não coadjuvantes de uma interminável hemorragia de arremessos de três pontos, que tanto empobrece nossa autofágica maneira de jogar o grande jogo.

Foi o que ocorreu, pela milionésima vez no jogo com a Venezuela, quando de dois em dois pontos endurecemos um jogo perfeitamente ao nosso alcance, para numa falha sucessão de bolinhas de três, propiciarmos contra ataques venezuelanos que esticaram o placar além dos 20 pontos.

E o que dizer do jogo da Sub 18 contra os americanos, que jogaram dentro de nós, enquanto treinávamos a pontaria de fora, sem falar na brutal diferença na postura fundamental de seus jogadores, frutos de uma escola que nos negamos a praticar, trocando um tempo precioso de formação por formatações e padronizações de sistemas de jogo, numa opção equivocada e absurda.

Senhores, utilizar uma dupla armação adaptada ao sistema único é praticamente um tiro no pé, pois retira do foco da ação exterior um dos armadores, que ridiculamente vai executar bloqueios dentro do garrafão, e de encontro aos grandes pivôs, enquanto seu companheiro de armação se vira sozinho e sem balanço defensivo presente, além de somente poder contar para uma jogada incisiva com um dos alas, claramente inferiores nos fundamentos básicos de drible e passes, pela ausência do outro armador. O resultado se reporta aos passes de contorno, num crescendo inócuo e destituído de penetração aos pivôs, que por conta de uma movimentação sagital se postam de costas para a cesta, quando deveriam atacá-la de frente e em veloz movimentação, situando-se dessa forma um tempo adiante dos defensores, que é a arma mais letal para superá-los.

O que poderia dizer ou acrescentar a mais, frente a resultados tão medíocres por repetitivos, e tão solidificados por padronizações e formatações?

Nada, se frente a uma realidade imutável, sólida e corporativista.

Tudo, se uma fresta, por tênue que fosse, de repente, se abrisse para algo de novo, iluminando caminhos abertos pelo diálogo, pelo trabalho conjunto daqueles que realmente conhecem e amam o grande jogo, e que comungassem princípios e conhecimentos entre jovens e veteranos técnicos e professores, no reencontro de um destino rompido e violentado pela mesmice endêmica que tem ferido de morte nossa maior riqueza, a criatividade inata de nossos jovens, enclausurada que se encontra nos limites de uma lamentável prancheta.

Mantenho uma contida esperança, de que nossa seleção olímpica possa vir a romper alguns desses grilhões, apresentando um jogo voltado ao perímetro interno, através um pleno domínio no externo, equilibrando ações voltadas ao coletivismo defensivo e ofensivo, onde arremessos de media e curta distância, mais precisos e eficientes, se sobreponham definitivamente às aventureiras bolinhas, lastreado por um sistema defensivo ousado e corajoso, base verdadeira de uma equipe de alta competição. Que assim seja, torço e espero.

Amém.

Foto-Divulgação CBB. Clique na mesma para ampliá-la.

