O ORGÁSTICO PRANA…

O que importa rebote posicionado, sistema organizado, se sou um especialista…

Num determinado momento do último quarto do jogo, técnico e assistente se entreolharam sorrindo, com o júbilo transparente nos olhares, pois enfim, atingiam o orgástico prana de suas convicções sobre e para o grande jogo, que dali para diante, não seria mais o mesmo neste imenso, desigual, e injusto país, pois acabavam de provar sua exequibilidade tática e estratégica, sobre uma forte seleção (porém ausente) em sua própria casa…

Os números finais não podem deixar ou originar dúvidas, ei-los –

Brasil  102  x   56   Mexico

                                (83,3)  15/18   2    15/43  (34.8)

                                (50.0)  20/40   3     5/25   (20.0)

                                (75.0)  12/16   LL  11/15  (73.3)

                                             44       R      30

                                             13       E        8

Na somatória das duas equipes obtiveram-

                                 Nos dois pontos  –  30/61

                                 Nos tres pontos   –  25/65

                                 Nos lances livres –  23/31

                                 Nos erros              – 21

Chutar, chutar e chutar, o novo dogma…

É a provada redenção de um princípio, creem agora dogmático seus executores, que tentam a final escalada desde a era Oscar, na busca do easy basketball, aquele em que dribles, fintas com e sem a bola, passes críticos, bloqueios e cortam luzes, técnicas defensivas cedem seus perdulários espaços ao chega e chuta minimalista, aquele, que segundo essa inculta malta, analfabeta funcional, mudará o jogo, pelo menos entre nós. Ledo engano, pois nos anos sessenta uma outra equipe já o praticava entre nós, o Praia de Uberlândia, que arremessava ao transpor o meio da quadra, e numa época em que a linha de três pontos sequer era cogitada…

Os americanos mergulharam de cabeça seguindo o momento Curry, os europeus nem tanto, porém os asiáticos e pacíficos aderiram de primeira, todos motivados pela indefinição lógica, marcar prioritariamente fora ou dentro do perímetro, com ou sem coberturas, zona ou individual, todas opções que deixam rastros, vazios, indecisões. Porém, perfeitamente contornáveis, mas extremamente trabalhosas nos treinos, nas contendas, nas pequenas, medias e grandes competições, daí o caminho mais factível, o chega e chuta…

Olhem e analisem bem estes dois gráficos, e tentem, com um mínimo de bom senso, aceitar que uma seleção nacional vença a uma outra arremessando 15/18 nos dois pontos e 20/40 nos três. contra 15/43 e 5/25 respectivamente numa partida inteira. Que seleção mexicana é essa que cede os espaços externos, contestatórios, deixando-os absurdamente livres, originando a mais absoluta certeza brasileira de que se todos os seus jogadores arremessassem de fora as bolas caíriam, que foi o que aconteceu com onze deles, que seriam doze, pois o Lucas Dias (logo ele…) não atuou…

Os mexicanos bem que tentaram acompanhar a festança, num 15/43 de dois pontos e 5/25 de três, rigorosamente contestados, porém estendendo o tapete vermelho no contorno externo, exequibilizando o butim, e o mais preocupante, firmando a certeza de que nossa seleção tenha encontrado o velocino de ouro supremo, por contar com doze aspirantes a Curry, ou Oscar, não importando o quem é quem nessa equação difícil de digerir, aquela que desconsidera a arte defensiva do adversário, porém minimamente acreditando em sua própria, mais por vontade, não por técnica fundamental…

São pequenas realidades que não serão encontradas num mundial, numa olimpíada, possuindo ou não doze chutadores de fora, pois bastariam dois ou três especialistas numa equipe com altos índices defensivos e contestatórios para nos vencer, e elas existem, e logo logo as encontraremos…

Da próxima vez que sorrirem ante o milagre (?) dos doze que chegam e chutam, tentem cair na realidade de que do lado de lá possa acontecer um outro milagre, o dos doze que sabem e dominam os caminhos individuais e coletivos da defesa, a arte primal do grande, grandíssimo jogo que dispensam solenemente giocondos sorrisos, daqueles que ouviram o galo cantar e se encontram de bússola na mão tentando encontrá-lo…

Muitos e muitos acreditam neles e seus sorrisos, infelizmente, por força da dura labuta, dos estudos sem fim, e da pedregosa estrada ainda a ser percorrida, sincera e honestamente não acredito. Direito auto concedido aos 83 anos (14/11/1939), e aqui autenticado no Basquete Brasil desde 4/9/2004…

Amém.