EM TEMPO- Agora,  oficialmente na America do Sul, estamos em quarto…

5 comentários

  • Rodolpho
  • 25.06.2012
  • Professor, apesar de ser um pessimista (ou realista) com relação à Seleção Brasileira, duvido muito que o Magnano repita os erros da seleção no sul americano.
    Mesmo desfalcada, a seleção marcou muito bem e foi contida nas bolinhas durante o pré-olímpico. A tendência é melhorar o que deu certo, principalmente com a chegada dos reforços da NBA, que entram em vagas de jogadores sem condições técnicas ou táticas de disputar uma posição decente em Londres.
    Obviamente o nível dos adversários será muito superior, mas nossa seleção tem bons nomes (quantas seleções tem um garrafão do nível de Nenê/Varejão/Splitter?), o que me leva a crer que podemos chegar nas quartas de final sem sermos taxados de azarões.
    Pra um país com um campeonato nacional novo (4 anos) e de nível tão baixo, com a maior parte dos seus participantes ainda em nível amador, além, é claro, da vergonhosa situação das categorias de base, ficar entre os 8 primeiros do mundo é um prêmio a cada atleta e membro da comissão técnica, que, mesmo sem apoio da CBB (muitas vezes com a confederação atrapalhando) conseguirão chegar a Londres numa condição privilegiada.
    E quando o Brasil chegou entre os 8 melhores de um Mundial ou Olimpíadas?
    E quando o Brasil chegou entre os 8 melhores de um Mundial ou Olimpíadas sem depender de milagres do Oscar (as vezes com Marcel)?
    Faz muito, muito tempo.
    Espero que o sucesso nas Olimpíadas (acredito nisso plenamente) não seja usado como mérito da CBB, pois não será. Será tão e somente mérito de cada jogador (e sua família) que sabe o que é conseguir chegar no nível mais alto do esporte sem apoio algum de sua pátria. E ainda sim criticado quando (realmente) não pode participar de alguma competição.
    Professor, poderemos vê-lo comandando algum clube num campeonato estadual adulto esse ano???
  • Basquete Brasil
  • 25.06.2012
  • Não esquecer as três medalhas olímpicas de bronze (Londres, Melbourne e Toquio), e os dois mundiais no Chile e Rio de Janeiro, todos conquistados pela geração que antecedeu a do Oscar, prezado Rodolpho. Não esquecer também que a FIBA relacionou o Brasil como a quarta potência no Basquetebol do século 20, somente atrás dos Estados Unidos, União Soviética e Iugoslávia.
    Sim, já fomos referência mundial no grande jogo, condição perdida pelas absurdas e criminosas gestões na CBB dos últimos 25 anos.
    Muito será o trabalho para o soerguimento do basquete no país, e quem sabe um bom papel em Londres ajude nesse esforço.
    Um abraço, Paulo Murilo.
  • Basquete Brasil
  • 25.06.2012
  • EM TEMPO – Rodolpho, não respondi a sua pergunta feita ao final do comentário – “Professor, poderemos vê-lo comandando algum clube num campeonato estadual adulto esse ano???”
    Mas o faço agora.
    Somente me verão dirigindo uma equipe em qualquer campeonato, municipal, estadual ou nacional, se for convidado, o que duvido muito que aconteça. Relatar treinamentos e jogos visando um maior conhecimento por parte dos jovens técnicos brasileiros, como fiz ao dirigir o Saldanha da Gama no NBB2, através relatos diários no blog, mantê-lo atuante e combativo ano após ano; propor na teoria e na prática intensa, novos caminhos técnico táticos para o nosso basquete; lutar com denodo pela urgência de um associativismo por parte dos técnicos de forma ampla e irrestrita; contrariar interesses de Cref’s e entidades que monopolizaram e lotearam o desporto nacional, minimizando e quase extinguindo o esporte como parte integrante do processo educativo nas escolas, canalizando toda uma juventude para os corredores e salas de mega academias; se negar a deixar de escrever e publicar nessa humilde trincheira em troca de possíveis colocações no mercado de trabalho; tudo isso são os reais fatores impeditivos ao meu exercicio profissional de técnico de basquetebol, apesar de muito necessitar economicamente do mesmo, face ao grande dispêndio financeiro que passei a enfrentar quando da quase perda de minha casa num processo espúrio e criminoso, além da conceituação de velho e ultrapassado, que é o estigma por que passam os profissionais acima dos setenta anos, independendo de sua formação e qualificação, neste nosso injusto e cego país.
    Mas sigo em frente, atuante e atento ao mundo que me cerca, pleno de esperanças e fé em dias melhores para todos nós que amamos o grande jogo.
    Não, prezado Rodolpho, me verem em quadra de novo é assunto proibido, pois dependeria de quem, assim como eu, propugnasse por algo antagônico ao que ai está. Logo…
    Um abraço, Paulo Murilo.
  • Rodolpho
  • 27.06.2012
  • Professor, o basquete há de pregar uma peça na gente (como a vida sempre faz) e muitos que querem o bem do jogo não esperam a hora de te ver no seu lugar, que é no comando de alguma equipe com estrutura decente.
  • Basquete Brasil
  • 27.06.2012
  • Amém, prezado Rodolpho, amém.
    Paulo.

A SÍNDROME DOS 40…

E aí fulano, 42% nos 3 é bom? Claro, beltrano, é um número muito bom para bolas de 3 pontos, que aliás, é uma marca registrada dessa grande equipe…

Legal. formidável, encorajador para os mais jovens se iniciarem nesta autofagia desenfreada e tosca de um basquetebol absurdo e capenga. São comentários deste quilate nas transmissões de um “NBB que você nunca viu”, os também responsáveis pela “pelada descomunal” em que estão selando o infausto destino deste infeliz e mal jogado ex grande jogo entre nós, e sem contar os outros números que já ultrapassam os 40 erros em uma só partida, como Minas 105 x 100 Brasília, onde ambos os contendores perpetraram 20 erros cada, ou 40 atentados contra os fundamentos num único jogo. Mais algumas rodadas e outras mais equipes deixarão essas marcas para trás, com certeza, pois a insânia não tem freios, ainda mais com as incendiárias pranchetas os comandando (ou tentando comandar)…