Fotos – Reproduções da TV e arquivo próprio. Clique duplamente nas mesmas para ampliá-las. 

A VICEJANTE IMPUNIDADE…

Segundo tempo voltado ao chega e chuta, sem sequer um rebote posicionado

Pouco ou nada tenho escrito sobre basquetebol, principalmente este do NBB, pois, ao se manter sob uma mesmice técnico tática endêmica, absoluta e teimosamente sufragada por técnicos, jogadores, dirigentes, agentes e mídia, sob a égide de um discutível `”basquete moderno”, onde todas as equipes praticam um mesmo sistema de jogo, é de se esperar  que a seleção nacional assim também atue, espelhando fidedignamente o que vem praticando desde sempre nas competições nacionais dos últimos vinte e poucos anos, onde a chutação de três pontos, as majestosas enterradas e os monstruosos tocos passaram a definí-lo como o vencedor objetivo a ser alcançado no cenário internacional, tristemente perdido por uma modalidade desportiva que alcançou a quarta posição entre as nações no século vinte, segundo classificação da FIBA…

Tenho lutado intransigentemente contra esse desmando, principalmente nos últimos dezoito anos de existência deste blog, o Basquete Brasil, hoje alocado logotipo da CBB e recentemente apondo seu nome ao IBB, Instituto Basquete Brasil, remendo da prematuramente falecida ENTB, Escola Nacional de Treinadores de Basquetebol, liquefeita pelo mesmo, mesmíssimo grupo que agora se empodera no IBB, nome por nome, e que bem sei, por larguíssima experiência que não irá muito longe, ainda mais quando se manterá professando o desmando rei, o sistema único, formatado e padronizado para todas as divisões masculinas e femininas, nas áreas municipais, estaduais e nacionais, como dogma absoluto, descerebrado e profundamente destituído de criatividade, e improviso consciente, haja vista o progressivo e asfixiante encordoamento de jogadores manipulados como marionetes, por todo o tempo em quadra, por técnicos/estrelas, ou estrelados, entocados por trás de pranchetas, verdadeiros biombos que os separam de atônitos e muitas vezes incautos jogadores, todos reféns de uma falácia disfarçada de estratégia máxima do grande jogo, aquele que deveria sê-lo, e nao esse pastiche que aí está cercado de ufanismo e ignorância sobre o que ele representa de verdade. Pretendem formar e graduar técnicos por todo o país, tendo ao lado um CREF que não possui qualificações acadêmicas para tal objetivo, pois trata-se de um orgão voltado exclusivamente ao controle ético e funcional dos denominados profissionais de educação física, e mais os milhares de leigos provisionados em cursos de infima duração por todo o país, nada tendo a ver com as licenciaturas e bacharelados obtidos nas universidades reconhecidas pelo MEC em seus cursos superiores de educação física e desportos. Pretender formar técnicos desportivos é função inconstitucional, já que, como cursos superiores pertencem as universidades. Provisionar leigos não acredito ser a forma mais recomendável de didático pedagogicamente implementar o desporto junto aos mais jovens, função para frofessores de verdade…

Os reflexos de tanta insânia se desnudam nas grandes competições, como o torneio de classificação para o mundial masculino, onde a seleção já amargou três derrotas (Porto Rico, México e Colômbia), vencendo uma piada de seleção americana, composta por jogadores desligados das franquias da NBA, e participantes de sua D League, assim como os jogadores brasileiros que são enviados para a matriz como prospectos da mais alta qualidade, num ledo e constrangedor engano, de todos aqueles que se se acham vastos conhecedores do basquete NBA, quando sequer conhecem o do NBB, do país em que professam sua vasta sabedoria…

Vamos aos fatos deste último jogo com os americanos meia, e põe meia boca nisso, e que explica com a maior clareza o imenso óbice em que se encontra o nosso judiado e marginalizado basquetebol. comecemos com alguns números estatísticos

–                    Brasil 58   x  34   USA (Dados do primeiro tempo)

         (69.5) 16/23      2     11/24 (45.8)

         (37.5)   3/8        3       2/13 (15.3)

         (85.0)  17/20     LL     6/8   (45.0)

                          21     R      15

                            4     E        6

                    Brasil 36 x  45  USA (Dados do segundo tempo)

          (50.0)   7/14      2     13/24 (54.1)

          (43.7)   7/16      3       5/13 (38.4)

          (59.0)   1/2        LL     4/7   (57.1)

                           19     R       17

                             8     E         2

                     Brasil 94 x  79  USA (dados finais)

          (62.1)  23/37      2      24/48 (50.0)

          (41.6)  10/24      3        7/26 (26.9)

          (81.8)  18/22      LL    10/15 (66.6)

                          40      R       32

                          12      E         8

No primeiro tempo a equipe brasileira, que sempre atuou com dois armadores (o Benite é um armador de raiz, e bissexto nas bolas de três, nunca uma ala), jogou com seus homens altos, com bom percentual de arremessos de média e curta distâncias (69.5%), numa movimentação intensa, principalmente dentro do perímetro. Arremessou somente oito bolas de três (37.5%), e faturou muitos lances livres (85.0%), deixando defensores americanos pendurados com faltas. Por conta da má pontaria de fora dos americanos (15.3%), bem contestados defensivamente, e pegando 21 rebotes contra 15, pode a seleção nacional terminar os dois períodos iniciais com 24 pontos de diferença, alcançada de 2 em 2 e 1 em 1 pontos, metodicamente…

Nos dois períodos finais, a síndrome longamente implantada no cerne do nosso basquetebol se fez presente, quando arremessamos mais bolas de três do que de dois (a famigerada e já endêmica convergência), e como paramos de jogar dentro do perímetro, arremessamos somente dois lances livres, enquanto a trôpega equipe americana inverteu o papel estabelecido pela nossa seleção, em todos os aspectos do jogo, inclusive seus números, como atesta a segunda tabela acima, ou seja, perdemos esses quartos por 9 pontos, não suficientes para dirimir a vantagem de 24 pontos alcançada no primeiro tempo. São números preocupantes, pois enfrentaremos mais adiante equipes bem mais estruturadas que essa remendada seleção americana , que rotaciona seus jogadores, não somente durante os jogos, e sim em sua convocação que varia conforme as disponibilidades de seus jogadores. Como provavelmente se classificarão, possivelmente poderão contar com alguns jogadores mais graduados da NBA para o Mundial, melhorando significativamente a parte técnica e estrutural da equipe, colocando-a como forte candidata ao título…

A mesmice dos quatro abertos e um pivô lutando sozinho imperou nos quartos finais, com o jogo externo dando as cartas. Veremos se funciona logo mais com os mexicanos…

No próximo jogo contra a boa equipe mexicana, num duelo decisivo para a classificação, teremos boas chances se jogarmos como o fizemos no primeiro tempo da partida contra os americanos, que foi uma mudança técnico tática com excelente resultado, comprometida pela volta ao rame rame que nos têm contemplado com o pior dos mundos, aquele onde a mesmice endêmica, a nulidade criativa, e a ausência da improvisação consciente, marca indelével do coletivismo inter pares, alcançado no duro e minucioso treino, e não no improviso chutador grafado em pranchetas, aquelas que muitos afirmam que falam, mas que garanto serem descerebradas como os que a manejam midiaticamente. Uma grande equipe é formada e forjada no treino, jamais em convescotes, malabarismos e estrelismos de beira de quadra, quadra essa de plena propriedade de jogadores bem iniciados, bem formados, melhor ainda, treinados e acima de tudo proprietários de sistemas diferenciados de jogo, e não repetidores imbecilizados de conceitos equivocados, formulados e impostos de fora para dentro da quadra, impunemente…

Espero que o bom senso baixe por sobre a seleção nesta segunda-feira, senão… 

Amém

Fotos – Reproduções da TV. Clique duplamente nas mesmas para ampliá-las.