Vamos aos números “ideais” dos comentaristas, 40% para bolas de 3, ou seja, se a equipe acertar 4 em 10 tentativas, estará OK, e aí me pergunto, e as outras 6 tentativas, ficam no vazio? Mas como nunca arremessam menos do que 20 (algumas equipes vão além dos 30), o número de ataques falhos cresce matematicamente, e se for emulada pelo adversário (os famosos duelos), aí a coisa ( ou o simulacro de jogo) fica absurdamente ridículo. Somemos ao despautério os imperdoáveis números de erros de fundamentos, e teremos o que em forma de jogo, o que? Isso mesmo, uma enorme e condenável palhaçada, aplaudida e incensada como obra da mais alta emoção, vibração, e por que não ENGANAÇÃO, o termo correto, sem dúvida…

Dos 40 anos muitos jogadores já se aproximam, ou mesmo superam, fazendo a mesma coisa, ano após ano, sem que ninguém os corrijam, ou pelo menos tentem corrigir, já que prontos e polidos, amestrados posicionalmente de 1 a 5, bitolados, formatados e padronizados pelo figurino corporativista de seus estrategistas, voltados aos títulos e currículos, todos remando um barco de timão rompido, volteando num moto contínuo que não leva a lugar nenhum, numa mesmice endêmica e letal…

Mas que chutam e chutam como ninguém, de longe, muito longe, onde a mecânica não importa se as bolinhas caem (comentário feminino de ontem), pegas corretas então nem falar, são detalhes supérfluos, pois com a profusão crescente de tentativas uns 40% de vez em quando premia vitórias retumbantes, porém com um detalhezinho “esquecido”ou não mencionado por ignorância mesmo, o de não serem contestadas, não em 40%, mas sim em 90/100%, vamos falar a verdade, o óbvio ululante!!!…

Ninguém vem marcando ninguém de a muito tempo, tapeiam, enganam, fazem faltas estratégicas, usam os braços, quando as pernas são a base de qualquer defensor bem treinado, logo escolado na função defensiva, que é o fundamento mais importante do grande jogo. Porém lá na frente metem pra valer, ou pensam que metem, até se defrontarem com equipes argentinas e europeias (já nem menciono as americanas para não parecer covardia), e aí nem os 40% atingem, com as desculpas de que não era o dia ou simplesmente “hoje não caíram”…

E os 60% de bolas perdidas (só as de arremessos de 3, noves fora os erros de fundamentos), por que não trocadas pelas de 2 pontos, muito mais precisas, porém exigentes na aproximação, impossíveis sem o domínio dos fundamentos básicos, nosso criminoso tendão de Aquiles, olvidando gerações passadas que o dominavam, hoje enviados ao limbo das impossibilidades por não ensinados como deveriam sê-los? Tenho publicado e comentado os incríveis números de cada LDB realizada, com as médias de erros de fundamentos na faixa dos 28 por partida realizada, para mais adiante se ufanarem de uma seleção nacional disputar uma America Cup com a maioria dos jogadores egressos e “formados” na mesma, mas omitindo a liderança de um Caio formado na escola argentina, errando um mínimo aceitável pela idade e experiência. Se o técnico croata, substituir muitos %’s de puxação de ferro por uma extensa e dura preparação nos fundamentos do jogo, passarei a acreditar em melhora substancial do grande jogo entre nós, espelhando para os mais jovens como se deve encarar uma modalidade com princípio, meio e fim, e não se escudando e escondendo deles os princípios básicos do jogo. fazendo-os optar pela artilharia de fora, a correria descerebrada, o faz de conta defensivo, e o mais básico de tudo, a leitura inteligente e de custoso e sacrificado aprendizado, seus fundamentos, sem os quais, jamais jogarão o basquetebol de verdade, e sim um assemelhado desprovido de criatividade e improvisação consciente, pois só improvisa quem sabe, quem conhece e domina o grande, grandíssimo  jogo, aquele que marcará indelevelmente suas vidas, claro, claríssimo, se bem ensinado e treinado, como sempre deveria ser, para um percentual mínimo de 70%, pelo fundamento que for, e não os 40% trombeteados e deificados por aqueles que não tem a menor noção do que ele representa na cultura desportiva mundial…

Amém.

Fotos – Reprodução da TV e arquivo particular.